Caramó Sanhá nasceu em 1935, na povoação de Missina, região de Quinara, sector de Empada.
Aderiu ao PAIGC em 1959, em Bissau: “Sendo africano, eu queria ser livre e independente, como outro povo do mundo. Não queria viver cativamente até morrer.”
Professor na Escola Católica, embora muçulmano, foi preso pelo exército português – “um batalhão de caçadores” – a 30 de Julho de 1961, na zona de Empada, e levado para Buba, Tite. Os interrogatórios, feitos por militares, foram de grande violência: “Levei muita porrada. Chegaram a amarrar-me e puseram-me de cabeça para baixo.”
Cerca de um mês depois, foi levado de barco para a Ilha das Galinhas e depois enviado para o Tarrafal, em Setembro de 1962: “No Tarrafal era só a tristeza. Uma pessoa na prisão não pode estar satisfeita. Eu não tinha morto nem roubado. O nosso crime era a independência da Guiné, e isso para nós não era um crime.”
Aproveitou o tempo de cárcere para estudar. E continuou a praticar a sua fé: “Sem problemas. Havia lá um padre, do Tarrafal, que ia fazer culto. Nós, muçulmanos, participávamos sem problemas. Também fazíamos o nosso culto sozinhos, pedindo a Deus que não nos deixasse morrer em Cabo Verde.”
Fez parte do primeiro grupo a regressar à Guiné, em 29 de Julho de 1964, continuando clandestinamente ligado ao PAIGC: “Como é que eu podia desligar-me do partido? Eu fui torturado, castigado, tudo por causa do partido, portanto, é coisa que eu não podia esquecer. Por que passei, nem o meu pai, nem a minha mãe, nem os meus irmãos passaram. Na altura eu não tinha como ir para a zona libertada do PAIGC, mas continuei os meus contactos aqui com o partido.”
Apesar da tristeza, o Tarrafal foi muito importante na sua vida: “Foi graças à luta do PAIGC, à unidade Guiné e Cabo Verde, que nós lá fomos parar. Graças a essa luta, os nossos dois países tornaram-se independentes, e isto é algo muito importante para nós todos. Tenho orgulho nisso, saber que os meus filhos, os meus netos, podem dizer que o pai, o avô deles esteve no Tarrafal por causa da independência da Guiné.”
E apesar de lamentar não haver rendimento para pessoas como ele, não se arrepende: “Eu não lutei para ser capitalista. Lutei para libertar a Guiné.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.