banner

 

Militão de Bessa Ribeiro

023922
420
Data da primeira prisão

Filho de Bárbara de Jesus e de Francisco Bessa Ribeiro, agricultores, Militão Bessa Ribeiro nasceu a 13 de agosto de 1896, na freguesia e concelho de Murça, Vila Real.
Emigrou para o Brasil aos 13 anos e aí permaneceu até ser considerado "indesejável" pela Ditadura de Getúlio Vargas, por militar no Partido Comunista do Brasil ainda antes de Luís Carlos Prestes se tornar seu militante e dirigente, trabalhando como marçano e, depois, operário têxtil.
Expulso daquele país em abril de 1931 "visto se ter constituido elemento nocivo á tranquillidade publica e á ordem social". Viajou amarrado no porão do navio que o transportou, com a indicação de ser entregue à polícia portuguesa no porto de Leixões. No entanto, com o auxílio de um marítimo, conseguiu fugir quando o barco aportou em Lisboa, refugiou-se na sua terra, onde deixou marcas políticas e culturais, e passou a militar no Partido Comunista Português. 
Quando alfaiate em Murça, de onde era natural, Mário José de Barros conviveu na década de 30 com Militão Ribeiro, nascido na mesma terra. Influenciado pelas suas ideias, Mário José de Barros foi preso em 1935 por propaganda contra a ditadura fascista e reencontrou-o no Aljube e em Peniche.
Desse duplo convívio com Militão Ribeiro, Mário José de Barros terá recebido vários livros que fez circular clandestinamente naquela localidade durante as décadas de 30 e de 40, sendo provavelmente através deste que o historiador António Borges Coelho, expulso do Seminário em Maio de 1945 e de regresso a Murça, de onde também era natural, terá tomado contacto com Carlos Marx, de Max Beer, Os Dez Dias que Abalaram o Mundo, de John Reed, ou O Estado e a Revolução, de Lenine. 
Em 13 de Julho de 1934, Militão Ribeiro foi preso no Porto, acusado de pertencer ao Socorro Vermelho Internacional, organização a que tinha aderido por intermédio de Lino Teixeira Pinto. 
Julgado no Tribunal Militar Especial em 6 de abril de 1935, foi condenado a 12 meses de prisão e, em 20 de abril, seguiu do Aljube do Porto para Peniche.
Acusado de insubordinação, e quando estava prestes a cumprir a pena a que fora condenado, Militão Ribeiro, por alegado “motivo de insubordinação”, embarcou, em 8 de junho de 1935, com destino à Fortaleza de S. João Baptista - Angra do Heroísmo e, em 29 de outubro de 1936, integrou a leva de presos políticos que inaugurou o Campo de Concentração do Tarrafal.
Regressou de Cabo Verde em 15 de julho de 1940 “por ter sido amnistiado” e participou na reorganização do Partido Comunista Português, integrando o seu primeiro secretariado, juntamente com Júlio Fogaça e Manuel Guedes, envolvendo-se a fundo na organização do movimento grevista de 1942, tarefa que terá estado na origem da sua segunda prisão, em 22 de novembro de 1942, ficando detido no Aljube de Lisboa, só sendo julgado pelo Tribunal Militar Especial em 5 de abril de 1944. 
Condenado a 4 anos de prisão, embarcou de novo, em 26 de julho, para o Campo de Concentração do Tarrafal. Abrangido pela amnistia de agosto de 1945, foi libertado em 16 de novembro e feita a sua apresentação à Polícia, em Lisboa, em 6 de dezembro.
Regressou à militância ativa, integrando, com Álvaro Cunhal, José Gregório e Manuel Guedes, o Secretariado do PCP. Participou, em novembro de 1946, no II Congresso Ilegal, tendo sido eleito para o Comité Central e respectivo Secretariado.
A terceira, e fatal, prisão aconteceu em 25 de março de 1949, no Luso. A casa clandestina de Macinhata do Vouga, Sever do Vouga, onde vivia com Luísa Rodrigues, fora detectada e a sua companheira presa em 10 de Fevereiro, tendo Militão Ribeiro conseguido escapar e, perseguido, refugiara-se na casa clandestina do Luso, habitada por Álvaro Cunhal e Sofia Ferreira.
Levado para o Porto, onde já se encontrava detida Luísa Rodrigues, Militão Ribeiro foi transferido para a Penitenciária de Lisboa em 10 de Maio. 
Debilitado e enfermo em consequência das prisões e deportações de que fora vítima, sem assistência médica e medicamentosa para os males de que padecia, o seu estado de saúde físico e mental agravou-se visivelmente pelo regime prisional a que foi sujeito. Isolado numa cela individual da Cadeia Penitenciária de Lisboa, vigiado 24 horas sobre 24 horas, completamente incomunicável, decidiu recorrer à greve da fome como protesto. Foi definhando, sem que a PIDE ou as restantes autoridades salazaristas tomassem qualquer atitude. Na manhã do dia 2 de janeiro Militão Ribeiro entrou em coma, falecendo nesse mesmo dia pelas 13:30h. O seu corpo era há dias pouco mais que um cadáver – Militão Ribeiro pesava 32 quilos!
Foi assassinado há 70 anos!
O funeral realizou-se em 12 de janeiro de 1950, seguindo o corpo directamente do Instituto de Medicina Legal para Murça. Estiveram presentes centenas de pessoas, tendo Ruy Luís Gomes discursado junto à sua campa.

Biografia a partir do trabalho de João Esteves