Militante antifascista, foi presa e torturada a tal ponto, e de tal forma, que os horrores por que passou, às mãos da PIDE, ficaram na memória das mulheres e homens que ouviram falar dela, em 1964. A sua situação clínica foi, então, motivo de um acompanhamento médico invulgar e desencadeou campanhas internacionais para a sua libertação. Internada sob prisão no Hospital Miguel Bombarda, a seguir às torturas, foi submetida a tratamento, permanecendo num semicoma induzido, durante um mês e meio, para os médicos a desligarem da realidade próxima.
Gina Azevedo revela que ainda hoje tem graves sequelas psicológicas e emocionais, de que nunca conseguiu recuperar e que se reflectiram até a nível profissional.
Maria Georgina Maia de Azevedo, filha de Manuel Azevedo, jornalista do “Diário de Lisboa”, e de Natália Maia, nasceu no Porto. Estudante de Belas Artes, começou a sua militância política ainda no liceu, na campanha de Humberto Delgado, apenas com 14 anos. Quando já se encontrava a estudar na Escola de Belas Artes, foi ativista nas associações de estudantes e no PCP. Depois, iria aproximar-se da FAP-Frente de Acção Popular e do CMLP-Comité Marxista-Leninista Português, dissidências de orientação maoista.
Foi presa com 20 anos, ao colaborar numa acção gorada da FAP, em Lisboa – colocação de um engenho explosivo num carro da polícia – e então conduzida para a sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Aí, interrogada, ameaçada e submetida de imediato a tortura de sono, foi perdendo a consciência, até cair no chão, exausta. Acordou 12 dias após o início do interrogatório, com o médico da PIDE, Barata, a apertar-lhe os mamilos – admite que com a intenção de a acordar por meio de um gesto humilhante. «Você sai daqui como uma cadela» – são as últimas palavras que ouve de Sílvio da Costa Mortágua, o inspetor da PIDE. Completamente alucinada, foi então conduzida para Caxias, onde ficou 7 meses. O quadro clínico de total desequilíbrio em que se encontrava motivou a acedência da PIDE a que fosse vista por uma junta médica, solicitada por seu pai.
Foi a julgamento em Tribunal Plenário, mas só pôde estar presente na primeira sessão. Depois, médicos e advogados foram de opinião que não devia assistir. Não ouviu a sentença: pena suspensa por dois anos, com perda de direitos políticos por cinco anos. Mais do que os sete meses de prisão, Gina Azevedo lamenta «as mazelas sérias» com que ficou. Apesar de ter mantido actividades políticas no MDP/CDE até 1975, e de ter trabalhado em publicidade e no ensino secundário, a mágoa, a revolta, a indignação e o esgotamento físico e psicológico por que passou nunca a deixaram retomar o equilíbrio de que iria sempre sentir a falta.
Não deu informações à PIDE. Enquanto esteve consciente, sabe que não deu. «Acho que devia ter sido mais tenaz...É difícil conviver com o meu passado. (...) Aquela situação do Barata... (...) Como é que é possível? É uma dor muito aguda, custa-me falar dessas coisas (...) É espantoso como é que se faz o branqueamento das torturas tenebrosas que foram feitas durante décadas... e isso não está resolvido em mim...» - Entrevista publicada em "No limite da Dor", Ana Aranha e Carlos Ademar, 2014.
(Fotografia cedida por Ana Aranha)