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Emídio Santana

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Data da primeira prisão

Emídio Santana é um dos mais destacados lutadores anarcossindicalistas.  Preso por várias vezes e deportado. 
Nasceu a 4 de julho de 1906, filho de um serralheiro e mãe doméstica. Estudou na Escola Oficina n.º 1, no Largo da Graça, e começou a trabalhar aos 14 anos. A seguir ao golpe fascista do 28 de maio, iniciou a sua actividade contra a ditadura e participou na organização do movimento anarcossindicalista português. Foi o responsável pelo nascimento de várias tipografias clandestinas onde se imprimiam panfletos contra o regime. Foi igualmente membro do Sindicato dos Metalúrgicos, e director do jornal “A Batalha”.
Preso por várias vezes, nomeadamente no forte de Elvas, foi também deportado para os Açores em 1932.
Após diversas ações violentas contra ministérios e outras instalações do regime e de apoio ao fascismo franquista, um grupo heterogéneo de pessoas – que incluía motoristas de táxi de Lisboa, dirigentes anarquistas, com destaque para Emídio Santana, e, a título individual, alguns militantes do PCP – decidiu executar um atentado diretamente contra Salazar – “se Salazar se sentia autorizado a comprometer o país no conflito espanhol, nós, cidadãos portugueses, na legitimidade dos nossos direitos, tínhamos o dever de opor-nos à vilania da agressão e preferimos a lealdade e a solidariedade”, (in Memórias de Emídio Guerreiro).
No dia em que Emídio Guerreiro completava 31 anos, domingo, 4 de julho de 1937, esse atentado foi concretizado: o ditador chegava numa viatura Buick à rua Barbosa du Bocage, em Lisboa, onde ia assistir, como habitualmente, à missa na capela particular do seu amigo, Josué Trocado; por volta das 10.25 horas, um estrondo sacudiu as Avenidas Novas mas Salazar escapou ileso, apesar dos muitos estragos provocados – um erro de posicionamento do petardo desviou a onda de choque e frustrou o atentado.
Na sequência do atentado, centenas de resistentes são presos e torturados pela polícia política.
Também Emídio Santana é procurado pela PIDE e foge para o Reino Unido, acabando por ser identificado em Southampton pela polícia inglesa que o prende e o envia para Portugal, onde dá entrada na Cadeia do Aljube, “para averiguações”, no dia 19 de outubro de 1937, cerca de 3,5 meses após o atentado.
Entretanto, a PVDE não perdera tempo e, no dia 22 de agosto de 1937 anuncia nos jornais, com enorme destaque, que “descobriu e prendeu os cinco implicados no atentado contra o chefe do Governo", cujas fotografias os apresentam como o “grupo terrorista do Alto do Pina”. A mesma PVDE fazia publicar que o crime fora preparado por comunistas, com ramificações internacionais ao Comintern e à Rússia dos Sovietes. Foi evidente que eram inocentes que a tortura obrigara a confessar, vindo a ser libertados alguns meses depois.
A verdade, no entanto, é que a fúria assassina da polícia causara a morte durante os interrogatórios de Augusto Almeida Martins e de José Lopes da Silva, “caído” de uma janela da sede da PVDE.
Após a sua prisão, Emídio Santana percorre as Penitenciária de Lisboa e de Coimbra.
O Tribunal Militar Especial condena-o, em 15 de janeiro de 1939, a 8 anos de prisão maior celular, seguida de degredo por 12 anos ou, em alternativa, a 25 anos de degredo em possessão de 1.ª classe.
Acabaria por ser libertado a 23 de maio de 1953.
Após a sua libertação continuou empenhado na luta antifascista, participando na vida do Ateneu Cooperativo (1954), da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, a cuja Direção presidiu em 1965, e da DECO (Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor), integrando o seu núcleo fundador (fevereiro de 1974). Participou ainda em comícios da CDE e CEUD, abordando temas sindicais (legislativas de 1969).
A partir do fim da ditadura, Emídio Santana retoma a vida militante ativa, nomeadamente como diretor do jornal A Batalha. Sendo um forte crítico do controlo político da CGTP por parte do PCP, qualificou o congresso de 1977 de um "espectáculo amorfo" com um "numeroso auditório presidido por um vultuoso colégio que do princípio ao fim dirigiu os trabalhadores e o controlou segundo um programa rigoroso e inalterável. Afinal uma caixa de ressonância". Onde "as votações estavam asseguradas; os cartões de voto inúteis". "O congresso apenas consagrou as propostas da Comissão Organizadora elaboradas sob inspiração e uma providência conhecida". Criticou também o facto de um suposto congresso de operários ter como hino "A Portuguesa" em vez do "legítimo e inconfundível hino", a Internacional. Já sobre o IV Congresso da CGTP (1983), para Emídio Santana não passou de "um comício em que a assistência funcionava como aparelho de aplausos" e "uma missa de fiéis voltados para Moscou".
Em 1985, Emídio Santana escreveu Memórias de um militante anarcossindicalista, livro onde recorda momentos importantes da sua vida de militância política.
Foi co-fundador do Centro de Estudos Libertários e do Arquivo Histórico Social, doado à Biblioteca Nacional em 1985.
Morreu em Lisboa a 16 de outubro de 1988.

(Dados recolhidos por Helena Pato em colaboração com Teresa Guimarães Rodrigues)