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Carlos Alberto da Veiga Pereira

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Data da primeira prisão

Jornalista, militante da luta pela Liberdade e Democracia e da causa da independência das colónias, foi um antifascista que se empenhou, desde cedo, na defesa dos direitos humanos e na rejeição da discriminação racial. Assim foi ao longo da sua vida, nas diversas funções e cargos que desempenhou e nos diferentes movimentos em que esteve envolvido. Foi preso, ligado ao MUD Juvenil, participou ativamente nas campanhas eleitorais da oposição, de Norton de Matos a Humberto Delgado. Participou no Golpe de Beja. Esteve dez anos no exílio, na sequência de denúncia da sua atividade nas Juntas de Acção Patriótica. Prestigiou-se como figura da Comunicação Social, quer como redator, quer nos cargos de direção que exerceu. Foi director de informação da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e da RTP, membro da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), e trabalhou em vários jornais, nomeadamente no Diário de Lisboa, onde foi chefe de redação, no Diário Ilustrado, no República e no Jornal Novo.

I. A sua relevante acção cívica e política
Carlos Alberto de Veiga Pereira nasceu em Março de 1927 em Sumbe (antigo Novo Redondo), Angola. Na juventude, a sua participação cívica na vida associativa estudantil entrelaçou-se com o interesse pela vida política e cultural. Estabeleceu então laços de amizade com outros angolanos de quem iria ser amigo toda a vida, alguns dos quais viriam estudar para a Universidade de Coimbra e com quem lutaria contra o regime do Estado Novo e pela independência das colónias portuguesas.
Em Coimbra foi colega de Almeida Santos, de Eduardo dos Santos, de Agostinho Neto e de Lúcio Lara [estes últimos futuras figuras salientes no movimento de independência de Angola]; aí conheceu também o grupo de intelectuais ligados à revista Vértice, em particular Joaquim Namorado, com quem estabeleceu laços de amizade duradouros. Nesse período, acabaria por entrar para o MUD Juvenil, ao qual continuou ligado quando veio para Lisboa (1947-1954). Esteve preso em 1951 (juntamente com Agostinho Neto, Marília Costa Branco e outros jovens, que pertenciam ao MUD Juvenil), por recolherem assinaturas para um abaixo-assinado em defesa de um pacto de paz entre as cinco grandes potências, dirigido à «Conferência Mundial da Paz», em Estocolmo.
Na sequência da sua atividade política, foi enviado em 1953 como “soldado raso” para a Companhia Disciplinar de Penamacor, por perfilhar, segundo a PIDE, ideias contrárias à unidade de Portugal e das colónias portuguesas. O seu interesse por África revela-se desde o princípio da década de 50: foi membro do Centro de Estudos Africanos, fundado por Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Francisco José Tenreiro, Alda Espírito Santo, David Bernardino e Noémia de Sousa, e do Clube Marítimo Africano. Depois, iria apoiar sempre os movimentos de independência das colónias portuguesas.
A ligação intelectual e cívica com António Sérgio, cuja casa frequentava, levaram-no a empenhar-se na campanha para eleição do General Humberto Delgado e no movimento oposicionista que se lhe seguiu. Envolvera-se já nas anteriores campanhas eleitorais da oposição, desde a campanha de Norton de Matos (1949). 
