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Maria Helena Augusto das Neves Gorjão

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Data da primeira prisão

Jornalista, escritora, investigadora, Helena Neves Gorjão nasceu em Lisboa, em 1945. Aos 17 anos, ainda aluna do Liceu D. João de Castro, aderiu ao Partido Comunista Português. Já na Universidade, no Curso de Filosofia, pertenceu ao Secretariado do PCP na Faculdade de Letras de Lisboa. O seu envolvimento nas lutas académicas levou ao cancelamento da Bolsa de Estudos que lhe fora atribuída, sofrendo ainda uma suspensão de 40 dias.
Desarticulada a organização partidária em Letras, começou a trabalhar em coletividades de cultura e recreio – designadamente na Academia de Santo Amaro e na Coletividade de Rio Seco – dando aulas, constituindo bibliotecas e impulsionando, com outros jovens estudantes, uma intensa atividade cultural e a formação de um organismo inter-coletividades. 
Em 1969 integrou o grupo que fundara o Movimento Democrático de Mulheres, a cujo Secretariado e Conselho Nacional viria a pertencer.
Nesse mesmo ano foi presa pela PIDE/DGS, nas vésperas da abertura da campanha eleitoral, quando integrava a lista da CDE por Santarém. Depois da prisão, impedida de lecionar por “não garantir a Segurança do Estado”, encetou uma carreira jornalística no Diário de Lisboa, depois de uma breve passagem pelo Diário Feminino, de Santarém, o qual viria a ser afastada por pressão da PIDE / DGS, que apreendeu o jornal na tipografia, exigindo o seu despedimento.
No DL orientou o Suplemento Feminino o Suplemento sócio cultural Mesa Redonda. Despediu-se, após um ano de intensa atividade, em protesto com a administração do Jornal (os Irmãos Souto), que lhe diminuíram o salário como sanção por ter assinado um documento que exigia a liberdade de imprensa.
Por concurso, em 1970, foi selecionada para o cargo de diretora do Gabinete de Imprensa do Sindicato dos Empregados de Escritório de Lisboa e do Sul, reorganizando e coordenando a informação interna e externa do sindicato, nomeadamente o Boletim do Sindicato. Ao mesmo tempo integra a equipa, que, em regime de “semiclandestinidade” criou a Intersindical Nacional, redigindo o respetivo boletim, com o apoio de Caiano Pereira e Manuel Lopes.
Despedida do Sindicato dos Empregados de Escritório, em 1972, em consequência da eleição de uma direção sindical mais afeta ao regime, ingressou na redação da revista Modas e Bordados, chefiada por Maria José Trigoso, tendo ambas reestruturado a revista num sentido mais atento à realidade social. Com a entrada do Crédito Predial Português como acionista na Editorial O Século e a alteração da orientação da revista, afastou-se. Coordenou a partir de então o suplemento Presença da Mulher do Jornal República, criado pela jornalista Antónia de Sousa.
Convidada para a redação do Jornal A. E. Actividades Económicas, dirigido por Mário Ventura, e João Paulo Guerra, viajou até França para a realização de uma grande reportagem sobre as condições de trabalho e de vida dos emigrantes portugueses, bem como pelo país, para a criação de uma rede de correspondentes no país. Mas, após o lançamento do número zero no Hotel Ritz, em 1973, o jornal. foi proibido pela Censura.
Entre 1971 e 1974, Helena Neves foi membro do Conselho Português para a Cooperação e Segurança Europeia e da Assembleia de Representantes da Opinião Pública para a Cooperação e Segurança Europeia tendo participado em diversas reuniões internacionais. Neste âmbito fazia a ligação com o Movimento Pax Christi, da Bélgica, tendo acompanhado o cónego Raymond Goor numa visita ao Bispo de Porto. Foi, também membro do Conselho Nacional para a Paz, tendo participado, clandestinamente, com a historiadora Ana Maria Alves, numa reunião daquele Conselho em Berlim, na RDA, com representantes de todo o mundo, nomeadamente das então colónias portuguesas.
Em 1973, candidata pelo distrito de Lisboa na lista da Oposição Democrática, voltou a ser detida, com outros democratas que procediam à distribuição de manifestos de apresentação dos candidatos. Transferida para a prisão de Caxias, foi libertada apenas na véspera da abertura da campanha eleitoral. Voltaria a ser presa nos primeiros dias de abril de 1974, sendo restituída à liberdade pelo Movimento das Forças Armadas a 25 de Abril.
Após o 25 de Abril integrou a redação do jornal Avante, órgão central do PCP, sendo responsável pela problemática da luta das mulheres e pela Reforma Agrária. Fez parte, com o escritor Mário de Carvalho, do Secretariado dos Jornalistas Comunistas. Representou o PCP nos Conselhos de Informação para a RDP e para a RTP, bem como na Assembleia da República (1975/77). Integrou o Núcleo das Mulheres Comunistas e a Comissão de Mulheres Comunistas junto do Comité Central do PCP. Foi também representante do MDM no Conselho Consultivo da Comissão da Condição Feminina. 
Em 1979 ingressou na Revista Mulheres, dirigida por Maria Lamas e chefiada por Maria Teresa Horta. Redatora principal até 1980, foi depois subdiretora até 1984, assumindo a direção da revista após a morte de Maria Lamas, até 1991.
Colaboradora de diversos jornais e revistas, nos anos noventa manteve também, durante dois anos, uma crónica semanal na RDP 2.
Foi uma das 24 Mulheres a ser convidada pela Direcção Geral de Informação, Comunicação e Cultura, do Serviço Informação Mulheres da C.E.E. (Bruxelas), no âmbito da viagem de "Boas Vindas às Mulheres Portuguesas e Espanholas" no ano de entrada de Portugal na C.E.E..
Eleita para o Comité Central no Congresso do Porto, em 1989, demitiu-se do mesmo em março de 1991, tendo abandonado a militância no PCP e, posteriormente, o Movimento Democrático de Mulheres. Mais tarde, iria aceitar o convite do Bloco de Esquerda para, como independente, ser a primeira deputada daquele partido à Assembleia da República (2001/2002). Pertenceu ao Secretariado e à Mesa Nacional do BE em diversos mandatos.
Foi professora na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, pertencendo ao Conselho Universitário. Foi investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra.
Antes do 25 de Abril, publicou o livro Raízes da nossa Força, textos sobre fotografias de crianças de bairros de lata da região de Lisboa, da autoria de Alfredo Cunha, um livro apreendido pela PIDE /DGS e objeto de um processo por conter “incitamento ao levantamento das populações”. Um outro livro, Mulheres de um tempo ainda presente, foi apreendido pela polícia política na tipografia, vindo a ser publicado a seguir ao 25 de Abril. Deste livro foi extraído o conto Deolinda, a da beira mar, publicado em «An Anthology of the Best Contemporany Portuguese Writing Prose by the best contemporany international writers», edit. Eastern Arts, Cambrigde, com a colaboração do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro de Lisboa, Instituto Camões Lisboa e de The Arts Council London , London,1994.