Desde abril de 1959 que os marinheiros, estivadores e trabalhadores das docas do porto de Pidjiguiti organizavam reuniões para discutir aumentos salariais, reuniões que terão contado com a intervenção de Carlos Correia, que se mantinha em contacto com Luís Cabral e Amílcar Cabral. Além de salários muito baixos, os trabalhadores do porto recebiam parte do salário em senhas para produtos da própria Casa Gouveia e estavam sujeitos às mais variadas formas de autoritarismo e à constante prática de castigos de vária ordem.
Como recordava Aristides Pereira, naquele tempo vigorava a lei do indigenato e assim, por exemplo, às 6 da tarde, no centro de Bissau, tocava uma sirene e os negros tinham de abandonar a cidade.
Os trabalhadores decidiram dar às principais companhias que atuavam na Guiné – Casa Gouveia (CUF), Sociedade Comercial Ultramarina e a firma Barbosa – o prazo de julho para que aceitassem as suas reivindicações. Chegado o prazo, as companhias não cumpriram e, no entanto, a própria CUF já teria aprovado o aumento dos salários, apesar da atitude obstinada em Bissau do seu gerente Carreira.
Face a essa recusa, os trabalhadores avançaram para uma greve, concentrando-se junto ao porto, parando toda a atividade e fechando o portão de acesso ao cais e não descarregando. Diziam que o dinheiro que recebiam não chegava para dar de comer aos filhos. Veio a polícia e perguntou quanto é que ganhavam. Pelas 15h45 desse dia 3 de agosto de 1959, um polícia deu uma bofetada num trabalhador, que caíu e partiu a cabeça. Levaram-no ao hospital.
A polícia, agentes da PIDE, militares e, também, funcionários e civis brancos armados, penetraram no recinto do cais e dispararam indiscriminadamente sobre os grevistas, causando um número indeterminado de mortos e feridos – que se estima possam ter oscilado entre 30 e 50 mortos e dezenas de feridos.
Após a repressão, a PIDE perseguiu grevistas em fuga, em busca dos “cabecilhas”, já que as autoridades coloniais não acreditavam que aquela greve pudesse ter sido organizada por “indígenas analfabetos”.
Pidjiguiti foi também um ponto de viragem na luta dos nacionalistas, que entenderam o erro que fora começar pela cidade, até Cabral lançar a ideia da mobilização a partir das tabancas.
Entretanto, o governo de Salazar envia à Guiné o Subsecretário de Estado da Guerra, Francisco Costa Gomes, que reconhece as razões dos protestos e afirma que “o agravamento do incidente deu-se devido à falta de preparação dos agentes da PSP que, impotentes para actuar de outra forma, fizeram uso das armas de fogo” (Missão do Ministério do Exército às Províncias de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, Julho/Agosto de 1959, ADN/F1/50/235/8)
No II aniversário da repressão no porto de Pidjiguiti, Amílcar Cabral sublinhou: "Não devemos esquecer essa data histórica na luta dos nossos povos para a reconquista da sua liberdade".
Sopra um vento de morte no cais de Pidjiguiti é um verso do poema “Pidjiguiti”, de Vasco Cabral, 1981
Ler o trabalho de Sílvia Roque 3 de Agosto de 1959, Massacre de Pidjiguiti, Bissau, in Miguel Cardina e Bruno Sena Martins (org.), As Voltas do Passado: A guerra colonial e as lutas de libertação. Lisboa, 2018