Nasceu em Bolama a 8 de Março de 1937. Católico, professor catequista, foi mobilizado por um colega, José Sanhá, aderindo ao PAIGC em finais da década de 50: “Nós todos estávamos cansados do colonialismo e era precisamente isso que dizíamos à população: ‘Nós todos estamos cansados’ Ninguém estava contente com o regime colonial.”
A 7 de Junho de 1962, cai numa emboscada na tabanca de Unale, é preso, levado para Tite, onde passa um mês, e depois para a Ilha das Galinhas, onde fica mais um mês, sendo depois deportado para o Tarrafal: “Na hora de embarcar eu e um colega, Benjamim de Barros, vimos escrito num envelope grande: ‘Seguem para CV.’ Logo desconfiámos que seria Cabo Verde, éramos dos poucos que sabíamos, mas não dissemos nada a ninguém. (…) Fomos para Cabo Verde já sem esperança de voltar para a Guiné. Fomos sem ser julgados, não sabíamos que condições iríamos enfrentar. (…) Logo que chegámos, dois de nós morreram. Um era “homem grande”. Biaba Na Bué, e o outro, Cutubo Cassamá, balanta. (…) Depois que esses dois camaradas morreram, chegaram médicos para nos inspecionar e deram ordens que nós tínhamos que apanhar sol, que devíamos também nadar na praia.”
Ficou até 1969, recusando sempre declarar-se arrependido: “Era a independência que nós queríamos e não nos sentíamos culpados por esse desejo.”
De volta a Bissau, abriu uma escola particular e dava aulas três vezes por dia, de manhã a crianças, à tarde a jovens, à noite a adultos. Sete meses depois foi de novo preso e espancado, chegando a desmaiar. Libertado ao fim de três meses, conseguiu fugir para uma das zonas libertadas pelo PAIGC, Sara.
Após a independência foi responsável do tribunal regional do Oio, de onde saiu por se recusar a dar ordens para fuzilar algumas pessoas entretanto presas: “Eu sou religioso, católico, além disso o meu coração não dá para maltratar ninguém, eu sinto isso como se fosse em mim próprio. O que eu passei na prisão não preciso ver outro passar.”
Nomeado administrador de sector em 1988, desempenhou o cargo até 1999, altura em que a vitória de Kumba Ialá ditou a sua reforma.
Para ele, o tempo que passou no Tarrafal “valeu a pena, porque vimos o seu fruto - a independência. Serviu para acabar com a maldade do colono, serviu para acabar com o colonialismo.” Por tudo isso, o Tarrafal “é um lugar marcante, histórico.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.
Conheça o testemunho de Cândido Joaquim da Costa no documentário de Diana Andringa disponível em https://memorial2019.org/dossier/tarrafal/tarrafal-memorias-do-campo-da-morte-lenta