Na década de 60 esteve ligado ao golpe de Beja de 31 de Dezembro 1961, pertencendo ao grupo da Seara Nova que deveria dar apoio à difusão informativa, caso o golpe vencesse, e foi preso no início de Abril devido a este envolvimento. Pertenceu à Junta de Acção Patriótica de Lisboa e, tendo sido denunciado, foi obrigado a exilar-se em Outubro de 1962. 
Em Paris, foi representante da Frente Patriótica de Libertação Nacional, fundador e dirigente do Movimento de Acção Revolucionaria (MAR) e exerceu intensa actividade em apoio do movimento de independência das colónias, colaborando com Câmara Pires, um “embaixador” dos movimentos de independência das colónias em Paris. Colaborou com Robert Davezies no seu livro sobre a guerra em Angola. E envolveu-se na defesa dos direitos dos emigrantes portugueses, colaborando com várias associações como a Liga Portuguesa de Ensino e Cultura Popular. 
Cedo revelou gosto pela escrita literária e jornalística. Ainda no liceu foi diretor e redator de “Mefisto”, periódico editado por um grupo de alunos do Liceu Nacional de Salvador Correia, Luanda, em oposição ao órgão da Mocidade Portuguesa. 
Na Universidade de Coimbra, foi editor de “Via Latina”, órgão da Associação Académica de Coimbra. Foi igualmente diretor de “Meridiano”, órgão da delegação da Casa dos Estudantes do Império (“CEI”) em Coimbra, a primeira publicação editada em Portugal pelos estudantes das colónias. Foi sucessivamente Vice-Presidente e Presidente da CEI em Coimbra (1947-1949), o primeiro de origem angolana. Convidou então Agostinho Neto, a integrar a direção da Casa de Estudantes, e foi este o primeiro africano negro a integrar os órgãos diretivos da CEI. Nestes anos, a atividade da delegação de Coimbra da CEI foi fundamental para estruturar e reforçar o movimento a favor da independência das colónias, tanto mais que a sede da CEI em Lisboa esteve sujeita, entre 1951 e 1957, a uma comissão administrativa nomeada pelo governo.
Frequentou depois para a Faculdade de Ciências de Lisboa, onde teve intensa atividade na Associação de Estudantes, uma das mais importantes à época. Como diretor da Secção Cultural (1952-53) promoveu conferências de intelectuais e exposições de artistas plásticos da área democrática, como António Sérgio, Júlio Pomar e Mário Dionísio. Datam também desses anos as “Cartas de António Sérgio a um grupo de estudantes da Faculdade de Ciências”, objeto de publicação na época e republicadas recentemente por aquela Faculdade. Foi membro da Comissão Inter-Associações de Lisboa, a única forma de agremiação das associações existente à época, que veio posteriormente a designar-se de RIA. Da densa teia de companheiros dessa época, nas diferentes formas de luta contra o Estado Novo e pela independência das colónias, ficaram muitos amigos e o seu casamento, em 1960, com Miriam Halpern Pereira. Entre esses amigos refiram-se Fernanda e António Lopes Cardoso, Bruno da Ponte, Clara Queiroz, Miriam Halpern Pereira, Maria Eugénia e Agostinho Neto, Ana Maria e Vasco Vieira de Almeida, Gabriela e Vasco Martins, Alfredo Noales Rodrigues e Helena Pato, José Sasportes, Sacuntala de Miranda, Maria Antónia Palla e Orlando Costa, Maria Padez, Edmundo Rocha, Maria Helena Novais, Herman e Lotte Pfluger, Ruth (Pfluger) e Lúcio Lara, Noémia de Sousa, Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral, Aquino de Bragança, Arménio Ferreira e Castro Soromenho.

