Nascido em Bolama, a 14 de Agosto de 1934, recrutado para o PAIGC por Luciano Ndao em 1962, convicto do direito da Guiné-Bissau à independência, fazia trabalho de mobilização para o Partido a par com o seu trabalho de eletromecânico nos Correios de São Domingos.
Preso em São Domingos, a 29 de Julho de 1962, depois de a PIDE ter apanhado em Bissau uma lista que incluía o seu nome, foi levado para o Batalhão de Bula, onde ficou até 31 de Agosto, dia em que foi transportado para o presídio da Ilha das Galinhas e, no dia seguinte, embarcado no navio “África Ocidental”, rumo a Cabo Verde e ao campo de concentração do Tarrafal, onde ficou até 1969:
“Vim em 62 e saí em 69. Saímos daqui a 30 de Julho, nos dias 1 e 2 fomos colocados na PIDE em Bissau, no dia 3 de Agosto, aniversário do massacre de Pidjiquiti, fomos libertados pelo general Spínola.”
No Tarrafal, onde por vezes trabalhou como pintor em obras no campo, continuava o trabalho de mobilização:
“Estávamos metidos lá dentro, sempre unidos, mas sempre a falar do PAIGC. Fazíamos reuniões semanais para manter viva a chama da luta, à espera do dia da nossa libertação.”
Aproveitavam também o tempo para estudar:
“Alguns não tinham quarta classe, muitos sequer sabiam ler ou escrever e aproveitaram para aprender. Do nosso grupo havia o John Eckert que tinha o quinto ano de Ciências, o Constantino tinha o sétimo de Letras. Eles é que eram os nossos professores. Não tínhamos quadros nem nada, mas com miolo de pão fazíamos uma ferva, dava uma espécie de cola; quando íamos às obras aproveitávamos os sacos de papel, colávamos e fazíamos um quadro. Era assim que fazíamos.”
Jorge da Silva, só com a quarta classe, também estudava – mas o governo da Guiné não autorizou que fizessem exames na Praia. Após o regresso à Guiné a situação familiar não lhe permitiu também fazer exames, regressou aos Correios, em Bissau, e após o 25 de Abril foi transferido para Bafatá, onde ficou até à reforma.
E apesar do que sofreu, considera que valeu a pena:
“Valeu a pena trabalhar para que os nossos filhos e netos tivessem uma vida melhor que a nossa. No meu caso foram sete anos dentro daquela prisão. A nossa juventude ficou no Tarrafal.”
Do Tarrafal guarda ainda uma recordação: o livro Luuanda, de Luandino Vieira, que ainda hoje guarda entre os seus livros, depois de o ter lido na caserna, para onde fora levado por Augusto Pereira da Graça.
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.