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Jaime dos Santos Serra

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19050
Data da primeira prisão

Dirigente do Partido Comunista Português, era operário até entrar na clandestinidade. Na Resistência antifascista tornou-se especialmente conhecido pelas diversas fugas audaciosas, pelas prisões, e por ter dirigido a ARA-Acção Revolucionária Amada - organização criada pelo PCP com o objetivo de desencadear ações armadas contra a ditadura fascista.
A PIDE prendeu-o quatro vezes, esteve detido cinco anos, mas fugiu da cadeia por três vezes e preparou outras tentativas. Quando fez 74 anos, o filho José escreveu-lhe uma carta a pedir-lhe que lhe contasse a sua vida. Os filhos tinham crescido, (por causa da clandestinidade), longe do pai e da mãe, e sabiam as suas opções políticas, mas queriam compreender e conhecer a sua vida (1). Só depois do 25 de Abril de 74 a família se juntara toda à volta da mesma mesa. Em resposta a essa carta Jaime Serra escreveu "Eles têm o direito de saber" e mais três livros, entre os quais “12 Fugas das Prisões de Salazar".
Jaime dos Santos Serra nasceu em Alcântara, Lisboa, a 22 de janeiro de 1921, mês e meio antes da fundação do PCP. O pai, Joaquim Eleutério, trabalhador da estiva, simpatizante do anarco-sindicalismo, era membro da Associação de Classe dos Trabalhadores do Tráfego do Porto e de Lisboa e participava ativamente nas greves e nas lutas operárias, tendo morrido muito cedo, teria ele pouco mais de dez anos). 
Tinha ido com a mulher e com dois filhos para Lisboa, a fim de tentarem uma vida melhor, e aí conseguiu um trabalho de "descarregador de mar". Em casa recebiam "A Batalha" e havia literatura revolucionária. Jaime Serra era ainda muito jovem quando começou a ler essa imprensa e literatura revolucionária. Com 12 anos já tinha lido algumas obras de Zola. É na infância que começa a ter consciência dos combates e das divisões sociais em que o mundo e a sua vida estavam mergulhadas. Com uma vida atribulada de trabalho, o pai, aos 41 anos, teve um acidente, foi hospitalizado e morreu deixando mulher e quatro filhos menores. Jaime vê-se obrigado a abandonar os estudos e a ir trabalhar. Aos 12 anos, um vizinho arranja-lhe lugar numas obras no Barreiro. Carregava tijolos e argamassa, e dormia num barracão das obras – como recorda em Eles Têm o Direito a Saber, “o primeiro ano que passei foi muito rigoroso, dormia dentro de uma banheira de pedra com um pouco de palha a servir de colchão. Só mais tarde tive direito a ocupar uma tarimba. 
Foi nesse barracão que conheceu o primeiro comunista. Era de Porto Brandão e levou-o a frequentar a biblioteca dos Penicheiros, no Barreiro. Assistia também a aulas de esperanto [um projecto de língua universal que tinha muita popularidade em sectores da classe operária]. 
Na sequência da revolta do 18 de Janeiro de 1934, a PIDE e a GNR vão prender um dirigente sindical às oficinas da CP, do Barreiro. Os operários, alertados para a prisão, tocam as sirenes, revoltam-se e cercam as forças policiais exigindo a libertação do camarada. Os operários das redondezas incorporam-se no protesto. Serra que então trabalha na construção das oficinas da CP, larga o trabalho e participa na revolta. Não tarda a aderir à Juventude Comunista e a ligar-se às atividades do Socorro Vermelho.
Começa a militar no PCP em 1935. 
A Revolta dos Marinheiros em 1936, [quando os revoltosos tentaram sublevar os navios de guerra, Dão, Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, tendo como objectivos finais dirigir um ultimato a Salazar no sentido de os seus direitos serem satisfeitos e de serem terminadas as perseguições e libertados os presos políticos], apanha Jaime Serra a caminho do trabalho, uma obra perto do Forte do Alto do Duque. Vê os preparativos militares e é aí que ouve os primeiros disparos da artilharia de costa contra os barcos tomados pelos marinheiros da Organização Revolucionária da Armada, ligada ao PCP.
A sua primeira prisão dá-se nas vésperas de fazer 16 anos, em 24 de janeiro de 1937. Passa o aniversário preso, depois de ter sido apanhado numa rusga e espancado, por ter na sua posse um Avante clandestino: "Estava a distribuir Avantes e fui ter a uma taberna à noite para dar um a um camarada. Como estávamos na altura da Guerra Civil de Espanha, a polícia fazia rusgas frequentes. Fui revistado. Quando viram o 'Avante!' mandaram-me para o Governo Civil de Lisboa. Durante uns dias bateram-me, para explicar como tinha o jornal. Respondi-lhes sempre a mesma coisa: tinha apanhado o jornal do chão e levei-o para casa para ler”. 
