Mulher de grande coragem, combativa na luta pelos seus ideais, é recordada pela tolerância e doçura ímpares. Dirigente do Partido Comunista Português, com actividade antifascista desde a década de 40. Foi a primeira mulher a evadir-se de uma prisão política.
Nasceu em Alhandra em 1925. Filha de trabalhadores rurais com muitas dificuldades económicas, teve de ir viver com os padrinhos e, com apenas oito anos, começou a trabalhar na agricultura.
Posteriormente, trabalhou como operária na Juta – Sociedade Têxtil do Sul, Lda. Embora o pai fosse republicano, foi o padrinho que a «esclareceu politicamente e que a levou, com o seu exemplo, a aderir à causa antifascista». Tal como as irmãs Sofia Ferreira (1922-2010) e Mercedes Ferreira (n. 1928), desde muito nova se evidenciou como militante e, posteriormente, dirigente do Partido Comunista Português, a que aderiu na década de 40, quando era operária têxtil. O seu relacionamento com Alves Redol, Carlos Pato e Soeiro Pereira Gomes, entre outros antifascistas daquela zona do país, muito contribuíram para a sua formação política. Em 1943 interveio na luta pela criação de uma secção do Sindicato das Costureiras em Vila Franca.
No ano seguinte, Georgette foi uma das organizadoras em Alhandra e Vila Franca de Xira das greves de 8 e 9 de Maio de 1944 e da marcha do dia 8, que culminou com a prisão de várias mulheres nas Praças de Touros de Vila Franca de Xira e do Campo Pequeno tendo algumas delas sido remetidas no dia 11 para Caxias, onde permaneceram até Agosto.
Em 1945, tal como as suas duas irmãs, Georgette Ferreira passou à clandestinidade, vivendo como «companheira» de António Assunção Tavares, operário da Fábrica Cimentos Tejo que tinha sido forçado a «mergulhar» na clandestinidade, na sequência do movimento grevista de 1944. Apenas um irmão, o mais velho, não teve actividade política e, por isso, acabou por ser o único a dar apoio, com a mulher, aos pais já idosos. As informações familiares circulavam com muita dificuldade e morosidade, o que agravava o sofrimento de todos.
Em 28 de agosto de 1945 escapou de ser presa na casa da Lapa, onde vivia com o companheiro. Em 1946 participou, com Cândida Ventura (1918 – 2015), no II Congresso Ilegal do PCP realizado na Lousã.
Detida pela PIDE às três horas da madrugada de 17 de Dezembro de 1949, com António Dias Lourenço (1915-2010), na casa de Monte de Miraventos, concelho de Palmela, foi enviada para o Forte de Caxias, onde conviveu na mesma cela, ainda que por poucos dias, com Cecília Areosa Feio, Maria Lamas e Virgínia Moura.
Durante a reclusão, em resultado da alimentação, a doença de estômago de que padecia agravou-se e, com a solidariedade dos outros presos, foi levada de urgência para o hospital. Recebeu então correspondência de Álvaro Cunhal (1913-2005), preso na Penitenciária de Lisboa, de que foram publicados extractos de uma carta de 3 de Setembro de 1950 no boletim «3 Páginas».
Evadiu-se, em 4 de Outubro de 1950, do Hospital de Santo António dos Capuchos, depois de a fuga ser devidamente planeada com o seu partido, a família, o médico Arménio Ferreira (1920-2002) e o camarada que a esperava com um carro, e que a transportou para uma casa clandestina em Lisboa. Passou então a integrar o Comité Local do Porto e, posteriormente, teve responsabilidades na organização de Lisboa e integrou o Comité Central entre 1952 e 1988.
Participou, em março de 1954, na V Reunião Ampliada do Comité Central do Partido Comunista e voltou a ser detida em Dezembro desse ano, num encontro com Jaime Serra, quando ambos trabalhavam na organização da capital.
Foi condenada, em 1957, à pena de três anos e «medidas de segurança», mas gerou-se um enorme movimento de solidariedade que a libertou do cumprimento dessas sinistras medidas.
Foi libertada somente em 1959 e partiu clandestinamente para a Checoslováquia, a convite da organização de mulheres do país (saindo do país por Chaves). Aí permaneceu até curar uma doença pulmonar, percorrendo vários sanatórios até 1962. Conviveu então com José Gregório, que também estava naquele país em tratamento, e com a sua companheira Amélia Fonseca do Carmo.
Representou Portugal, juntamente com Maria Lamas, no Congresso Mundial das Mulheres de 1963.
Viveu em Paris, onde desenvolvia actividade clandestina do PCP durante quase três anos, e regressou à luta clandestina em Portugal, encontrando-se na região de Setúbal aquando do 25 de Abril de 1974. Usou o pseudónimo «Paiva».
Após a revolução, foi deputada à Assembleia Constituinte (1975/1976) e deputada à Assembleia da República desde 1976 a 1988.
Entre 1953 e 1988 fez parte do Comité Central do PCP. Era membro da URAP – União dos Resistentes Antifascistas Portugueses.
Morreu no dia 4 de Fevereiro de 2017.
Georgete de Oliveira Ferreira
19564
Data da primeira prisão