banner

 

Domingos Martins de Carvalho

008601
14024
Data da primeira prisão

Antifascista militante, poeta e escritor alentejano, Domingos Martins Carvalho foi perseguido pelo regime da Ditadura durante a Resistência e sofreu prolongados maus tratos na PIDE, mas nunca deixou de se bater pela Democracia e pela Liberdade. Trabalhou, desde muito jovem e arduamente, na área do comércio, tendo começado como caixeiro-viajante, depois como agente comercial. Era um jovem empregado quando participou nas lutas de 1940 contra a fome e pela democracia. Foi então preso com outros camaradas e voltou a ser preso em 1959, desta vez sujeito à tortura do sono e julgado em Tribunal Plenário.
Nasceu em Figueira dos Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, em 1919. Foi criado por uma tia na aldeia de Canhestros. Outra parte da infância e da juventude passou-a no Monte da Vinha, em Alvalade-Sado, tendo sido o mais velho de oito irmãos. Frequentou a escola de Alvalade e as aulas de música do padre local. Foi estudando sempre por correspondência, enquanto lhe foi possível. Em Alvalade não existia escola do ensino secundário e só a vontade persistente de adquirir conhecimentos e de progredir nos estudos lhe possibilitou ir avançando. Depois, viveu em Setúbal, onde manteve contacto com os meios da oposição local e, mais tarde, veio para Lisboa, onde desenvolveu actividade muito empenhada junto do movimento cooperativista, designadamente na Caixa Económica Operária e na Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal.
Em 1951 subscreveu a candidatura de Ruy Luís Gomes à Presidência da República. Em 1957 foi candidato da Oposição à Assembleia Nacional. 
Em 1958 integrou as campanhas eleitorais de Arlindo Vicente e Humberto Delgado. 
Conhecido e respeitado comerciante da Baixa de Lisboa, nunca deixou de intervir em favor do mutualismo, do associativismo, do cooperativismo e das causas mais generosas. Sócio e activista da Casa do Alentejo, integrou os seus corpos gerentes em vários mandatos. Ao longo da sua vida, conviveu com figuras das artes e das letras e esteve ligado aos movimentos sociais e políticos. 
Entregue pela PSP de Setúbal à PIDE em 23-04-42, recolhe à cadeia do Aljube e depois Caxias e Peniche, sendo despronunciado pelo tribunal Militar Especial em 14-12-1942.
Preso de novo em 30-10-1959, "por vir exercendo actividade subversiva", segue para o Aljube e Caxias, sendo libertado em 23-06-1960 após absolvição pelo Tribunal Plenário de Lisboa.
Muito cedo manifestou a sua atracção pela literatura e pela escrita, tendo começado por publicar notícias do quotidiano de Alvalade, aos 14 anos. Mais tarde, publicaria crónicas e contos. Ao mesmo tempo que prosseguia a vida árdua de caixeiro-viajante e, posteriormente, de agente comercial, em Setúbal, depois em Lisboa, colaborava com diversos jornais, sempre entre as malhas apertadas da Censura. Escreveu livros de poesia e de contos onde o seu Alentejo natal ressoa, no seu desalento e na sua esperança. Como escritor, nunca o Alentejo da juventude deixou de estar presente na sua memória. As gentes, a paisagem, o modo de viver, as falas, a dignidade da luta por melhores condições de vida transparecem nos primeiros livros que escreveu, Joio sem Trigo, 1954, Charneca do Monte Agreste (poemas), 1955, e Sementes do Terço (contos), 1956. A denúncia amarga da exploração e opressão a que os trabalhadores rurais, no Alentejo, eram então sujeitos, levou a polícia política a proibir-lhe as obras. Como publicista, até ao 25 de Abril, viu alguns artigos e poemas serem rejeitados pela Censura.
Mais tarde publicou outros trabalhos: «Por Alvalade – O Grito Retumbante da Moirama», em 1995, «Este Livro Por Acaso», 1995; «As Misteriosas Notas Falsas de Alves dos Reis, em Alvalade», em 1995. Em 1998 publicou «Antologia Poética» e em 1999, ainda outros poemas.
Foi homenageado pela Casa do Alentejo, em janeiro de 2015.