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Lote Chivava Guilherme

Lote Chivava Guilherme (Sachikwenda)
Sachikwenda
Data da primeira prisão

Lote Chivava Guilherme, mais conhecido por Sachikwenda, nasceu a 28 de Setembro de 1940, na Chipeta (Catabola, Bié, centro de Angola). O pai era Guilherme Macuva e a mãe Ermelinda Chitende Cangulo, ambos camponeses, sendo o pai também ancião da Igreja Evangélica (Congregacional).
Fez o ensino primário na Missão evangélica da Chissamba e depois seguiu com uma irmã e o cunhado para o Moxico, para continuar a estudar e ter uma profissão.
Tornou-se carpinteiro, trabalhou em várias localidades, mas continuou a estudar e, já no ensino secundário, entrou em 1964 no funcionalismo público.
Entretanto, a proximidade com o Congo deu-lhe acesso a informações sobre a independência daquele país. A militância política surgiu quando a UNITA começou a operar na zona, tendo sido influenciado pela actividade do professor Eduardo Jonatão Chingunji, entretanto detido pela PIDE e com residência fixa no Luena, Moxico.
A rede clandestina de apoio à luta da UNITA alargou-se ao longo do Caminho de Ferro de Benguela (CFB) mas foi infiltrada pela PIDE. No dia 1 de Julho de 1969, Sachikwenda e muitos outros (nomeadamente pessoal do CFB, maquinistas, condutores, enfermeiros) foram presos, metidos num avião de transporte militar e enviados para Luanda.
Ficaram oito meses na cadeia de S. Paulo, depois foram "julgados", num processo administrativo sem advogados, em Março de 1970, e enviados a cumprir pena no Tarrafal.
Foi o segundo grupo da UNITA a chegar ao Tarrafal, em 14-03-1970. Sachikwenda, condenado a 10 anos de prisão maior, foi libertado no 1.º de maio de 1974, na sequência do 25 de Abril.
Regressado a Angola, reintegrou-se na UNITA, passou a independência no Bié, depois esteve nas matas acompanhando a organização durante a guerra que se seguiu, até 2002.
Reformou-se com o posto de tenente-coronel.
Extracto do seu testemunho sobre o Campo de Concentração do Tarrafal: "… O comportamento era aquele: uns saíam de manhã, outros na cela, quando almoçam, entram os outros e os que estão na cela vêm almoçar. Um recreio de 15 [minutos] ou meia hora, fora, foi assim durante os 5 anos. A Cruz Vermelha vinha de 2 em 2 anos, saber como é que nós estávamos lá. Então cada cela devia escolher dois ou três que vão representar os outros para serem ouvidos. O correio dificilmente entrava, se vinha um correio, é cortejado [cortado] com um tesoura, as palavras que indicam a evolução da luta em Angola, isso não entra, então, foi assim."

Baseado na entrevista do "Projecto Trilhos", Kuito-Bié 2013, realizado pela Associação Tchiweka de Documentação

 

9423.001.011

Entrevista de Lote Chivava Guilherme, "Sachikwenda" realizada por Paulo Lara, no Kuito, Bié, a 02-08-2013, no âmbito do projeto "Angola – Nos Trilhos da Independência"