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Desastre da Resistência Republicana

A segunda derrota do Reviralho em pouco mais de um ano conduziu a um reforço da “Situação”. A resposta política da Ditadura não se fez esperar e, logo a 22, a imprensa dava cobertura à ação de Salazar, amplificando-a e glorificando-a. 
Uma semana depois, o governo aprova o Decreto n.º 15790, de 27 de julho, que "estipula as sanções a aplicar aos militares e civis que tomaram parte na preparação ou execução do movimento revolucionário dos dias 20 e 21 de Julho de 1928, ou o favoreceram ou auxiliaram", estabelecendo a demissão e a reforma compulsiva ou deportação dos revolucionários e de quem os tivesse favorecido...


Apesar de as vítimas (cerca de uma dezena de mortos e meia centena de feridos) não terem tido o peso de 1927, os efeitos no movimento revolucionário foram desastrosos.
No rescaldo da “Revolta do Castelo” foram presos cerca de uma centena de chefias militares e cerca de um milhar de cabos e praças. Quatrocentos desses prisioneiros partiram a bordo do navio “Lourenço Marques”, em 22 de agosto, com destino às colónias. O Batalhão de Caçadores 10 de Pinhel foi pura e simplesmente extinto. Os oficiais implicados foram demitidos do Exército ou separados com 50% do vencimento e os sargentos tiveram baixa de serviço.

 

Jaime de Morais

“A Liga de Paris não compreendia que o chefe de um movimento revolucionário da envergadura do que estava na forja não podia fazer apenas política de um dos grupos conjurados. Mandara chamar de Paris Oliveira Pio, e a Liga observou-me que as minhas requisições deviam ser feitas à Liga e não deviam ser feitas pessoalmente. (…). Mandou-me uma carta desagradável e enviei-lhes outra no mesmo tom, pedindo-lhes para me substituírem, na representação da Liga. Veio substituir-me o tenente-coronel aviador Sarmento de Beires (…)".
("Jaime de Morais, Apontamentos de uma Vida". Cristina Clímaco e Heloisa Paulo, Éditions Quatorze, 2020, 232)

António Sérgio

“A Revolução
Ninguém se assuste de entrada com o título (…).
Refiro-me a uma revolução construtiva (…). Tudo em Portugal está velho e podre; tudo atrasado, mesquinho e débil. (…) Por mim, dou graças por vezes à Ditadura, que provocou o aparecimento da nossa Liga Republicana, a qual, rompendo com os erros da política velha, vê mais nítido e renovado o ideal da democracia (…). Esta obra (revolucionária) não se fez ainda desde o “5 de Outubro”. A República foi empeçonhada. Hoje há o grupo que pode fazer a Revolução”.
(António Sérgio, "A Revolta", 23/30 abril de 1927)

 

Durante dois anos, a resistência republicana viverá um período de estagnação e de refluxo. Com a esmagadora maioria dos reviralhistas exilados ou deportados, foi possível a governos conservadores como os de Vicente de Freitas e Ivens Ferraz, conduzirem uma política de “acalmação” e de reintegração de algumas dezenas de revoltosos. Sem “ligações” nos quartéis, tornaram-se muito limitados os meios de reorganização e de obtenção de armamento, que passou a ser procurado no exterior ou produzido de forma artesanal.

 

1928 Cronologia Breve

9 de março – O decreto nº 15150 manda eliminar dos respetivos quadros e entregar ao Governo, "que lhes dará o destino que julgar mais conveniente", todos quantos, civis ou militares, de algum modo, manifestem a sua oposição ao regime ditatorial - aplicando-se aos militares do ativo, da reserva e reformados, à armada, aos militares em serviço na guarda nacional republicana e guarda fidcal, aos militares em serviço na polícia cívica e respetivos agentes, às corporações com organização militar e aos funcionários públicos
25 de março – A Ditadura Militar organizou uma "eleição" por sufrágio direto para Presidente da República. O general Óscar de Fragoso Carmona foi o candidato único e já exercia interinamente essas funções desde novembro de 1926 (Decreto n.º 12740), tomando posse a 15 de abril.


18 de abril – Formado novo governo da ditadura, sob a presidência do coronel José Vicente de Freitas, que acumula as pastas do Interior e, interinamente, a das Finanças.
27 de abril – António Oliveira Salazar toma posse, pela 2.ª vez, como ministro das Finanças (o Diário de Lisboa anuncia que Salazar "dignou-se aceitar a gerência da pasta das Finanças").
28 de maio – Vicente de Freitas, chefe do Governo, desmente a concessão de uma amnistia aos presos e deportados.
4 de Junho – A conferência do socialista Amâncio de Alpoim sobre política operária, no Barreiro, reúne cerca de 1000 pessoas. Amâncio de Alpoim será preso por implicação na “Revolta do Castelo” de 20 de Julho.
20 de Julho – “Revolta do Castelo”. Movimento revolucionário que se inicia no Castelo de S. Jorge e que movimenta tropas e civis por todo o país. Os Ferroviários do Sul declaram uma “Greve Geral Revolucionária” em solidariedade com a revolta republicana.
Agosto - Outubro – Para além das consequências disciplinares, cerca de 4 centenas de implicados, entre civis e militares, serão deportados, em particular para Angola.