II. Carreira jornalística 
Ingressou no jornalismo em 1954, na delegação de Lisboa do jornal O Primeiro de Janeiro, onde teve o privilégio de estagiar com o intelectual anarquista Pinto Quartim. A breve trecho, tornou-se um dos membros da equipa redatorial fundadora do Diário Ilustrado (1956), coordenando o Suplemento Económico e participando na coordenação do Suplemento Literário. Aqui publicou uma entrevista marcante com o poeta Leopold Senghor, futuro presidente da República do Senegal. Viria a demitir-se deste jornal, juntamente com uma dezena de outros jornalistas, em protesto contra a demissão por motivos políticos do subchefe de redação Carlos Eurico da Costa. 
Posteriormente, foi redator do jornal República entre 1957 e 1958, tendo relatado a célebre conferência de imprensa do general Humberto Delgado no Café Chave de Ouro, em Lisboa, que constituiu o lançamento da sua candidatura à Presidência da República. 
A seguir trabalhou no Diário de Lisboa de 1959 a 1961. A sua reportagem sobre a independência do Congo publicada neste jornal tornou-se uma referência. Foi despedido juntamente com José Sasportes, sob a acusação de terem promovido um movimento reivindicativo salarial na redação, tendo-se demitido vários jornalistas em solidariedade (Artur Portela, Vasco Pulido Valente, Renato Boaventura, Urbano Tavares Rodrigues). Dai em diante, foi redator do semanário Jornal de Letras e Artes, sendo também colaborador da agência noticiosa France-Presse. Fez parte da redação do mensário Seara Nova, de tendência socialista e democrática, tendo continuado a colaborar com esta revista durante vários anos.

Durante o exílio em Paris, entre 1962 e 1972, tirou o curso do Institut Français de Presse (Institut de Sciences Politiques), trabalhou primeiro no COSE (Centre d’Orientation Social des Étrangers), um centro de acolhimento e apoio a refugiados políticos, dirigido pelo padre Alexandre Glasberg, e no Centre de Formation des Journalistes, a prestigiada escola francesa de jornalismo. Mais tarde, trabalhou na Office de Radiodifusion et Télévision Française (ORTF): no serviço de estudos das emissões para o estrangeiro, nas emissões para Portugal e nas emissões para os trabalhadores portugueses. Também colaborou no “Le Monde” e no “Témoignage Chrétien” e continuou a colaborar no Jornal de Artes e Letras e na Seara Nova (5). 
Em Outubro de 1972, na “primavera” marcelista, regressou a Portugal e, depois de uma curta passagem pelas Publicações Europa-América, voltou em 1973 ao Diário de Lisboa.

Com o 25 de Abril, estabelecida a liberdade política em Portugal, o seu envolvimento cívico e político fez-se essencialmente no exercício da sua profissão nos cargos de direção que exerceu e nos órgãos ligados à imprensa; mas, também, em associações cívicas ligadas a Angola, na UCCLA e em diversas atividades cívico-culturais. Foi membro do Comité 4 de Fevereiro e, mais recentemente, integrara a associação cultural africana Chá de Caxinde. Pertenceu à associação Fraternidade Operária, fundada por António Lopes Cardoso, e alguns anos mais tarde aderiu ao Partido Socialista. No seu seio, procurou sempre defender as bases institucionais de uma informação independente.

Depois da revolução, é eleito chefe de redação em plenário da redacção, por unanimidade. Demite-se em Maio de 1975 devido à falta de condições para o exercício livre do cargo. 
Após uma passagem pelo Jornal Novo, é nomeado Director de Informação da RTP, cargo de que se demite em Outubro de 1976, por considerar que a orientação adotada era incompatível com a sua visão de uma informação independente. Mais tarde, viria a ser assessor do Secretário de Estado da Comunicação João Gomes, ajudando a consolidar as bases da liberdade de imprensa.
Trabalhou na ANOP como redator e diretor de informação, tendo transitado para a Lusa no momento da fusão desta com a agência NP. Foi correspondente do jornal “La Tribune de l’Economie” (Paris), durante vários anos.

Carlos Veiga Pereira foi um dos seis jornalistas eleitos em Abril de 1975 por sufrágio direto, para representar a classe no Conselho de Imprensa, funções que exerceu com enorme empenho até 1981, por o seu mandato ter sido renovado por duas vezes pelo Sindicato dos Jornalistas.
Foi o primeiro presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas, no biénio 1991/92, órgão de que continuou a ser membro até 2018. 
Em 1998 foi eleito pelo Sindicato dos Jornalistas para membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, cargo que desempenhou até à extinção deste órgão.
Quando faleceu, em 29 de Dezembro de 2018, era detentor da carteira profissional com o número 1A.