Nasceu em Santa Catarina, na ilha de Santiago, Cabo Verde, a 17 de junho de 1938. Ainda criança, acompanha a deslocação dos pais para Angola, regressando depois a Cabo Verde. Cativado pelos ideais de Amílcar Cabral, envolve-se, em 1968, na mobilização política a favor do PAIGC, num grupo orientado por Pedro Rolando Martins e Ivo Pereira, “Fefa”:
“Eles eram rapazes com mais instrução e cultura do que nós e nós seguíamos as orientações deles. À noite nos reuníamos, às escondidas, com outros colegas nas nossas localidades, para evitarmos a PIDE. E como estávamos já nessa altura bem formados, e como Cabral dizia, na Guiné, que tinha de vir um grupo de homens bem preparados para preparar homens em Cabo Verde, nós éramos dos que estavam convictos de seguir nessa linha. (…)”
E é assim que se envolve na tentativa de desvio para Dakar de um barco que faz carreira entre as ilhas.Ainda em 1968, “aparece um tal José (dos Reis Borges), que até é meu parente, formado, que dizia ser coronel do PAIGC e que veio para aqui mobilizar um grupo de homens para ir a Conacry tomar instruções. (…) e nós acreditámos, convictos que estávamos na luta pela libertação nacional.”
Alfaiate de profissão, Arlindo irá fazer fardas do PAIGC para todos os envolvidos na operação, bem como uma bandeira do Partido para içar perto do destino. O que depois se passa é bem diferente:
“Quando o barco chegou a um lugar chamado Rubon Porco, José foi ter com o comandante e disse-lhe que tinha de rumar para o Senegal. O comandante disse-lhe: “Pode até ser, só que não temos combustível suficiente, por isso não é possível.” Foi a partir daí que o barco foi “encostar” em Rincon e a maior parte do grupo desembarcou e fugiu.(…) Eu e mais três colegas ficámos no barco, quando o dia clareou, uma ou duas horas depois, os tripulantes nos atacaram e disseram: “Estes quatro vamos atirar ao mar. (…) Nisso apareceu um outro tripulante que disse: ”Não, não os vamos atirar ao mar, mas sim entregá-los à PIDE.” A PIDE foi comunicada e com uma “gasolina” foi apanhar-nos no alto mar. Fomos levados para a Praia, desembarcámos e levados para a delegação da PIDE. Fomos fechados dentro de uma latrina. No dia seguinte mandaram-nos sair, para nos lavarmos e prestarmos declarações. Estivemos três meses na Praia nisso. Estivemos na Praia sete meses – quatro meses na Cadeia Civil – e de lá fomos levados para o Campo de Concentração.”
À chegada do grupo ao Tarrafal, o diretor do Campo, Dadinho Fontes, mandou chamar um guarda que era de Santa Catarina e perguntou-lhe se conhecia os presos: “Sim, conheço, é filho de fulano de tal, este é meu primo, esta também é meu primo, este é meu grande amigo, conheço-os bem.” (…) No dia seguinte perguntámos pelo tal guarda, e nos disseram que o diretor correu com ele.”
Arlindo recorda, no entanto, que chefes da Polícia cabo-verdianos, bem como alguns guardas, ajudaram os presos. Seria aliás um guarda a alertá-los no dia 1 de Maio de 1974: “Rapazes, vim dar-vos notícia. Há qualquer coisa para vocês – a rua está cheia, homens, polícias, tropa, está tudo na rua, a pedir a vossa libertação.” (…) Num dado momento entrou o Dr. Felisberto Vieira Lopes, acompanhado de David Hopfer Almada, Arlindo Vicente Silva, que nos disseram: “Rapazes, até que enfim, vocês vão sair agora.” Foi aí que soubemos que era verdade, que íamos ser libertados.”
Sem esquecer que “aquilo era triste”, como quando foram fechados seis meses por se terem recusado a comer pão queimado, e lamentando que o seu contributo para a luta seja pouco reconhecido, Arlindo não se arrepende: ”Gostaria de voltar a ser jovem para poder voltar a lutar. Eu sou assim, jurado na conservatória, até morrer. Eu nasci aqui. Cabo Verde é a minha mãe, se necessário, eu morro por ele.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.