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José James Harteley Barnetto

Manifestantes, na sua maioria jovens, que se tinham concentrado na Praça do Comércio, dirigiram-se ao Cais do Sodré, daí subindo para o Chiado pela Rua do Alecrim.
Ao passarem pelo largo Barão de Quintela, antes de atingirem o quartel dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, um descampado em obras deixava vislumbrar o edifício da sede da PIDE/DGS e, de imediato, houve quem gritasse "Todos à PIDE!".
Os que de algum modo tinham até ali encabeçado aquela manifestação tentaram, em vão, retomar as palavras de ordem com que a tinham animado, em especial “guerra do povo à guerra colonial!” mas a verdade é que dezenas de populares partiram em corrida em direção ao largo do Chiado e penetraram na rua António Maria Cardoso, onde se situava a sede da polícia política (hoje transfigurada em condomínio de luxo...).
Os manifestantes, com gritos “morte à PIDE!” e “assassinos! assassinos!”, percorreram a rua, passando pelo Chiado Terrasse e pelo Teatro S. Luís até investirem contra as portas do edifício da PIDE/DGS.
A polícia política tinha ainda, naquele dia, todas as razões para estar segura da sua plena integração na nova ordem política resultante do golpe militar e, por isso, não pretendia "pactuar com os arruaceiros".
Os principais responsáveis da polícia política e muitos dos seus esbirros assomaram às varandas e janelas da sede e disparam rajadas de metralhadora e tiros de pistola contra os manifestantes (na retaguarda, dispunham ainda, designadamente, de granadas e de metralhadoras pesadas).
Quatro mortos e mais de quarenta feridos são o retrato daquela fúria assassina e do terror que os movia perante a ousadia popular. Os agentes da PIDE nunca foram incriminados.

Nesse dia, a PIDE/DGS assassinou Fernando Carvalho Giesteira, Fernando Luís Barreiros dos Reis, João Guilherme Rego Arruda e José James Harteley Barneto.


José James Harteley Barneto nasceu em 1935 em Vendas Novas, filho mais novo do cidadão espanhol Venceslau Barneto Delgado e de Júlia da Conceição Fernandes.
Cresceu nos Olivais, em Lisboa, onde vivia com a mulher e os quatro filhos em Benfica e era escriturário no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria.
Na manhã do dia 25 de Abril de 1974 José Barneto terá saído para trabalhar e, sabendo do golpe militar em curso, terá, como muitos, acorrido à Baixa de Lisboa onde se desenrolavam os principais acontecimentos.
José Barneto, aos 38 anos de idade, foi uma das quatro vítimas mortais dos disparos da DGS na rua António Maria Cardoso, tendo tido morte quase imediata, resultado de uma laceração do fígado, apesar de diversas pessoas terem procurado prestar-lhe, infrutiferamente, socorro.

Dados biográficos com base nas informações do Centro de Documentação do Museu do Aljube-Resistência e Liberdade