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Liga de Defesa da República

Data
Julho 1927

Apoiado por Óscar Carmona, Salazar impôs uma “Ditadura Financeira” ao país e, designadamente, cortou nas despesas públicas e na autonomia financeira das colónias e aplicou uma Taxa de Salvação Nacional sobre produtos importados. Tais medidas permitiram-lhe rejeitar o empréstimo externo que estava a ser preparado sob a égide da Sociedade das Nações. E, desse modo, construía-se o mito do novo “mago das Finanças”, que perpetuaria afinal uma solução política, ancorada no entendimento entre Carmona e Salazar. A permanência de ambos no poder dependeria, em larga medida, do sucesso da reforma financeira do Estado.
Mas essa reforma seria obviamente acompanhada pelo sucessivo aprimoramento das medidas repressivas, pela presença militar enquanto esteio central do regime, pela construção de um enorme aparelho de propaganda e, sem dúvida também, pelo equilibrismo internacional conseguido ao longo dos anos e em diferentes contextos.
Com os situacionistas a encontrarem os caminhos da “Revolução Nacional” e os democráticos, liberais e nacionalistas a abdicarem da luta - quando não, muitas vezes, a transferir-se para os arraiais da “Situação” – coube, de novo, ao “bloco das esquerdas”, apoiado por militares democráticos e constitucionais, encontrar os meios para tentar barrar o caminho à Ditadura. Sem espaço para viver no país, é no exílio que o “bloco” vai reorganizar-se.
Em julho de 1927 constitui-se a Liga de Defesa da República, também conhecida por Liga de Paris, que se considera herdeira do capital revolucionário de “Fevereiro de 1927”. Até 1932 liderará, em articulação com comités revolucionários existentes no “interior” e na deportação, o processo revolucionário. Integram a Liga figuras gradas da República, como Afonso Costa e Bernardino Machado, seareiros como Jaime Cortesão, António Sérgio e Sarmento de Beires, o líder esquerdista J. Domingues dos Santos, o accionista (da Acção Republicana, dissidência do Partido Nacionalista) Álvaro de Castro e ainda um núcleo de democráticos que tinham participado na Revolta de 1927, em que se destacavam o tenente Agatão Lança e Mariano Felgueiras e independentes como Filipe Mendes.

A linha programática da Liga passava pela restauração da República democrática, com acentuadas correções a introduzir por um governo provisório de carácter revolucionário, impedindo a todo o custo o "regressismo" à situação anterior ao “28 de Maio”. Do ponto de vista estratégico, os liguistas repudiavam qualquer tipo de entendimento ou pacto com o republicanismo conservador que dominava a Ditadura e afastavam-se do passado recente da República sob o domínio dos Democráticos de António Maria da Silva ou da alternativa proposta pelos “liberais” de Cunha Leal. Do seu ponto de vista, a nova “República Democrática” só ressurgiria com uma revolução que impusesse um corte com o passado e realizasse, através de “um governo extraordinário de competências”, dotado de “poderes excecionais”, uma profunda reforma das instituições e da política republicana.

 

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Excerto do apelo de Afonso Costa, intitulado "Hora Decisiva", publicado no jornal "A Revolta" de agosto de 1927

Unamo-nos todos, quer partidários, quer não-partidários, em torno da Liga de Defesa da República, (...) afim de executarmos as suas patrióticas aspirações e assim restabelecermos as Instituições Republicanas, prestigiando-as e dando-lhes plena eficiência, como a Nação deseja e precisa. 15 agosto 1927 Affonso Costa