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Artur Cândido Roriz Pereira

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Data da primeira prisão

Herdeiro dos ideais republicanos do 5 de Outubro, participou ativamente no combate ao regime ditatorial que vigorou em Portugal durante 48 anos. Foi por isso perseguido, detido mais de uma vez, e esteve preso durante dois anos. Homem de grande carácter, culto, poeta, foi ainda um elemento determinante no movimento associativo dos Bombeiros Voluntários. 

Artur Cândido Roriz Pereira nasceu em Barcelos, em 5 de Março de 1891, e faleceu na mesma localidade, na sua residência (no Largo José Novais), em 30 de Outubro de 1962. Frequentou o Externato Barcelense (Guimarães) em 1917, e fez exame do 3° ano do curso geral dos liceus no Liceu Martins Sarmento. Foi gerente da livraria ABC, do Porto, a partir de 1930, tendo ainda trabalhado na Tipografia "Minerva de Famalicão", do democrata José Casimiro da Silva. Em 1934 casou com Júlia Gonçalves Ramos Roriz Pereira, com quem teve filhos.
Exerceu, pelo menos por três vezes, o cargo de administrador do concelho de Barcelos, durante a I República.
“Republicano Histórico”, pertenceu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e apoiou as candidaturas à Presidência da República de Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958).
Amigo de Abel Salazar, acompanhou-o em janeiro de 1939, numa visita à cidade de Barcelos, à feira e aos oleiros.
Antes da sua prisão em 1942, foi muito perseguido pela polícia política, que tentou prendê-lo por diversas vezes, em sua casa, no Largo José Novais. Acerca dessas prisões, contam-se algumas histórias. Que, de uma vez, se disfarçou de padre e saiu sem que os agentes se apercebessem da sua verdadeira identidade; de outra vez, saltou para o quintal da casa ao lado, a Casa dos Machados da Maia (atual Biblioteca Municipal), onde funcionava um lar de idosas e aí permaneceu. Como deslocou, então, um osso da perna, foi socorrido pelo seu amigo Dr. Francisco Torres que lhe prestou os primeiros socorros, tendo depois saído em maca, para a sua residência, no meio de muita gente que enchia o largo onde morava e que se regozijava com o facto de ele não ter sido detido. 
Foi primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, de 1936 a 1942, Inspetor de Incêndios e Delegado Distrital da Liga dos Bombeiros Portugueses.
No ano de 1936, por falecimento do anterior Comandante, foi nomeado para gerir o Corpo Ativo dos Bombeiros. Dotado de uma extraordinária sensibilidade e homem de grande carácter, foi um Comandante com bastante atividade, mas ao fim de poucos anos começou a ser perseguido pela polícia política (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado – PVDE), em virtude das suas manifestações politicas, contrárias ao regime da ditadura. Acabou por ser preso e, depois, afastado da Associação e do Comando, uma vez que nessa época não podiam fazer parte de instituições ou organismos públicos pessoas com ideias contrárias ao regime. No entanto, Artur Roriz deixou marca da sua passagem pelos Bombeiros, pela extrema dedicação com que exerceu funções durante 7 anos.
A sua ação de voluntariado foi reconhecida pelo Conselho Administrativo e Técnico da Liga dos Bombeiros Portugueses que, em sessão de 5 de julho de 1937, exarou um voto de profundo reconhecimento. Em janeiro de 1939, foi nomeado comandante honorário da Associação dos Bombeiros da Póvoa de Varzim. Foi condecorado com a medalha de prata do Instituto de Socorros a Náufragos, em dezembro de 1939.
A PVDE iria prendê-lo em 21 de janeiro de 1942 e só regressaria da prisão em março de 1944. Não voltou, por isso, a exercer as funções de 1° Comandante dos Bombeiros Voluntários de Barcelos.
Mais tarde, em agosto de 1945, foi empossado como Comandante Honorário dos Bombeiros Voluntários de Esposende.
Quando morreu, era funcionário superior da Companhia Editora do Minho, responsável pela revisão de textos dos livros a editar, e diretor da Empresa Teatral Gil Vicente.
Prestigiado jornalista, fundou e dirigiu as publicações barcelenses "O Despertar'' (1909) e o semanário "A Verdade"(1922) e foi redator de "A Opinião" (1931). Colaborou ainda em outros jornais, designadamente em "O Barcelense".
Foi autor, juntamente com Décio Nunes e Augusto Soucasaux, das peças de teatro de revista "Ai que Treta Se Mariquinhas" e "Ou Vai Ou Racha", que foram representadas no teatro Gil Vicente, respetivamente em 1935 e 1955.
Poeta, deixou no semanário local "A Verdade" [fundado em 1922 e dirigido por si] algumas poesias, com o pseudónimo Afonso Gorky.
Foi correspondente em Barcelos do diário portuense "O Primeiro de Janeiro".
O escritor barcelense Fernando Lopes recorda-o assim: «Tantas vezes ali entrei, naquele escritório do rés-do-chão. Eu, um jovem ainda. Ele...Bem, sempre o conheci daquele jeito: um físico seco e sobre o miúdo, o rosto magro, nariz adunco, farta cabeleira grisalha subindo em cascata de ondas, os olhos claros e vivíssimos, límpidos, irrequietos... Um jovem que nunca pude entender calhado no fato escuro, sempre escuro, que a mim parecia vir dos tempos da República. Um jovem, sim, apesar de marcado pelos anos, uma genica nos gestos, um verbo de fogo, uma capacidade enorme de acreditar nos homens, no futuro, na vida. Homem que vinha dos tempos, para mim recuadíssimos, da propaganda republicana, democrata, resistente no fascismo até á morte..." 
Em abril de 2016, o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, Lisboa, lembrou o seu exemplo, promovendo uma exposição e diversas atividades em torno da sua figura.

Biografia da autoria de Helena Pato