Depois da prisão passou vários meses sem trabalhar. Mudou de profissão, por influência de Alfredo Diniz (Alex), [posteriormente assassinado pela PIDE] e matriculou-se num curso noturno da Escola Industrial Marquês de Pombal. Em 1939, depois de estar na equipa de construção de uma lancha da Marinha de Guerra, concorre para o arsenal do Alfeite e é admitido. [Será operário no Arsenal do Alfeite até 1947]. Ajuda a organizar a célula clandestina do PCP no Arsenal, onde distribuía 100 exemplares do "Avante!" clandestino, entre os mais de 3 mil trabalhadores. É nesse período que começa a viver com Laura, a sua companheira de sempre.
Em 1945, dão-se, por muitas cidades do país, manifestações que assinalam a vitória dos Aliados sobre o nazi-fascismo. Nas fábricas os operários saem com bandeiras dos Aliados e muitos paus sem pano, a simbolizar a bandeira vermelha da foice e do martelo da União Soviética. Na sequência dessas ações de massas e do crescimento da revolta contra o regime é criado o MUD (Movimento de Unidade Democrática) e muitos comunistas passam a ser referenciados pelas autoridades, dadas estas atividades para-legais. O crescimento do movimento obriga os poucos funcionários clandestinos do PCP a intensificarem o trabalho – É nesse contexto que Alex (Alfredo Diniz) é assassinado pela PIDE, na estrada de Bucelas, quando se deslocava de bicicleta a caminho de uma reunião clandestina.
Depois das greves de 1947, Jaime Serra está referenciado pela polícia e tem de passar à clandestinidade. Fá-lo já casado e com uma filha. A segunda filha de Jaime Serra, Olga Maria, nasce em 1948 na clandestinidade. Em 1949, todo o secretariado do PCP é preso: Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro vão para a prisão. Durante esse processo repressivo Jaime Serra tem nova prisão e recusa fazer qualquer declaração na PIDE. Foi muito torturado e durante meses ficou nos calabouços do Aljube, à espera das sessões de tortura, em que o inspetor da PIDE Gouveia profetizava que ia "vergar". Tal não aconteceu. Foi transferido para Peniche, e daí consegue fugir em 3 de novembro de 1950, na companhia de Francisco Miguel que é recapturado. Volta a ser preso em dezembro de 1954 e evade-se de Caxias em março de 1956.
Novamente preso em Dezembro de 1958, vai protagonizar a célebre fuga de Peniche, a 3 de Janeiro de 1960, na qual escapam vários destacados dirigentes do PCP (Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho). Nunca mais é preso. 
Em 1952, Jaime Serra passou a fazer parte do Comité Central do PCP e posteriormente da Comissão Política. Tem um papel relevante no 5º Congresso (1957, organizado em Galiza-Estoril), em que apresenta, com o pseudónimo de “Freitas”, o relatório sobre política colonial. Também participa no 6º Congresso (1965), realizado em Kiev, com Álvaro Cunhal como Secretário-Geral, desde 1961. 
Em 1962, entre várias tarefas, o partido encarrega-o de uma complicada operação: fazer sair de Portugal clandestinamente, por via marítima, os dirigentes dos movimentos de libertação Agostinho Neto (MPLA) e Vasco Cabral (PAIGC). Uma fuga atribulada, cheia de percalços, que revelam a sua grande tenacidade. 
Em 1970 Jaime Serra envia uma carta ao Comité Central defendendo as ações armadas contra o regime. Fica responsável pela criação da ARA, que virá a conduzir um conjunto de ações contra a máquina de guerra do regime: a bomba no paquete Cunene, a destruição de mais de 20 aeronaves da Força Aérea em Tancos, a interrupção das comunicações durante a reunião da NATO em Lisboa são algumas delas. Depois de uma vaga de repressão que atinge parte dos operacionais, o PCP decide, dada a aproximação dos momentos eleitorais, interromper as ações da ARA (9). 
O casal viveu todo esse tempo na clandestinidade, sem os filhos. 
Depois do 25 de Abril foi difícil recuperar a vida familiar. Jaime Serra manteve-se na direção do PCP, assumiu responsabilidades, nomeadamente como membro da Comissão Política, da Comissão Central de Controlo e Quadros, da Comissão Central de Controlo e da Comissão Administrativa e Financeira. Foi candidato a deputado à Assembleia Constituinte e, até 1983, candidato a deputado para a Assembleia da República [pelo círculo de Coimbra (III e IV legislatura) e por Setúbal (I)]
No seu 95º aniversário, o PCP homenageou-o numa sessão que contou com a presença do secretário-geral Jerónimo de Sousa e outros dirigentes.