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Américo Gonçalves de Sousa

Américo Gonçalves de Sousa
1697
Data da primeira prisão

Natural de Lisboa, freguesia de Santo Estêvão, nasceu em 18 de julho ou 3 de agosto de 1918 (dúvida nos docs.PIDE), filho de Maria Gonçalves e de Joaquim Mário de Sousa.
Fundidor de profissão, foi militante e dirigente do Partido Comunista, tendo integrado o seu Comité Central, Américo Gonçalves de Sousa, “O Russo”, iniciou muito novo a atividade política, esteve várias vezes preso (totalizou cerca de 16 anos nas prisões salazaristas e 19 de intensa e continuada luta clandestina) e conheceu as principais prisões [Aljube, Peniche, Caxias, Tarrafal], sendo enviado, com apenas 18 anos, para o Campo de Concentração do Tarrafal.
A sua militância política iniciou-se na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP), quando trabalhava no Arsenal da Marinha, e prolongou-se por décadas. Preso pela primeira vez em 7 de setembro de 1935, por atividades comunistas, Américo de Sousa percorreu, em escassos meses, o Aljube, Peniche e de novo o Aljube, de onde partiu para o Tarrafal: detido inicialmente numa esquadra, foi transferido para a Cadeia do Aljube em 30 de dezembro e, em 28 de Abril de 1936, para a Fortaleza de Peniche, regressando ao Aljube em 6 de Maio, data em que foi julgado e condenado pelo Tribunal Militar Especial a 18 meses de prisão correcional.
Foi enviado em 17 de outubro para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, integrando o primeiro grupo de presos que ali chegou, a 29 do mesmo mês.
Cumprida a pena a que fora condenado, continuou em prisão preventiva no Tarrafal, de onde só regressou em 15 de julho de 1940, sendo então “restituído à liberdade por ter sido amnistiado”.
Voltou à luta política e, ainda em 1940, integrou, com Joaquim Pires Jorge [28-11-1907 - 06-06-1984], José Gregório [19-03-1908 - 1961], Júlio de Melo Fogaça [10-08-1907 - janeiro de 1980], Manuel Guedes [14-12-1909 - 08-03-1983], Militão Bessa Ribeiro [13-08-1896 - 02-01-1950] e Sérgio Vilarigues [23-12-1914 - 08-02-2007], o primeiro grupo que procurava a reorganização do Partido Comunista. No ano seguinte, era funcionário, tal como todos aqueles, usando o pseudónimo de “Abel”.
Em Julho de 1946, Américo de Sousa participou no II Congresso Ilegal do Partido Comunista realizado numa casa da Lousã, alugada com a ajuda do casal António Correia e Natividade Correia.
Quinze anos depois de se libertado do Tarrafal, em 29 de setembro de 1955, quando era dirigente do Comité Local de Lisboa e destacado membro do Comité Central, foi preso em Lisboa e levado para o Aljube. Em 22 de novembro passou para o Forte de Caxias, onde foi sujeito a continuados castigos.
Em 3 de fevereiro de 1957 regressou ao Aljube, cadeia de onde se evadiu na madrugada de 26 de maio do mesmo ano com Carlos Brito e Rolando Verdial através da janela de uma enfermaria desativada situada no último andar e para onde tinham sido enviados os presos mais perigosos: numa fuga audaciosa, que contou, entre outros, com o apoio da militante comunista Deolinda Franco, cortaram parte das grades e, após passarem por vários prédios, apanharam um táxi no Largo da Graça.
Mais uma vez, Américo de Sousa regressou ao trabalho clandestino do PCP, continuando a integrar o Comité Central eleito no V Congresso realizado entre 8 e 15 de dezembro de 1957, desempenhando papel relevante na preparação das eleições de 1958 e nas opções do PCP (apoio a Cunha Leal, Arlindo Vicente e, finalmente, Humberto Delgado)
No ano seguinte, em abril, integrou com Alexandre Castanheira e Octávio Pato a delegação do Partido Comunista que se reuniu em Itália com o Partido Comunista Italiano.
Américo de Sousa voltou a ser preso a 15 de dezembro de 1961, juntamente com Carlos Costa, quase cinco anos depois de andar fugido e ter regressado à clandestinidade.
Nesta sua terceira prisão, voltou a fazer o percurso Caxias-Aljube-Peniche, prisão para onde foi transferido em 18 de abril do ano seguinte por ter sido condenado, por cúmulo jurídico, a uma pena de 4 anos. O vaivém entre as prisões não parou, já que em 1 de junho de 1964 entrou, mais uma vez, em Caxias, de onde foi transferido, a 25 de Setembro, para Peniche. 
Em 23 de Fevereiro de 1965, foi condenado na pesada pena de oito anos e meio, supressão de direitos políticos por quinze e medidas de segurança de internamento de seis meses a três anos, prorrogável, as quais iniciou em dezembro de 1968.
Quase toda a década de 1960 foi passada em prisões, já que Américo de Sousa só seria libertado em 20 de outubro de 1971, depois de ter estado preso consecutivamente quase dez anos.
Dirigente da URAP depois do 25 de Abril de 1974, faleceu em março de 1993.

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Texto original: João Esteves
Cfr. José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal – Uma biografia política, vol. 2, 1941-1949