António Pedro da Rosa nasceu em Santa Catarina, na ilha de Santiago, Cabo Verde, a 25 de Outubro de 1948.
Em Agosto de 1970, integrou um grupo que tentou desviar para o Senegal um barco que fazia ligação entre as diversas ilhas – “Pérola do Oceano” – a fim de se juntar à luta armada na Guiné-Bissau.
O seu envolvimento deu-se através de um primo, José Reis Borges: “Ele se apresentou aqui, entre nós, como coronel do PAIGC, que tinha vindo da Guiné para recrutar pessoas para a luta. (…) Apresentou-nos um plano, o projeto de tomar de assalto o ”Pérola do Oceano”, e através dele irmos para Dacar, de onde rumaríamos para Conacri.”
António Pedro arranjou um bilhete de identidade falso para o primo, comprou-lhe passagem no barco para a Brava e ainda armas necessárias à operação, facas e pistolas de 32.mm. Outro membro do grupo, Arlindo Reis Borges, alfaiate, fez fardas para todos: “No alto mar, já depois da Cidade Velha, quando já não víamos a Cidade da Praia, pusemos o barco à nossa disposição, para irmos para o Senegal. Nisso o José dos Reis Borges falou com o dono do barco, um senhor chamado Barnabé, e este lhe disse: ’Nós não temos combustível que nos dê para chegar a Dacar.’”
José decidiu ancorar no Rincão, e ir com outros dois membros do grupo comprar combustível a Assomada. Como não voltassem, alguns abandonaram o barco. E como este não chegasse às ilhas onde era esperado, houve comunicações para bordo e o capitão explicou que tinha sido assaltado e estava em Rincão: “Acabei preso mesmo lá no Rincão pela tropa e pela polícia, e levaram-me para Assomada.”
No dia seguinte foi levado para Cidade da Praia, onde foi torturado – “deram-me uma coronhada na cabeça, bofetadas no ouvido (…) às vezes éramos acordados para interrogatórios, altas horas da noite (…) durante muito tempo não tivemos nem colchão para deitar” – e, em Fevereiro de 1971, foi enviado para o Tarrafal: “Ao chegarmos levaram-nos para o gabinete do chefe do campo e ele começou a ler o regulamento interno. Aquilo deu-nos um “corte” na barriga, de tão horrível. (…) Ele dava ênfase àquelas instruções, de modo a nos sentirmos aterrorizados por dentro.”
No Tarrafal, aproveitou para estudar e aprender costura e artesanato.
Só viria a sair no 1.º de Maio de 1974: “Fui para casa, depois fiz o exame do segundo ano do ciclo preparatório e, como não tinha trabalho, passei a trabalhar na Câmara Municipal, nos serviços de apoio e mais tarde empreguei-me como professor durante muito tempo.”
Considera que o sofrimento valeu a pena: “Eu conheci Cabo Verde antes da independência e conheço Cabo Verde depois da independência e, portanto, vejo a diferença.”
“O lugar [do Tarrafal] em si devia estar preservado, cuidado, para quando os jovens fossem lá passassem a conhecer essa parte da nossa história, para que soubessem respeitar a independência de Cabo Verde.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.