banner

 

Augusto Pereira da Graça

Augusto Pereira da Graça
Data aproximada da primeira prisão
1962

Augusto Pereira da Graça (“Neco”), nasceu em Farim, a 5 de agosto de 1939. Através do pai, José Pereira da Graça, cabo-verdiano (da ilha de Santiago), conheceu Amílcar Cabral quando este era responsável da Estação Zootécnica em Bissorã e frequentava os cabo-verdianos que ali moravam.
Radiotelegrafista, funcionário do Correios de Bissau, integrou o PAIGC a 13 de Julho de 1959, “por causa da situação política que se vivia aqui na Guiné. (…) O domínio e a exploração coloniais. (…) O que mais nos influenciou foi a política da República da Guiné, ajudou-nos muito a ter experiência, a perceção do que era a liberdade.”
Em 1962, responsável pela mobilização no Norte e Leste, foi preso na sequência de um encontro com dirigentes do partido em Bafatá: “A tropa recebeu a informação da presença desses dirigentes e a zona foi invadida. Os que escaparam foram parar a Geba. E a partir dos mesmos informadores os portugueses souberam que em Geba estavam militantes ativos do PAIGC.”
Convenceu-se que iria morrer: “Todos os dias os nossos companheiros eram fuzilados (…) Mandaram-me duas vezes cavar a minha vala. No meu caso, aparecem pessoas que tiveram pena de mim. (…) Um alferes cabo-verdiano, chamado Fernando, disse ao capitão: “Este é uma criança, não sabe nada, ele, se for fuzilado, morre inocentemente. Na segunda vez foi o mesmo pedido.”
A ordem foi dada pela terceira vez – mas na mesma altura veio a ordem de serem transferidos para o Tarrafal, com uma paragem breve na Ilha das Galinhas: “Nós, de Bafatá para a ilha das Galinhas não sabíamos qual era o nosso destino. Da Ilha das Galinhas para Cabo Verde também não. Fomos levados num navio pequeno, o Corubal (…) depois fomos embarcados no Africa Ocidental, em Pontão, e aí continuámos aa viagem sem saber para onde íamos.” Só quando o barco ancorou, ao ouvir a conversa entre o comandante e os homens do bote que os levou a terra, é que percebeu pelo sotaque que estavam em Cabo Verde: “E, pelo caminho, um polícia cabo-verdiano é que nos disse que íamos para o Campo de Trabalho de Chão Bom.”
Divididos em duas casernas, apenas saíam para as refeições. As cartas para a família eram censuradas, rasuradas, por vezes recusadas. “Quando a luta se tornou muito intensa, Portugal viu que já não havia hipótese de manter com mão de ferro a sua administração, começou a melhorar a nossa situação no Tarrafal. (…) Anualmente éramos chamados à Secretaria, e perguntavam-nos se estávamos ou não arrependidos. Os convictos, os convencidos, a resposta era perentória: “Mas como é que nos vamos arrepender, se não fizemos nada? Aquilo que se diz que nós fizemos é o nosso direito que reclamamos.” (…) Os mais convictos foram os últimos a sair.”
Saíram em 3 levas: 1965, 1967, 1969. Mas logo em 1962 morreram dois presos: “Depois de tanta porrada que nós recebemos na Guiné, esses dois indivíduos eram de idade muito avançada e não aguentaram. (…) Um morreu no dia 12 e o outro no dia 24 de Setembro.”
Augusto fez parte do último grupo guineense a deixar o Tarrafal, a 3 de Agosto de 1969. Ia com indicação de continuar preso: “Mas o governador ao tempo, Spínola, disse que não ia deixar ninguém na prisão. (…) Fomos postos todos, nesse dia, em liberdade. O governador ordenou também que cada um fosse reintegrado no seu posto de trabalho.”
Em Dezembro de 1972 foi para Conacri, na República da Guiné. Após a independência, foi nomeado secretário-geral do Ministério da Juventude, Cultura e Desportos, passando depois para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Orgulhoso da sua militância na luta pela independência, chocou-o que, “depois daquilo que se fez nessa longa caminhada, chegados ao destino, estejam a acontecer coisas incríveis.” “Mesmo assim, podia ter-me arrependido, se não tivesse participado na luta pela independência desta terra.”

Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.