Nasceu em Santa Catarina, a 26 de Fevereiro de 1941. Foi um dos integrantes do grupo que tentou desviar o “Pérola do Oceano” para se juntar ao PAIGC em Dacar:
“Cabral já estava a lutar na Guiné, nós aqui, naquele tempo, não se falava alto, tudo era discreto (…). A ideia é que, uma vez vencida a luta na Guiné, era necessário que o PAIGC nos encontrasse aqui preparados.”
Foi mobilizado após a chegada de José Reis Borges:
“Ele disse-nos que tinha vindo em nome de Cabral preparar a luta. Mostrou-nos a bandeira e o símbolo do PAIGC, que nós não conhecíamos, mostrou-nos o fardamento que nós iríamos usar. Ele também disse que tinha uma vedeta que nos viria apanhar para irmos para a Guiné, isto é, primeiro iríamos para Dakar, onde havia uma representação do PAIGC, e de lá iríamos para Conakry, e que quando desembarcássemos em Dakar estaríamos fardados, com a bandeira do PAIGC hasteada, etc.”
Pouco depois, Reis Borges refere dificuldades, a impossibilidade da vinda da vedeta e pede sugestões:
“Foi aí que surgiu a sugestão de se tomar de assalto um desses barquinhos que faziam a cabotagem, e calhou o Pérola do Oceano.”
Já depois do assalto, surge outra dificuldade: a falta de combustível no barco não permite ir a Dacar. Aportam a Rincão e Reis Borges desembarca, para ir buscar combustível:
“Vocês ficam bem, eu vou a Assomada e regresso logo à tarde". Com isso, nós, que estávamos no barco, ficámos desmoralizados, e o Barnabé apercebeu-se disso. Eu e alguns dos outros decidimos escapulir. O Sérgio ainda me disse: "Goti, e agora?" e respondi: "Eu, quando ele voltar de Assomada, ele não me vai ver".(…) "Se é para morrer, a PIDE vai matar-me na minha casa. Aqui é que não vai ser". (…)
Ananias acabou por ser preso já em casa:
“Fui reencontrar os meus companheiros na cadeia civil. (…) Fomos interrogados, mas as nossas declarações foram consideradas insuficientes. (…) Fomos agredidos, fizeram o que quiseram, mas nós fomos claros: "embarcámos para ir buscar uma vida melhor".
Entretanto Reis Borges fugira para Tabugal e escondera-se numa gruta:
“Na Praia a PIDE apertava-nos, queria saber onde estavam os outros. Até que Leão Lopes, que lhes dava comida no Tabugal, aflito com a pressão da PIDE, que apareceu em Tabugal, foi ter com eles e lhes disse: "Rapazes, é melhor vocês irem se entregar porque eu já não posso mais". Depois de uma semana, eles saíram à noite e o José foi à casa do pai, mandou chamar a PIDE. Ele, quando chegou na Praia, sentou-se e começou a fazer o nosso processo. (…) Sentou-se à secretária, com máquina de escrever, e começou a dactilografar, muito senhor de si, tinha até copo de água para beber. Ele é que foi fazer os nossos processos.”
Ananias e os companheiros estiveram cerca de seis meses na cadeia civil. Depois, segundo conta, um dia, de madrugada, Reis Borges metido no avião e os restantes foram transferidos para o Tarrafal:
“Quando o juiz civil foi ouvir-nos, a nossa versão não coincidia com a dele, Reis Borges, e lá ficámos, até que se deu 0 25 de Abril e fomos soltos a 1 de Maio.”
E que destino gostaria Ananias que fosse dado ao Tarrafal?
“Saudades do Tarrafal eu não tenho. Durante o tempo em que trabalhei com a minha carrinha, quando por lá passava, olhava para aquele portão e exclamava: "Ah, nha casa!" Tarrafal é um monumento, é um património histórico de Cabo Verde e como tal deve ser tratado para que as novas gerações saibam que por lá passou gente de Portugal, Angola e Cabo Verde para que hoje pudéssemos todos ser livres.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.