Nasceu em Ferrarias, freguesia de Algoz, concelho de Silves, em 6 de janeiro de 1910, filho de Gertrudes da Conceição e de Nicolau Florentino.
Carpinteiro e ainda a viver na freguesia de Algoz, casou com Rosália da Trindade Cabrita. Posteriormente, já a viver na Cova da Piedade, ingressou na Marinha de Guerra, sendo grumete de manobra do navio Bartolomeu Dias aquando da revolta dos marinheiros de 8 de setembro de 1936.
Preso nesse mesmo dia e entregue pelas autoridades da Marinha à PVDE, foi enclausurado na Mitra, transferido para a Penitenciária dez dias depois e julgado pelo Tribunal Militar Especial em 13 de outubro, sendo condenado a 5 anos de prisão maior celular, seguidos de dez anos de degredo ou, em alternativa, a 17 anos de degredo em possessão de 2. Classe.
Pena pesadíssima para quem não dirigiu a revolta, apesar de ter participado nela, andando armado e ter passado para o navio Afonso de Albuquerque para o sublevar.
Quatro dias depois, a 17 de outubro, António Marreiros embarcou no cargueiro Luanda a caminho do Tarrafal, de onde só sairá em junho de 1953, mas para ainda dar entrada no Forte de Peniche.
Com mais 37 marinheiros que participaram no levantamento de setembro, integrou a primeira leva de presos para o Campo de Concentração, chegando na tarde de 29 de outubro de 1936 – aí permanecendo quase 17 anos!
António Marreiros, que pertencia à Organização Comunista Prisional do Tarrafal, integrou a chamada Brigada Brava, uma criação do diretor do Campo João da Silva e do Seixas que obrigava os presos a a trabalhos forçados, que se iniciavam às 6 horas da manhã, para terminar às 17 horas. A brigada brava era a designação para os trabalhos mais pesados, fundamentalmente a extracção de pedra, com marretas de catorze quilos. Conheceu também a "frigideira", onde penou 42 dias: "A história de António Marreiros, no Tarrafal, é a história de uma bruteza sem limites" [p. 62]: "Dele, provindas de punho próprio, não se revelaram cartas, ou outros escritos [...]. De António, o que se pode ler são as dedicatórias postas no verso de meia dúzia de fotografias, todas com datas do ano de 1950" [p. 62].
A sua família recebeu notícias e fotografias aquando da ida ao Tarrafal de Herculana e Luís Alves Carvalho, em finais de 1949, para ver o filho Guilherme da Costa Carvalho, também aí encarcerado.
Só sairia do Tarrafal em junho de 1953, sendo levado para Peniche em 06-07-1953 (ver imagem anexa 1), onde permaneceu preso alguns meses (ver documento de libertação em imagem anexa 2, 29-08-1953).
Quando foi libertado, depois de 17 anos de clausura, tinha 43 anos, os seus pais já tinham falecido sem nunca os ter voltado a ver, o filho contava 22 anos e meio.
Estabeleceu-se, então, em Pinhal Novo, terra onde já tinha familiares, tomando, por trespasse, uma taberna.
Como escreve José António Cabrita a finalizar o capítulo dedicado a este tarrafalista, "Bandidos! Canalhas! Era quase só o que se escutava de António Marreiros, o que esteve no Tarrafal porque era contra o Salazar, no tempo que lhe sobrou de vida depois do seu martírio no pântano da morte".
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Texto original: João Esteves
Cfr. José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo. Para que a memória não esmoreça, Câmara Municipal de Palmela, 2017
NOTA: A data da primeira prisão é a que consta da Ordem de Serviço e do Cadastro Político (diferente da indicada no RGP)