Entregou-se ativamente, desde jovem, à luta contra o regime fascista. Pertenceu ao MUD Juvenil e, depois, esteve sempre presente na oposição democrática, desenvolvendo intensa atividade, que o levou por diversas vezes à prisão.
Blasco Hugo Correia Fernandes asceu na freguesia de Mapuçá, concelho de Bardez, Goa, a 27 de dezembro de 1930 e faleceu em Lisboa a 21 de setembro de 2002. Casou em 1960 com a investigadora Dulce Rebelo, destacada antifascista da Resistência.
Licenciou-se em Engenharia Agrónoma no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Foi, entre 1959 e 1963, engenheiro técnico na Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas e depois trabalhou como investigador da secção de toxicologia do Laboratório de Fitofarmacologia do Ministério da Agricultura. Membro do grupo organizador e coordenador da Sociedade Portuguesa de Fitiatria e Fitofarmacologia, participou em Londres no Congresso de Agricultura no ano de 1963, estagiou no sector de investigação do "Plante Patology Laboratory", em Inglaterra, e começou a preparar o doutoramento na sua especialidade.
Porém, em outubro de 1963, foi preso pela PIDE, acusado de «actividades contra a segurança do Estado» e de ser membro do Partido Comunista Português. Foi julgado no Tribunal Plenário de Lisboa e condenado a uma pena de 20 meses de prisão, que cumpriu integralmente no Forte de Caxias.
Demitido do serviço do Estado, não interrompeu a sua atividade e publicou vários estudos nas revistas Agricultura, Revista Agronómica, Vida Mundial, Seara Nova, passando também a ser colaborador da "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira".
Em 1965 foi candidato da Oposição, na lista de Santarém. Em 1969, apresentou ao II Congresso Republicano de Aveiro uma tese intitulada «Para Uma Definição (Localizada) de Subdesenvolvimento». Nas eleições legislativas desse ano foi candidato da CDE, na lista de Santarém.
Em 1971 participou no 1º Simpósio Nacional de Herbologia, e em dois congressos sobre proteção das plantas (Paris e Brighton). Integrou o grupo de trabalho do Centro de Economia Agrária (F. C. Gulbenkian), para elaboração de um estudo socio-económico sobre o Baixo Alentejo.
Em maio de 1972, foi um dos subscritores do manifesto intitulado «A Situação Política Portuguesa e o Fracasso do Reformismo», apreendido pela DGS e por isso interrogado.
Em 1973, fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, ao qual apresentou uma tese intitulada «Entraves Sócio-Políticos ao Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa».
Depois do 25 de Abril, foi diretor do departamento das Relações de Trabalho Rural do Ministério do Trabalho (1974 -1978), vogal da Comissão Nacional da FAO (1974-1979), membro da Comissão Coordenadora para a Extinção dos Grémios da Lavoura e das suas Federações.
Integrou a Delegação governamental à 59ª Conferência da OIT (1974 e 1975) e colaborou na elaboração da Recomendação e Convenção relativas às Organizações de Trabalhadores Rurais e do seu papel no desenvolvimento económico e social.
Foi membro da Direção Nacional e do Secretariado do MDP/CDE e responsável pelo departamento das relações internacionais.
Quando faleceu, era engenheiro investigador jubilado, Presidente da Comissão Directiva da Intervenção Democrática (ID), de que era representante na Coordenadora da Coligação Democrática Unitária (CDU); Vice-presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação; Deputado Municipal na Assembleia Municipal de Lisboa e Deputado na Assembleia da Área Metropolitana de Lisboa. Era ainda Vice-Presidente do Comité Internacional de Ligação para a Reunificação da Coreia (CILRECO.) e pertencia também ao Secretariado da Plataforma Internacional de Resistência Democrática Contra o Neo Liberalismo ( Paris), ao Fórum Internacional para um Contrato de Geração Norte-Sul (Bruxelas), sendo ainda membro da Europinion – Iniciatives et Débats pour l’Union Européene (Paris). Membro da APE – Associação Portuguesa de Escritores, do Cercle Condorcet (Paris) e do Conselho Fiscal do «Le Monde Diplomatique»-Edição Portuguesa.
Blasco Hugo Fernandes foi Vice-diretor e Membro do Conselho Redatorial da Revista Seara Nova (1978) e Diretor da Razão Activa, boletim da Fundação Internacional Racionalista. Deixou vários livros, ensaios e artigos em publicações nacionais e estrangeiras, nomeadamente, estudos e artigos sobre temas económicos e agrícolas. Destacam- se, de entre as suas obras, Agricultura, Reforma Agrária e Desenvolvimento Económico (Lisboa, 1967), Portugal através de Alguns Números (Lisboa, 1970), Problemas Agrários Portugueses: Estruturas, Tecnologias, Política Agrícola, Reforma Estrutural (Lisboa, 1973), O Que é a Reforma Agrária (Lisboa, 1975), Reforma Agrária: Contributo para a sua História (Lisboa, 1978) e A Política Agrícola Comum (CEE) e a Agricultura
Portuguesa (Lisboa, 1983).
Em 2002, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu-lhe a Medalha de Ouro de Mérito Municipal e o seu nome foi dado a uma rua da capital e a outra de Beja.
Foi também galardoado com a Medalha de Cidadão Honorário de Sófia (Bulgária), atribuída pela respetiva Municipalidade (1976) e, ainda, com a Medalha de Amizade, atribuída pelo Comité Popular Supremo da República Popular da Coreia (1992).