Nasceu em Dalatando, Kwanza Norte (Angola) a 27 de Novembro de 1929, filho de Maria Rodrigues Fialho e de Miguel da Costa. Enfermeiro, integrou em 1957, com vários colegas o chamado “Grupo dos Enfermeiros” ou “Espalha Brasas”. Em Dezembro de 1959, na sequência de várias prisões, é julgado e condenado no Tribunal Militar Territorial de Luanda, no âmbito do que ficou conhecido como “Processo dos 50”. O julgamento, que terminou a 20 de Dezembro, decorreu à porta fechada:
“Quando o juíz levantou e disse: ”Os réus têm mais alguma coisa a alegarem sua defesa?” nós nos levantámos: “Sim, senhor, temos. Nós repetimos as nossas declarações que já foram registadas: queremos a independência de Angola, total e completa. Angola para os angolanos e Portugal para os portugueses!”
João Fialho da Costa foi condenado a 3 anos e 6 meses de prisão maior, medidas de segurança de 6 meses a 3 anos, prorrogáveis, e 15 anos de privação de direitos políticos. Após a sentença, permanece na Casa de Reclusão de Luanda até 24 de Fevereiro de 1962, data em que, com os outros presos do mesmo processo, é transportado em avião militar para a ilha do Sal, em Cabo Verde - de onde no dia seguinte partiram de barco para o Tarrafal, na ilha de Santiago:
“Levámos sete horas naquele barco, sem coisa nenhuma. Passámos mal. Estávamos cheios de fome e de sede, um homem do barco foi ter com o comandante para lhe perguntar: “Eu posso dar alguma coisa de comer a estes homens?””Não, não, eles têm comida.” “Um pão seco… Eles estão aí ao sol.” “Não tem problema.“ “E água, posso?” Lá ele aceitou. Aquilo foi um consolo.”
A chegada ao Tarrafal foi impressionante: “Era tempo de queda da folha das árvores, acácias, os ramos pareciam almas do outro mundo. Mandaram-nos tirar a roupa e ficámos completamente nus e entrámos para a caserna que estava vazia. (…) Fecharam-nos, no dia seguinte, às seis horas, abriram-nos as portas para ir ao refeitório. Acabámos por matabichar, voltámos a formar, o chefe dos guardas fechou-nos de novo na caserna. Ficámos nisso uns trinta dias, só saíamos para as refeições – café, almoço e jantar.”
Três dias depois adoeceu um dos mas-velhos, António Pedro Benge, que foi levado para o Hospital da Praia. Seis meses depois, chegou um grande grupo de presos da Guiné-Bissau: “Com a chegada dos homens da Guiné reduziram-nos o recreio, que passou a ser apenas um período do dia, ou de manhã ou à tarde.” Meses mais tarde, chegam novos presos angolanos: Luandino Vieira, António Cardoso e António Jacinto.
A vida organiza-se: “Íamos lendo, estudando, mas não tínhamos autorização para fazer exame. Brincávamos uma espécie de ludo, jogávamos, cantávamos. A uma hora, tínhamos um tempo de discussão política. Havia um muro grande, cercado de arame farpado, com um sujeito (…) que tinha um rádio e passava de um lado para o outro de propósito, e nós procurávamos ouvir os noticiários quando ele ficava naquele vai e vem.”Também alguns guardas ajudavam a que se mantivessem informados: “Às vezes pegavam num jornal, que transformavam em bola, e às escondidas chutavam para dentro do campo, a gente apanhava. Às vezes era um jornal com 3 ou 6 meses e a gente feliz, ‘fresquinho, fresquinho’.” E havia ainda o Zebedeu, um comerciante que ia ao campo levar lenha, e lhes levava as novidades e, se possível, um jornal.
Operado a uma hérnia em Santa Catarina, voltaria para Angola a 5 de Março de 1965, guardando do tempo no Tarrafal um grande reconhecimento pelos cabo-verdianos, “um povo muito diferente daquilo que nós pensávamos.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.