Macário Freire Monteiro, “Telo”, nasceu em Cacheu, a 12 de dezembro de 1944. Conheceu Amílcar Cabral quando este trabalhava na Granja: “Mas nunca tive contacto com ele, Naquela altura eu tinha 14 anos. (…) Era o ‘engenheiro Cabral.’”
Aliciado por Sene Guma, aderiu muito jovem ao PAIGC. Oficial de diligências na Administração de Fulacunda, “de vez em quando ia ao mato ter com os colegas (…) quando não havia trabalho, sábado e domingo, ia de manhã e voltava no dia seguinte. Fazia reuniões, conversávamos com as pessoas acerca da situação em que estávamos a viver:”
Preso em Fulacunda, a 30 de Junho de 1962, começou por ficar dois meses em Tite, e depois levado pela PIDE para Bissau: “Aqui estive um mês, fui para a Ilha das Galinhas, onde também estive um mês. A 2 de Setembro de 1962 fomos para Cabo Verde. (..) No ‘África Ocidental’, fomos postos no porão, davam-nos água, um balde, éramos muitos e não havia comida. (…) O Augusto Pereira da Graça é que descobriu o farelo e nos disse: ‘Se a gente não comer isto, vamos morrer.’ Já tínhamos passado um dia de viagem e nada nos tinham dado para comer.”
No Tarrafal “não tínhamos nada para fazer. Estávamos lá entregues à nossa sorte. Tínhamos intervalos três vezes por dia. Das 6H30 às sete, das 11H30 ao meio-dia, e à tarde, das 6H30 às sete.”(…) Nós é que fazíamos a nossa comida. Estivemos dois anos sem comer arroz, era só batata, feijão, carne-seca, atum, café tínhamos de manhã, pão… Não podíamos escrever. (…) Fazíamos damas no chão com giz e jogávamos. Depois de dois anos começámos a estudar, os que tinham mais habilitações davam aulas àqueles que tinham menos.”
Tudo organizado pelos presos: “O meu pai mandava-me dinheiro para os materiais, livros, cadernos.” Preparou-se assim para o exame do 5º anos, que fez no regresso à Guiné.
Regressado à Guiné em1969, deixou-se ficar em Bissau: “Não voltei para Fulacunda porque os meus pais não quiseram. Eles temiam que, se eu voltasse, seria capaz de ser preso novamente”. Tinha um familiar que era delegado do Procurador da República, foi trabalhar com ele à experiência. Mais tarde concorreu para aspirante do Registo Civil e foi colocado em Farim, onde ficou até à independência, continuando sempre ligado ao PAIGC. Regressado a Bissau, em 1984 foi para o Supremo Tribunal de Justiça, onde se reformou.
A independência começou bem, “mas depois as coisas descarrilaram. Depois que o Luís Cabral foi tirado, as coisas só pioraram.(…) depois dele ´so temos dissabores em vez de sabores.(…) Em vez de melhorar, é só piorar.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.