José Maria Ferreira Querido, “Zéqui”, nasceu em Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde, em 8 de dezembro de 1940. Marcado pela fome de 1947, e também pela ligação a um deportado português amigo do pai, diz ter tido “todos os pressupostos que um revolucionário deve ter. Não havia outro caminho.”
Estudante em Portugal, no curso de regente agrícola, no final da década de 50, teve contactos com a Oposição portuguesa, mas regressou a Cabo Verde por influência de Amílcar Cabral: “O nosso trabalho era ‘desbravar’ o chão para os que vinham depois. (…) Em cada zona fui fazendo um levantamento das pessoas com quem podia contar.”
Antes ainda de ser levado como preso para o Campo do Tarrafal, já conhecia o campo, que tinha ido observar aquando da chegada dos primeiros presos angolanos: “Eu tinha ligações com Angola (…) fui informado que eles chegariam e fui ver. (…) Vi quando eles desembarcaram e foram metidos nas vagonetas. Era um carro sinistro, preto, o seu aspeto já metia medo. E era bastante gente.” Aproveitara também as visitas a um amigo da família, preso de delito comum, para se informar sobre o campo.
Preso em setembro de 1968, foi primeiro colocado na Cadeia Civil da Praia e mais tarde transferido para o Tarrafal. Julgado em S. Vicente, foi absolvido por falta de provas em Janeiro de 1971.
Uma das ações de que se orgulha foi o roubo dos mapas cartográficos de Santiago, S. Vicente e do Sal, para enviar para a luta.
Entrevistado em 2008, afirmou: “Todos nós temos consciência do nosso valor, eu sei porque é que fui preso. (…) Eu fiz, se necessário volto a fazê-lo, mesmo com esta idade que tenho. Sou orgulhoso daquilo que fiz por Cabo Verde.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.