Combatente antifascista e destacado dirigente comunista, vítima da maior repressão das ditadura de Salazar e Franco, Manuel Guedes era um homem com uma enorme simplicidade, grande cultura, e sempre disponível para aprender com os mais novos e dar testemunho de vidas heróicas de outros.
Gostava de pessoas e de livros, fossem estes sobre pedagogia, ciência, política, ou literatura. Morreu com 73 anos, 20 dos quais passados nas prisões fascistas, em Portugal e Espanha.
Manuel Guedes, nasceu a 14 de Dezembro de 1909. Órfão de pai e mãe, foi internado no Asilo Maria Pia com apenas oito anos, depois de passar inúmeras dificuldades. Aí permaneceu até se alistar como voluntário na Marinha, aos 17 anos.
O golpe de 28 de Maio ocorrera pouco tempo antes e Manuel Guedes assistiu de perto à fascização das Forças Armadas, às primeiras revoltas contra a ditadura e às perseguições aos militares antifascistas. Tomou então contacto com a corrente republicana e antifascista que mantinha na Armada uma forte presença.Terá sido toda esta vivência que o levou a aderir ao PCP em Agosto de 1931. Pouco depois, era já um dos principais dinamizadores da criação da «Organização Revolucionária da Armada» (ORA) e, até à «Revolta dos Marinheiros» de Setembro de 1936, manteve uma intensa actividade de agitação e propaganda. O jornal da ORA, «O Marinheiro Vermelho», do qual Manuel Guedes foi um dos redactores, terá chegado a editar 1500 exemplares.
Em Julho de 1933 é preso pela primeira vez, na tipografia que editava este jornal. Julgado pelo Tribunal Militar Especial, foi condenado a 18 meses de prisão. Cumprida a pena, foi libertado (Janeiro de 1935) e imediatamente expulso da Armada.
Regressa à actividade clandestina, integra a Comissão Central de Organização do PCP, sob a orientação de Bento Gonçalves, mas por pouco tempo, pois seria novamente preso em Abril desse mesmo ano (1935) numa reunião da ORA e levado a julgamento. Em Maio de 1936, quando decorria o julgamento, numa das deslocações ao Tribunal para a 4ª e última sessão, aproveitou uma oportunidade e evadiu-se. Foi então encarregado pelo partido comunista de tarefas em Espanha, mas ao entrar no país vizinho, juntamente com Joaquim Pires Jorge, foi detido em Valência de Alcântara, por falta de documentação e posse de arma. Ficam ambos presos em Cáceres, assistem à tomada da cidade pelos fascistas de Franco e, depois de viverem na iminência de serem fuzilados pelas tropas franquistas que ocuparam a cadeia, são condenados a 28 meses de prisão.
Encarcerado durante mais de dois anos naquela cidade espanhola, em difíceis condições, Manuel Guedes assiste aos inúmeros crimes dos fascistas de Franco. Cumprida a pena, é entregue em Portugal à Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) em 14 de Novembro de 1938, e fica preso até Julho de 1940.
Manuel Guedes pouco tempo ficou em liberdade: voltou à luta clandestina. Participante destacado da reorganização do Partido de 1940/41, passou a integrar o Secretariado, juntamente com Álvaro Cunhal e José Gregório.
No IV Congresso do PCP, realizado em 1946 (onde seriam definidas as linhas fundamentais do caminho para o derrube do fascismo e os princípios orgânicos do centralismo democrático), Manuel Guedes é novamente eleito para o Comité Central e permanece no Secretariado até 1951. Ao longo de toda essa década, acompanha e dirige poderosas lutas, entre as quais as greves de 1942 e 1943 e as batalhas eleitorais de 1945 e 1949.
Preso novamente em Maio de 1952, Manuel Guedes é julgado e condenado a quatro anos de prisão, mas as medidas de segurança levam-no a permanecer encarcerado durante 13 anos, só sendo libertado em Março de 1965.
Depois do 25 de Abril, Manuel Guedes foi reintegrado na Marinha (todos os marinheiros o foram) e exerceu a profissão de revisor tipográfico.
Escreveu o livro «Memórias de um preso político português na cadeia de Cáceres durante a guerra civil de Espanha».
Continuando a militar no PCP, acabaria por falecer em Março de 1983 – tinha 73 anos, 20 dos quais passados na prisão.