Destacado militante clandestino do PCP e seu dirigente, está entre as maiores vítimas da repressão fascista. Foi o preso político que sofreu mais tempo de prisão, durante a ditadura fascista: 23 anos, dos quais 10 anos no Campo de concentração do Tarrafal e os restantes entre o Aljube e Peniche.
Em condições da maior crueldade, já doente, é mantido encarcerado devido aos sucessivos «pedidos da PIDE de prorrogações das medidas de segurança».
Homem de trato bondoso, afável e de enorme argúcia,
Manuel Rodrigues da Silva nasceu a 10 de Abril de 1909, em S. Luís do Maranhão, filho de um emigrante português no Brasil e de uma índia nativa. Veio com o pai para Portugal, aos quatro anos de idade e pouco depois de completada a instrução primária, com 13 anos, começou a trabalhar como aprendiz de serralheiro mecânico na Manutenção Militar de Lisboa. Ao mesmo tempo, continuou os estudos, frequentando o curso nocturno da Escola Industrial de Lisboa. As duras condições de vida e de trabalho do operariado português nesses anos 20 e o contacto com as estruturas sindicais fizeram de Manuel Rodrigues da Silva um activista sindical e militante político.
Em 1932, aderiu ao PCP e, pouco depois, foi eleito secretário da Comissão Regional do Centro da CIS (Comissão Inter-Sindical). A sua intensa actividade e dedicação desperta a atenção dos seus camaradas, sendo chamado a tarefas sindicais de cada vez maior responsabilidade e, em 1934, já integrava a Comissão Executiva da CIS. Entretanto, destaca-se também na militância partidária e não tarda a fazer parte do Comité Central do PCP (em 1935/36). Em 1936 integra o seu Secretariado, ficando responsável pela actividade sindical clandestina.
O trabalho desenvolvido nas difíceis condições criadas pela prisão do Secretariado do Partido Comunista, em finais de 1935, atraiu sobre si a atenção e o ódio da polícia fascista. Preso em 23 de Setembro de 1936, Manuel Rodrigues da Silva é mantido incomunicável durante 23 dias e, sem qualquer julgamento, é enviado para o campo de concentração do Tarrafal, em 17 de Outubro desse ano. Passa vários dias na tenebrosa «Poterna» do Forte de Angra do Heroísmo, uma cave semi-inundada onde encarceravam os castigados, antes de se juntar à primeira leva de presos que vai inaugurar o Campo da Morte Lenta, na Ilha de Santiago (Cabo Verde).
No Tarrafal Manuel Rodrigues da Silva permanece quase dez anos. Abrangido pela amnistia que o regime salazarista foi obrigado a conceder em 1945, após a derrota do nazi-fascismo na guerra, regressa a Portugal a bordo do navio «Guiné», em 1 de Fevereiro de 1946. Volta a mergulhar na clandestinidade, e é eleito membro do Comité Central no IV Congresso do PCP, realizado em Julho de 1946. Então na Comissão Nacional Sindical do PCP, Manuel Rodrigues da Silva dirige muitas das acções que tiveram lugar nessa época.
De novo preso em 7 de Fevereiro de 1950, foi encarcerado no Aljube, onde permaneceu três anos em péssimas condições, sem recreio e sem visitas (não tinha familiares), encarcerado na mais insalubre cela da cadeia, onde nunca entrou o sol. Sem cuidados médicos, teve escorbuto e problemas de coração com incidentes vasculares cerebrais.
Entretanto, foi julgado em Abril de 1951, fazendo do tribunal fascista uma tribuna de denúncia dos métodos de repressão da PIDE, de desmascaramento do regime e de defesa do seu Partido.
O Tribunal Plenário condenou-o a quatro anos de prisão maior. Mas o Ministério Público recorreu da sentença e a pena foi-lhe ampliada para oito anos e «medidas de segurança».
Em 1954, Manuel Rodrigues da Silva foi transferido para Peniche. Com a saúde já abalada e a pena já terminada em 1959, é mantido encarcerado devido aos sucessivo pedidos da PIDE de prorrogações das «medidas de segurança».
Manuel Rodrigues da Silva sofre, em 1961, uma congestão cerebral, mas é-lhe recusado o internamento hospitalar. Temendo pela sua vida, é lançada uma grande campanha, ao nível nacional e internacional, pela sua imediata libertação. A grande pressão exercida sobre o regime fascista acaba por dar resultados e em 8 de Janeiro de 1964, quase 14 anos depois da sua prisão, Manuel Rodrigues da Silva sai em liberdade condicional.
Apesar da sua fraca saúde, não demora a regressar à militância política e à vida clandestina. Entra para o Secretariado do Comité Central e sai de Portugal para a URSS, pouco antes do VI Congresso do PCP, que iria realizar-se em Kiev, em 1965. É ele quem faz a intervenção de abertura, que marcou a sequência dos trabalhos.
O seu estado de saúde vai-se agravando e, em 22 de Julho de 1968, apenas com 59 anos, morre lúcido mas fisicamente muito debilitado, ficando os seus restos mortais para sempre na União Soviética, onde seria sepultado, no cemitério Monasteri Novodévitchi, em Moscovo.