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Carlos Cal Brandão

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Data aproximada da primeira prisão
março 1929

Combativo lutador antifascista, muito prestigiado nos núcleos da Oposição, sobretudo no Norte, nunca abrandou a sua militância contra o Estado Novo, pela Democracia e pela Liberdade. Combatente com uma vida entre lutas e prisões, não chegou a ver derrubado o regime fascista.
Nasceu na freguesia de Ramalde, no Porto, em 5 novembro de 1906 e faleceu em 31 de janeiro de 1973. Completou o ensino secundário na cidade onde nasceu e, em 1922, mudou-se para Coimbra, onde se inscreveu na Faculdade de Direito de Coimbra, terminando a licenciatura antes de fazer os 21 anos. Desde cedo, aderiu às ideias republicanas, tendo sido eleito presidente do Centro Académico Republicano, para o período de 1926-1927. 
Foi iniciado na loja maçónica “Revolta”. Fundou o jornal Gente Nova, juntamente com Paulo Quintela, Sílvio Lima e Vitorino Nemésio.
Regressa ao Porto em finais de 1927, para iniciar a sua vida profissional.
Inspirado nas lojas maçónicas da cidade do Porto, é entretanto criado o Grupo de Estudos Sociais e Filosóficos Lux, que editará, a partir de 1929, o jornal Humanidade, “anti-reaccionário e anti-clerical”, sob a direção de Carlos Cal Brandão.
Em Março de 1929, presidiu, em representação da Academia do Porto, ao encontro, realizado em Coimbra, entre republicanos das três Academias, do que resultou ter sido preso pela primeira vez, tendo ficado detido durante cinco meses e pago uma multa de cinco mil escudos. 
Na sequência sua atividade política, foi preso em 18 de março de 1931, acusado de entregar a «um indivíduo» um caixote com bombas. A acusação, daí decorrente, de estar implicado na tentativa revolucionária de 26 de agosto de 1931, sendo deportado para São Nicolau, em Cabo Verde, e daí para Timor, onde foi internado num campo de concentração no enclave de Oecussi-Ambeno.
Vivendo mais tarde em “liberdade” na colónia, Carlos Cal Brandão e outros deportados juntaram-se à guerrilha lançada pelos australianos contra a ocupação japonesa de 19 de fevereiro de 1942.
Com o governador português “prisioneiro” no seu palácio, os japoneses instigam revoltas de timorenses contra a administração colonial (as “colunas negras”) e obrigam muitos portugueses, religiosos e os chamados “criados” timorenses a procurar refúgio no mato, onde resistem.
Entre eles, importa sublinhar a figura do Ten. Manuel Pires que, após ter sido evacuado para a Austrália, regressou a Timor, vindo a ser capturado e morto às mãos dos invasores.
Carlos Cal Brandão será igualmente evacuado para a Austrália, onde desenvolve intensa atividade na formação de voluntários que seriam desembarcados em Timor.
Voltou à Ilha, em junho de 1945, com um grupo de comandos australianos e, mais tarde, acompanhou diretamente os primeiros contactos com o governador português e esteve presente na rendição nipónica.
Dessa vivência resultou um livro, Funo – Guerra em Timor (Porto, 1946). 
Amnistiado no fim do conflito, regressou a Portugal em fevereiro de 1946, após 15 anos de deportação, e abriu banca de advogado no Porto. 
De imediato foi chamado a participar, como advogado de defesa, no primeiro julgamento das comissões distritais do Porto do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Em 1949, redigiu, com seu irmão Mário, os estatutos da União Democrática Portuguesa. 
Interveio em todas as comissões políticas de oposição do distrito do Porto, designadamente nas candidaturas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado e foi candidato da Oposição, pelo círculo do Porto, em 1953.
Em Março de 1957, foi um dos 72 advogados de Lisboa e do Porto que assinaram uma representação ao ministro da Presidência pedindo um «inquérito à PIDE» e, em outubro seguinte, foi um dos signatários de uma representação entregue ao Presidente da República, na qual se explicavam os motivos pelos quais a oposição não concorreria às eleições legislativas desse ano. Em novembro de 1958, foi de novo preso (era a quarta vez) acusado – juntamente com outros advogados – de pretender atentar contra o bom nome de Portugal porque era um dos advogados de Maria Ângela Vidal Campos que pretendia apresentar queixa nas Nações Unidas contra o Estado português e contra a PIDE devido às condições em que se encontrava detida. 
Em 1960, assinou um requerimento solicitando uma certidão para instruir um recurso a interpor no Tribunal Internacional dos Direitos do Homem, tendo sido preso. Voltou de novo à cadeia em 1961, por ser um dos signatários do Programa para a Democratização da República. Foi de novo candidato da Oposição, pelo círculo do Porto, às eleições de 1965.
Foi vogal da Comissão Distrital do Porto (1951-1956), delegado às assembleias-gerais (1966-1968) e vogal (1972-1974) do Conselho Geral da Ordem dos Advogados.