Quando se fala de propaganda, vem quase sempre à baila o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional, criado em 26 de Outubro de 1933 por António Ferro), mais tarde, o SNI (Secretariado Nacional de Informação, que lhe sucedeu em 1945) e, mesmo, a SEIT (Secretaria de Estado da Informação e Turismo, criada em 1968, com a subida ao poder de Marcelo Caetano).
E, no entanto, raramente se incluem nesse âmbito da propaganda do regime as "agências noticiosas" Lusitânia e a ANI-Agência de Notícias e de Informação), além de algumas outras entidades correlacionadas, com ligações ao turismo e ao jogo - veja-se, por ex., o símbolo da "Sociedade de Propaganda de Portugal" colocado à esquerda do logotipo da Lusitânia (clicar na imagem).
A Lusitânia, criada em 1944 por Luís Caldeira Lupi, sob a égide e subsidiada pelo então ministro das Colónias, Marcelo Caetano, estava essencialmente direcionada para a propaganda da política colonial do regime fascista.
Por seu lado, a ANI, criada em 1947 por Dutra Faria, Barradas de Oliveira e Marques Gastão, também com o apoio de Marcelo Caetano, e mediante um contrato de prestação de serviços com o governo, evoluiu para uma agência noticiosa que abarcava o território nacional, as colónias e o noticiário internacional, embora este em larga medida feito a partir dos recortes da imprensa estrangeira e de outras agências, com especial destaque para a norte-americana UPI - United Press International.
Qualquer dessas duas "agências noticiosas" criadas em Portugal foram importantes veículos da política dos governos de Salazar e Caetano, assumindo com frequência o insulto e a provocação contra os considerados inimigos do regime (ver em anexo brochura de Luís Lupi), tanto mais que a imprensa via crescentemente dificultado o acesso às agências noticiosas internacionais.
A relevância política, designadamente da ANI, cresceu com o início da guerra colonial em 1961, cabendo-lhe difundir as patranhas do colonialismo e grande parte da propaganda patrioteira, desempenhando papel destacado na manipulação dos acontecimentos, como foi o caso notório em redor do assassinato pela PIDE do general Humberto Delgado em 1965.
Entretanto, a Lusitânia (ver logotipo em anexo) definhara face à ANI, embora ainda mantivesse alguma penetração no mundo colonial, queixando-se no entanto permanentemente da escassez dos subsídios governamentais..
A verdade é que ambas essas “agências” se limitavam frequentemente a publicar na íntegra os comunicados oficiais (ver em anexo “Comunicado das Forças Armadas de Angola”), servindo de simples mensageiras das instruções emitidas.
Interessante também a diretiva da Censura, datada de 1949 e assinada pelo seu Sub-Diretor, capitão José da Silva Dias, dirigida a todos os jornais diários de Lisboa, cujo texto se transcreve, em que são mandados referenciar aquelas duas agências nas folhas de controlo dos telegramas utilizados pelo jornal, pois esses telegramas seriam, à partida, de maior confiança.
Solicito a V.Exa. se digna mandar incluir as mensagens das agências "Lusitânia" e "A.N.I." nas folhas do controlo dos telegramas aproveitáveis pelo jornal de que V.Exa. é mui Ilustre Director.
Alguns outros apontamentos significativos:
Dutra Faria e Barradas de Oliveira, fundadores da ANI, seriam também os permanentes comentadores políticos da RTP;
Dutra Faria, oriundo do Integralismo Lusitano, dirigiria a ANI;
Barradas de Oliveira, por seu lado, seria o diretor do jornal fascista "Diário da Manhã" edo seu sucedâneo "Época". A seguir ao 25 de abril, ainda publicou, designadamente, "Quando os cravos murcham", em 1982, e "A vergonhosa descolonização", em 1984...
Essas duas entidades, formalmente privadas, mas fortemente dependentes e subsidiadas pelo governo, desempenharam um papel crucial no controlo da imprensa, em estreita articulação com a censura e com todos os impedimentos de acesso a informação livre e plural.
Data
1944/1947