Constantino Lopes da Costa nasceu em Babadinca, Bafatá, Guiné-Bissau, a 11 de Março de 1938. O pai, Luís Lopes da Costa, combatera contra Teixeira Pinto, durante a chamada “guerra de pacificação”: “Ele, em casa, contava histórias da resistência, aquilo foi como que semente lançada no nosso espírito. Por isso, quando chegou a nossa vez, eu quis participar na luta pela independência da nossa terra.”
Aderiu portanto ao PAIGC, trabalhando na mobilização com Rafael Barbosa, e vindo a ser preso a 15 de Março de 1962,dois dias depois da prisão daquele: “Passei alguns meses em Bissau, na Segunda Esquadra, depois levaram-me para a prisão de Mansoa. Lá passei também alguns meses e só depois é que eu e um grupo (éramos cem pessoas) fomos enviados para a ilha das Galinhas e de lá para o Tarrafal.” Chegado ao campo a 4 de Setembro de 1962 –“Era uma tarde com chuvisco. Levaram-nos do porto diretamente para o campo de trabalho” – ali ficou quase sete anos, até 1969.
Só ao fim de quase dois anos de reclusão começaram a sair para trabalhos no exterior: “Escolhiam um grupo de nove pessoas, trabalhava durante uma semana, depois vinha outro grupo, sempre por turnos.” Também por essa altura uma oferta da Cruz Vermelha permitiu-lhes requisitarem livros para ler: “A partir de uma certa altura foi montada uma pequena biblioteca no Campo – eu era o responsável pela parte dos guineenses e o Luandino pela parte dos angolanos. Chegámos, inclusive, a fazer ficheiros dos livros e dos leitores. Foi ele que organizou aquilo tudo.”. “Não tínhamos outra coisa a fazer senão ler. (…) Requisitava-se um livro, lia-se, devolvia-se e requisitava-se outro.”
Mas embora tanto os guineenses como os angolanos tenham aproveitado o tempo para estudar, os primeiros foram autorizados a fazer exames, os segundos não: “No Tarrafal não éramos todos iguais. Uns eram guineenses, outros angolanos, mulatos, negros, brancos, etc.. O trato não era igual.”
Terá sido, aliás, um protesto por essa diferença de tratamento que levou ao encerramento na cela disciplinar (conhecida como “holandinha”) do guineense Bernardo Mango: “Muitos meses e, quando saiu, saiu doente. Não falava. Não explicou a ninguém o que lhe tinha acontecido. Quando se sentava, por exemplo, ficava parado, não virava. Minuto a minuto sentia ânsia de vomitar.”
Reenviado para a Guiné em 1969, Constantino nunca foi julgado: “No dia 3 de agosto de 1969, levaram-nos para o palácio, num salão, onde estava o governador Spínola, fizeram-nos um discurso, e pronto, ‘estão livres’.” :”Eu era funcionário das Alfândegas, quando voltei não me reintegraram e então fui trabalhar para as Finanças.”
Depois da independência viria a ter uma longa carreira diplomática, tendo inclusivamente sido embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa.
Preso com 24 anos, liberto com 31, se lhe dói “o tempo perdido na prisão”, recorda a “perfeita irmandade e camaradagem” entre os presos. E considera o campo do Tarrafal um lugar histórico: “Se fizerem um museu ficaria bem, porque é um marco histórico para nós todos.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.