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Luís Furtado Mendonça

Luís Furtado Mendonça
Luisinho
Data aproximada da primeira prisão
agosto 1970

Nasceu a 13 de Março de 1944, em Santa Catarina, Ilha de Santiago, Cabo Verde. 
Mobilizado por Pedro Martins e Ivo Pereira, começou a trabalhar com o PAIGC em 1968/69, procurando recrutar novos elementos para a luta, falando-lhes da independência de Cabo Verde:
“Que era preciso trabalharmos para tomarmos a nossa terra, pô-la nas nossas mãos, porque o povo estava oprimido. Fazíamos isso em nome de [Amílcar] Cabral.” 
Fez parte do grupo que tentou desviar o “Pérola do Oceano”:
“Em 1969 estávamos claramente no terreno. Eu, Ivo Pereira, Fefa e outros colegas. Nisso veio um senhor, José dos Reis Borges, que nos encontrou já prontos. Ele vivia em Portugal, não o conhecíamos, e disse-nos que era da direção do PAIGC e passou a trabalhar connosco também. Às tantas, conseguimos arranjar fardas, armas, etc., fomos para a Praia, embarcámos para o Fogo e Brava, e, no meio do caminho, conseguimos tomar o Pérola do Oceano. (…) A meio da viagem o combustível começou a faltar, o barco parou, avisaram a PIDE e foram apanhar-nos no meio do mar. Quando chegaram connosco, na Praia, a PIDE fechou-nos três dias, de pé, sem dormir, sem sentar. Estivemos trinta dias a pão e água, sem visitas. Acabámos por ficar sete meses na Praia, na Cadeia Civil, altura em que nos transferiram para o Tarrafal e lá ficámos três anos e nove meses.”
“De Cabo Verde lá estava o falecido Lineu Miranda, o Carlos Dantas Tavares, Luís Fonseca, Jaime Schofield... Eles mesmos nos receberam porque vivíamos todos na mesma cela. (…) Éramos um grupo unido, porque todos tínhamos apenas uma ideia, a independência de Cabo Verde. A pessoa mais velha que lá encontrámos era o Lineu Miranda, depois o Luís Fonseca. A partir do convívio com eles ficámos a conhecer melhor as razões da nossa luta. (…) Sabíamos o que estávamos a fazer, não sentimos medo de nada, e sabíamos que a nossa missão — a independência de Cabo Verde — haveríamos de consegui-la. Os polícias auxiliares que lá estavam, às tantas, estavam connosco. Eles entravam nas nossas celas, sentavam-se e deitavam-se nas nossas camas, com as armas nas nossas mãos. Porquê? Por causa da nossa capacidade de convencê-los. (…) Lhes dissemos que nós estávamos a lutar para todos terem o seu direito e a sua dignidade. E como é que isso haveria de chegar? Somente com a independência e que nós não éramos contra ninguém. E que também eles haveriam de ganhar com a independência. As tantas, eles passaram para o nosso lado, traziam-nos coisas de fora.”
Libertado a 1 de Maio de 1974, Luís recorda com orgulho esse passado:
“Eu, depois de deixar a cadeia, trabalhei 10 anos, voluntariamente, sem ganhar tostão do Estado. Apesar de todas as dificuldades, com a nossa vitória, nós não podíamos fugir para trás. A nossa vitória era a independência de Cabo Verde. Amílcar Cabral disse: "A luta continua e a vitória é certa". Todo aquele que lutava, sabia que vinha a vitória, mas que a luta haveria de prosseguir. Portanto, nós continuámos na luta. Essa luta prossegue até à nossa morte.”
E gostava que o campo do Tarrafal fosse preservado como lugar histórico:
“Devia ser um museu. Para, principalmente, os jovens. Eles não sabem o quanto nos custou a independência. A independência não nos foi dada de bandeja, nós a tomámos. Quando saímos da cadeia, conseguimos mobilizar o povo — apanhávamos carros, três, e íamos fazer manifestação na Praia. De três passámos para quatro, cinco, dez, quinze, vinte, trinta, quarenta... Até que pusemos todo o povo no caminho da independência. Por isso, eu acho que o Tarrafal deve ser um lugar da História.”
 

Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.