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Juvêncio da Veiga

Juvêncio da Veiga
Dissanto
Data aproximada da primeira prisão
Agosto 1970

Nasceu em Santa Catarina, ilha de Santiago, Cabo Verde, em Junho de 1927.
Aderiu à luta inspirado por um texto de Amílcar Cabral e fez parte do grupo que tentou desviar o “Pérola do Oceano”, o que o levou à prisão:
“Primeiro estivemos na Praia três meses, depois é que fomos para o Tarrafal. (…) Dentro do campo não tínhamos nada que fazer. Nos primeiros quatro/seis meses não tínhamos nem porta aberta, era tudo fechado. A porta só era aberta na hora da refeição. Passados cerca de seis meses é que viemos prestar declaração, porque metemos advogado, e a partir daí passaram a dar-nos uma hora de sol de manhã e meia hora à tarde.”
Sem qualquer instrução, foi no Tarrafal que, com Lineu Miranda, Luís Fonseca, Jaime Schofield e Carlos Dantas Tavares como professores, aprendeu a ler e a escrever, e fez a quarta classe:
“O Lineu era um homem muito bom, comprava cadernos, livros, lapiseiras, tudo, e nos dava.”
É, no entanto, um conflito com Lineu que o leva de castigo à “holandinha”:
“Foram fechar-me num quarto com 70 cm de altura e 70 de largura. Fiquei 15 dias lá, com um litro de água por dia, uma ração por dia. Não via luz, não via sol. (…) A minha sorte é que nessa altura o advogado foi ao campo, num dia de visita, chamou todos os presos e perguntou por mim. Responderam-lhe que eu estava detido, e ele perguntou se um homem dentro da cadeia pode ser detido outra vez. Pediu para me ver e quando eu cheguei ele disse que não podia estar lá, e assim fui devolvido à minha cela.”
Embora tenha sido Lineu a iniciar a agressão, anos mais tarde Juvência mantinha a estima por ele: 
“ (…) O Lineu era o melhor amigo que eu tinha no Tarrafal. As nossas camas estavam lado a lado. Aquele problema que teve comigo foi consequência da saturação da cadeia. Ele já estava preso há muitos anos, viu os seus companheiros (Carlos Tavares, Jaime Schofield, Luís Fonseca) a sair e ele, pelo contrário, como era tido como o mais perigoso, continuou lá. Isso afetou-o bastante.”

 

Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.