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Malangatana Valente Ngweya

020304
Data aproximada da primeira prisão
janeiro 1965

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) comunicou à imprensa de Moçambique, com data de 29 de Maio de 1965, que, "depois de paciente e persistente trabalho de referenciacão", capturou os "elementos que constituíam a 4.ª Direcção Regional da organização terrorista designada por FRELIMO", "detendo os indivíduos que mais activamente participaram nos manejos conspirativos e deram apoio às tentativas de subversão".
De entre esses 14 presos, Luís Bernardo Honwana, escritor e jornalista, Daniel Magaia, empregado comercial, Abner Mutemba, enfermeiro, José Craveirinha, funcionário público, poeta e escritor, Domingos Arouca, advogado, Rui Nogar, escriturário e poeta, e Malangatana Valente Ngwenya, escriturário de  terceira classe e pintor, residente no Bairro Clandestino do Aeroporto.
Detido em Janeiro de 1965, Malangatana Ngwenya viria a ser absolvido pelo Tribunal Militar Territorial de Moçambique a 15 de Março de 1966 — o que causou a ira da PIDE, não apenas contra ele, mas também contra outros detidos igualmente absolvidos, contra os advogados dos réus (entre os quais os drs. Almeida Santos e Adrião Rodrigues, dos designados "Democratas de Moçambique") e contra o próprio tribunal: "a absolvição da maioria destes indivíduos, a todos colheu de surpresa" , sendo que  "o Tribunal autorizou toda a espécie de ataques que os advogados quiseram fazer à polícia, ataques descabidos e despropositados. Chegou a permitir que aparecesse como testemunha de defesa uma nativa vestida de preto - Os nativos não se vestem desta forma quando estão de luto - que se limitou a afirmar que o seu marido tinha sido preso e morto pela Polícia." E a PIDE acrescentava que "todas as sessões dos julgamentos foram extraordinariamente concorridas e foi permitida a presença de indivíduos de ambos os sexos e de várias raças" - informando seguidamente, em ofício datado de 2 de Abril de 1966, o Presidente do Conselho, os Ministros da Defesa Nacional e do Ultramar e o Secretário-Geral da Defesa Nacional sobre a composição do referido tribunal", que lhe inspirou sérias reservas.
Deste modo, logo a PIDE se encarregou de os deter de novo, a 17 de Junho, apresentando-os a Tribunal Militar Territorial que, desta feita, com data de 11 de Novembro de 1966, condenou a maioria dos réus, embora absolvesse Malangatana e Daniel Magaia.
Continuando a ver em Malangatana "um africano altamente suspeito sob o ponto de vista político que já esteve detido por actividades subversivas e incriminado", a PIDE (agora crismada de DGS) voltou a chamá-lo para declarações, a 4 de Janeiro de 1971, sendo "convidado a esclarecer" qual "o simbolismo que atribui ao quadro que recentemente expôs no Núcleo de Arte e que intitulou de 25 de Setembro", o que leva aquela polícia a tentar impedir a sua viagem para Lisboa, ao abrigo da bolsa concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian, tanto mais que entende que "as suas ideias de emancipação negra mantem-se intactas".

Nota: Oficialmente, a Luta Armada de Libertação Nacional de Moçambique teve início precisamente a 25 de Setembro de 1964, com um ataque ao posto administrativo de Chai, em Cabo Delgado (ver reprodução do quadro referido em anexo - fotografia particular)