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Abílio Gonçalves

Abílio Gonçalves
O Garradas
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Data da primeira prisão

Filho de Quitéria da Conceição e de José Gonçalves, Abílio Gonçalves, “O Garradas”, nasceu em Silves, em 18 de Maio de 1884.
"Anarco-Sindicalista desde muito jovem", "vestia-se de modo peculiar", "tinha dotes de orador" e "destacou-se no seio dos corticeiros e na sua Associação de Classe“.
No Barreiro, trabalhou na fábrica Cantinho & Marques, Lda, tal como José dos Reis Sequeira, seu conterrâneo, que o descreve como “um tipo original”, “o protótipo do anarquista clássico, infelizmente analfabeto”.
A viver e a trabalhar no Barreiro, amigo e correligionário de João Montes, foi preso em 20 de janeiro de 1934, à entrada de Alhos Vedros, acusado de participar em reuniões e ter na sua posse bombas de dinamite, recebidas de Bernardino Augusto Xavier, a utilizar no movimento revolucionário de 18 do mesmo mês.
Julgado no Tribunal Militar Especial de 5 de fevereiro, foi condenado a dez anos de degredo, com prisão, multa de vinte mil escudos e perda dos direitos políticos por dez anos.
Embarcou, em 8 de setembro de 1934, para Angra do Heroísmo e dois anos depois, em 23 de outubro de 1936, integrou a primeira leva de presos políticos enviada para o Tarrafal, de cujo Campo só foi libertado em 16 de novembro de 1945.
O livro Tarrafal - Testemunhos refere-se a "O Garradas" como um velho militante das lutas sindicais", "rijo, vaidoso da bigodeira que penteava muitas vezes no espelho suspenso do apoio central da barraca" e que terá sido o primeiro preso a ser afetado pela biliosa, embora tenha recuperado [Caminho, 1978].
Cândido de Oliveira anotou, no livro “Tarrafal - O Pântano da Morte”, editado postumamente em 1974, que Abílio Garradas sobreviveu a três biliosas (10-01-1937, 18-02-1939, 30-11-1941).
Ele «dizia não gostar de “andar a toques”, pelo que diariamente se levantava antes do toque da alvorada e se deitava antes do toque de recolher».
Gilberto de Oliveira, em Memória Viva do Tarrafal, incluiu-o na lista de cerca de três dezenas de “rachados”, aqueles que ganhavam alguns "benefícios" por transigirem com as autoridades salazaristas do Campo; José Correia Pires, citado por Maria João Raminhos Duarte, "ao contrário deste, fala da invulgar irreverência de Abílio Gonçalves (o Garradas) e da sua fidelidade ao anarquismo.
Regressou no paquete "Guiné" em 1 de fevereiro de 1946, "com a saúde muito abalada" e "morreu triste e esquecido”.
Com 52 anos, foi o mais velho preso político a ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal.

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Texto original: João Esteves
Cfr. Maria João Raminhos Duarte, Silves e o Algarve - Uma História da Oposição à Ditadura (1926-1958), Colibri, 2010
Gilberto de Oliveira, "Memória Viva do Tarrafal", Edições Avante!, 1987
José Correia Pires, "Memórias de um prisioneiro do Tarrafal", Ed. Déagá, 1975
Nota: A data da primeira prisão é a que consta do respetivo Cadastro (no RGP é indicado o dia 18-01-1934)