banner

 

Alfredo Dias Lima

026663

No domingo, 4 de junho de 1950, realizaram-se em Alpiarça, a pouca distância uma da outra, praças de jorna de homens e de mulheres, reivindicando, respetivamente, aumentos de salário diário de 20$00 para 30$00 e de 10$00 para 15$00 (os homens ganhavam o dobro das mulheres).
Foi sobre as mulheres que os capatazes tentaram agir primeiro, recusando qualquer aumento, enquanto a GNR, a mando dos agrários, logo procurou dispersa-las. Os homens vieram em socorro, mobilizando ainda muitos populares.
A situação agravou-se e a GNR disparou sobre os trabalhadores. Alfredo Ferreira Dias Lima, com apenas 19 anos, filho de Florinda Ferreira Dias e de Domingos de Almeida Lima, recém militante do Partido Comunista Português e que estaria encostado a uma parede, foi assassinado pelo soldado da GNR António Sousa, a mando do sargento Francisco Pires, com um tiro no ventre por uma praça da GNR, vindo a falecer no Hospital de Santarém. Outros ficaram feridos com tiros, nomeadamente Manuel da Silva Piscalho (Manuel Ganacho), Raúl Farroupo Casaca e Angelino Arraiolos.
A PIDE tentou impedir a mobilização popular para o funeral Alfredo Lima, fazendo-o enterrar no cemitério de Santarém, onde apesar disso acorreu muita gente ida de Alpiarça.
A notícia chegou ao Diário de Notícias através de um pronto telefonema de José Faustino Rodrigues Pinhão e ao Século, através de Jerónimo Reinaldo Bernardes (Jerónimo Nazaré), que viriam a ser presos por tal ousadia e o último muito torturado.
Na sequência dos acontecimentos, a GNR reforçou fortemente o seu contingente, fazendo de Alpiarça uma vila sitiada, e a PIDE instalou-se, mais uma vez, na localidade, procedendo à prisão de dezenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais.
O certo é que os trabalhadores conseguiram, ao fim de mais algumas dominicais praças de jorna, o valor reivindicado: 30 escudos para os homens e 15 para as mulheres, o que foi considerado uma grande vitória, embora o preço da féria voltasse a baixar em períodos posteriores.
Um ano após o ocorrido, três militantes comunistas - Francisco Presúncia Bonifácio (Chico Galiza), Chico Matias e Chico do Pombalinho - afixaram no local do assassinato um pano com a inscrição "Rua Alfredo Lima", que seria retirado pelas autoridades ao amanhecer do dia 4 de junho de 1951. Aquele arruamento seria assim rebatizado após o 25 de abril de 1974 e, em 4 de junho, os restos mortais de Alfredo Lima foram finalmente trasladados para o cemitério de Alpiarça.

(Referência ao estudo de Ricardo Hipólito "A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade")