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José António Leitão Ribeiro Santos

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Natural de Lisboa, nasceu a 19 de março de 1946, filho de Maria Antónia Leitão Ribeiro Santos e de Vasco Artur Ribeiro Santos, médico assistente dos Hospitais Civis de Lisboa. Morador na (então) Calçada de Santos, frequentou primeiro a escola “Avé Maria” e depois o Liceu Pedro Nunes, onde se inicia nas lutas estudantis. Entra, em 1965, para a Faculdade de Direito de Lisboa. 
Em 21 de Janeiro desse ano, a PIDE prendera cerca de cinco dezenas de estudantes universitários e liceais, o que dera origem a uma onda de contestação violentamente reprimida pelas autoridades, terminando com a aplicação de penas de suspensão e expulsão de todas as escolas portuguesas (até um máximo de oito anos) de quase duas centenas de estudantes. O movimento estudantil está em refluxo – mas, em 1967, o auxílio às vítimas das grandes inundações de novembro vem não só dar-lhe nova força, como politizar a sua atuação. Ribeiro Santos é um dos muitos estudantes que, ao participar nesse auxílio, se confronta com uma realidade normalmente desconhecida pelos que frequentam a Universidade.
O ano seguinte, 1968, é fértil em lutas estudantis em diversos países e, apesar da Censura, os seus ecos chegam a Portugal. As reivindicações estudantis sobem de tom e mudam de estilo. A substituição de Salazar por Marcelo Caetano, que na crise de 62, reitor da Universidade de Lisboa, se pronunciara contra a atuação policial, parece oferecer alguma abertura às posições estudantis. Mas é uma ilusão: a crise académica de 69/70 é fortemente reprimida e a substituição, na pasta da Educação, de José Hermano Saraiva por Veiga Simão traduz-se, não numa abertura, mas em novas formas de opressão sobre as Associações de Estudantes, nomeadamente em Direito, onde Ribeiro Santos é sucessivamente membro da Secção de Propaganda, vice-presidente para as Relações Internas, Presidente da Mesa da Assembleia-Geral, delegado de curso do 4º ano. 
Em1972, Ribeiro Santos adere à Federação de Estudantes Marxistas-Leninistas, do recém-criado Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), criando, com outros colegas, o movimento “Ousar Lutar, Ousar Vencer”.
A repressão contra as Associações de Estudantes intensifica-se, sendo várias encerradas. Há também violentas cargas policiais, nomeadamente em Económicas (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, ISCEF) e no Técnico (Instituto Superior Técnico, IST). A casa de Ribeiro dos Santos serve muitas vezes de centro de reuniões estudantis para debaterem ações contra a repressão.  
No âmbito dessas ações é convocado para 12 de outubro um “meeting contra a repressão” para um anfiteatro pré-fabricado de Económicas.
Antes da reunião, alguns estudantes deparam com um desconhecido no interior da Escola e as respostas incoerentes bem como a ausência de identificação levam-nos a suspeitar tratar-se de um informador da Direção Geral de Segurança, o novo nome da velha PIDE. Após um contato da direção da associação com a com a direção do Instituto, acordam na vinda de elementos da DGS para identificação do desconhecido, entretanto retido pelos estudantes. A entrada dos elementos da DGS provoca indignação e alguns estudantes avançam contra eles. Um dos agentes, Gomes da Rocha, empunha a pistola e dispara contra Ribeiro Santos, atingindo-o nas costas. José Lamego, que tenta manietá-lo, é também atingido numa coxa. 
Imediatamente conduzido por colegas de Medicina para o Hospital de Santa Maria, José António Ribeiro Santos morre ainda na Sala de Observações.
O seu funeral, dois dias depois, transforma-se numa imensa manifestação de protesto contra o fascismo e de resistência contra as forças policiais.
Após o 25 de Abril de 1974, a rua onde vivera mudou de nome e é, hoje, a Calçada Ribeiro Santos. E, desde 2012, uma placa toponímica lembra que “Aqui nasceu e viveu José Ribeiro Santos, 1946-1972. Estudante, dirigente da Associação Académica da Faculdade de Direito e resistente à Ditadura, que perdeu a sua vida pela causa da Liberdade.” Quem o matou nunca foi sequer julgado. E o seu assassino, António Joaquim Gomes da Rocha, agente de 2.ª classe, foi um dos agentes da PIDE/DGS que, no dia 29-06-1975, fugiram da prisão de Alcoentre...