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José Correia Pires

José Correia Pires
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Data da primeira prisão

Nasceu em São Bartolomeu de Messines, em 17 de abril de 1907, filho de Isabel Pires e de José Correia. Carpinteiro, a viver e a trabalhar em Messines, integrou o núcleo local das Juventudes Sindicalistas, militou na Confederação Geral do Trabalho e pertenceu ao Sindicato da Construção Civil, onde foi um dos responsáveis pela abertura, efémera, de uma escola, causando a sua ordem de prisão, em janeiro de 1931, pelo Administrador do Concelho de Silves.
Não tendo sido detido dessa vez, foi-o no ano seguinte, em Faro, devido ao trabalho desenvolvido junto dos trabalhadores das estradas para que se cumprisse o horário de trabalho legal de oito horas. Levado para a Cadeia do Aljube, onde permaneceu seis meses, teve como companheiros de cativeiro alguns dos nomes mais relevantes do anarquismo e do anarcossindicalismo, como Emídio Santana, José Augusto de Castro e Manuel Joaquim de Sousa.
Julgado pelo Tribunal Militar Especial em 1933 e absolvido, regressou a Messines, onde se envolveu ativamente na preparação da Greve de 18 de janeiro de 1934 na região, reunindo-se, entre outros, com Mário Castelhano e Virgílio Pires Barroso, este último um importante ativista da CGT em Silves. Por terem sido descobertos alguns dos explosivos a utilizar, refugiou-se, durante algum tempo, na casa do republicano José Ventura Vargas, em São Marcos da Serra, encontrando-se aí aquando daquela ação grevista.
Andou clandestino pelo Alentejo, com a colaboração de anarquistas e de ferroviários do “Sul e Sueste”, exilando-se em Espanha, onde permaneceu quinze meses. Chegou a estar preso em Alcalá de Guadaíra, na província de Sevilha e, em Madrid, integrou o secretariado da Federação Anarquista dos Portugueses Exilados (FAPE), ligada à Federação Anarquista da Região Portuguesa (FARP). Trabalhou em San Sebastían, mas a evolução da situação política naquele país fez com que regressasse, clandestinamente, a Portugal, entrando por onde tinha saído.
Fixou-se, então, em Lisboa, com a mulher e os cinco filhos, adotou o pseudónimo de “Júlio Rocha”, retomou contactos e ligou-se a conspirações reviralhistas, o que levou a que fosse detido.
Preso em 5 de novembro de 1936, recolheu, incomunicável, à 32.ª esquadra, daqui passou, em 9 de janeiro de 1937, para a 1.ª esquadra e, em 1 de março, entrou no Aljube para, no dia 3, ser transferido para a 28.ª esquadra em “regime de incomunicabilidade”. Voltou, em 16 da março, à 1.ª esquadra e, em 23 do mesmo mês, seguiu para a Cadeia do Aljube, onde permaneceu até ser deportado, em 5 de junho, para Cabo Verde, embarcando, com mais quarenta e um presos, no «Lourenço Marques».
Chegado ao Tarrafal, onde permaneceu mais de oito anos e meio sem ter sido julgado, assistiu à morte do seu antigo camarada Mário Castelhano, sofreu castigos na “Frigideira”, integrou a “Brigada Brava”, outra forma de punir violentamente os presos, e construiu, enquanto carpinteiro, muitos dos caixões daqueles que iam sendo vítimas das condições concentracionárias.
Apenas regressou em 20 de fevereiro de 1945 e, levado para a Cadeia de Caxias, seria julgado pelo Tribunal Militar Especial em 7 de março, que o amnistiou ao abrigo do Decreto 34.377, de 12 de janeiro de 1945. Libertado em 9 de março, manteve atividade libertária e fixou residência em Almada, onde se empenhou no associativismo e cooperativismo local.
A seguir ao 25 de Abril de 1974, esteve na fundação do Grupo de Cultura e Ação Libertária de Almada, criado em 13 de maio (em 1975, passaria a Centro de Cultura Libertária), e colaborou no mensário Voz Anarquista, que também ajudara a lançar, entre outra imprensa. Escreveu "A Revolução Social e a Sua interpretação Anarquista" e "Memórias de um Prisioneiro do Tarrafal", livros editados em 1975. Faleceu em 28 de outubro de 1976, em Almada.