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A "Revolução Relâmpago"

Data

Para combater a descoordenação da “Revolta de 3 de Fevereiro de 1927”, o movimento revolucionário de 1928 tinha estabelecido ramificações a nível nacional – que, no entanto, não chegaram a contribuir decisivamente para o movimento revolucionário, como foi o caso dos núcleos republicanos de Pinhel, Guarda, Mangualde, Lamego, Trancoso, Coimbra, Bombarral, Caldas da Rainha e Faro e, sobretudo, o Comité Revolucionário do Porto, preso na própria noite de 20 de julho.

Ainda assim, em Coimbra, o núcleo estudantil reunido em torno da “República das Águias” – onde ponteavam os irmãos Mário e Silo Cal Brandão – esteve na primeira linha de assalto aos quartéis de Artilharia 2, Metralhadoras 2 e Companhia de Saúde.

Mas a sua ação foi inviabilizada por uma investida conjunta da Polícia de Informações e do Comando Militar de Coimbra.

 

O mesmo aconteceu com a neutralização de um forte reduto socialista que, comandado por Amâncio de Alpoim, mobilizara sindicalistas para tomar de assalto os postos da GNR e da Guarda Fiscal e o Campo de Tiro de Alcochete.

Em Lisboa, a estratégia dos revolucionários não difere, no essencial, da seguida em 1927.

Com a tomada do Castelo de S. Jorge, o Comité Revolucionário pretende garantir o controlo de um centro de comunicações e assegurar o posicionamento da sua artilharia.

Com efeito, a partir do Castelo, a artilharia revoltosa poderá alvejar as unidades militares instaladas em torno do Parque Eduardo VII, favoráveis à Ditadura: Metralhadoras I, Caçadores 5 e Artilharia 3.

Mário e Silo Cal Brandão

Todo o material estava depositado na “República das Águias”, onde foi apreendido a Mário Cal Brandão e Silo José Cal Brandão; faziam parte do Grupo que queria assaltar o Quartel de Metralhadoras nº 2; encontrados um fato de cotim e um cinturão do tenente Narciso dos Santos” (AHM, Relatório dos Acontecimentos em Coimbra - Tentativa de Assalto aos quartéis da Guarnição).
Mário e Silo Cal Brandão foram presos na sequência do “Movimento de 20 de Julho de 1928”, tendo passado várias semanas encarcerados no Governo Civil de Lisboa.

 

Com o Comité Revolucionário instalado no Castelo, o movimento estende as suas ramificações por todo o país, da Região Centro, ao Porto e ao Algarve. Prepara uma cintura de apoio ao Castelo de S. Jorge, constituída por unidades de Setúbal, com o fim de evitar a vinda de reforços governamentais do Alentejo e combina com os ferroviários do Sul e Sueste uma greve que devia declarar-se em simultâneo com a revolta. Ao mesmo tempo, garante o reforço de munições, com captura de armamento por colunas de revoltosos em Alcochete e Barcarena.

A quebra de alguns compromissos revolucionários facilitou a reação da Ditadura que, em Lisboa, Coimbra, Porto e Entroncamento, se antecipou à ação reviralhista, prendendo os comités revolucionários, alvejando os núcleos revoltosos, mesmo antes de declarada a revolução, ou sabotando os meios de transporte, como aconteceu no caso do comboio militar que se dirigia de Pinhel para Sul, pela Linha da Beira Alta. De facto, marcado o início dos acontecimentos revolucionários para as 22 horas, ele teve de ser antecipado para uma hora antes porque, no Castelo de S. Jorge foi impossível esconder os preparativos revolucionários ao comandante da unidade, o coronel Bandeira de Lima. Assim, ao contrário do que seria esperado, os primeiros tiros são disparados por Artilharia 3, unidade fiel à Situação, por volta das 21h 15m.

Ocorreram confrontos militares por todo o país, com maior ou menor grau de gravidade. Do Sul, do Centro e do Norte, as unidades sublevadas convergem sobre Lisboa. No Barreiro, os revolucionários tomam a estação ferroviária, onde um grupo de ferroviários, sob o comando do tenente Agatão Lança, declara a greve geral revolucionária, paralisando a circulação na Linha do Sul e interrompendo as comunicações telefónicas.

 

Greve Geral Revolucionária

Proclamação assinada pelo Comité Nacional dos Ferroviários de Portugal e pelo Comité Central dos Ferroviários do Sul e Sueste declarando a greve geral revolucionária em todas as redes ferroviárias do país.

Este documento ilustra a ação conjugada de Agatão Lança e de grupos libertários da margem Sul no desenvolvimento da Revolta do Castelo.

Foi, no entanto, diminuta a relevância militar das ações desenvolvidas pelos ferroviários, tanto mais que o governo conhecia atempadamente os preparativos e prendera já muitos dos implicados.

 
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Contudo, o principal confronto ocorre entre as unidades militares do centro da cidade de Lisboa. Instalado em Artilharia 3, o Quartel-General da Guarnição Militar de Lisboa, sob o comando do general Domingos de Oliveira, fará decidir a situação em favor do Governo da Ditadura após um prolongado tiroteio, sustentado por morteiros, obuses e tiros de peças pesadas instaladas no Parque Eduardo VII, Rotunda e Jardim do Torel. Flagelado toda a noite pela artilharia da Rotunda e pela ação de uma coluna mista, composta por soldados da GNR, equipados com blindados, e de Caçadores 5, sob o comando do coronel Farinha Beirão, que ia avançando pela Encosta do Castelo, o reduto revolucionário viria a cair às 8h 30m do dia 21 de julho.

O núcleo de maior dimensão e com mais longa resistência, composto por cerca de 350 homens, sob o comando do capitão Soares Brandão, partiu do Batalhão de Caçadores 10 de Pinhel, às primeiras horas do dia 20. Carregando numeroso armamento pesado e ligeiro e muares, o grupo é reforçado por forças de Infantaria 12 da Guarda e apoiado por numerosos civis que vão realizando a sabotagem das linhas telegráficas e telefónicas, até Mangualde. No entanto, a viagem torna-se muito morosa, devido a cortes consecutivos da linha, mandatos executar por chefes de estação, sob a orientação do Comando Militar de Viseu.

 

Aquilino Ribeiro

Aquilino Ribeiro

 

Os cortes da linha férrea vão sendo sistematicamente reparados, destacando-se de uma das vezes a ação enérgica de Aquilino Ribeiro que, de arma em punho, obriga a que seja reparada a linha pela brigada de trabalho que acabava de a destruir. Num percurso que normalmente demoraria 1h30m, o comboio revolucionário vai demorar cerca de 12 horas, inutilizando assim toda a sua intervenção militar.

“O Dr. António Gomes Mota, médico, de 34 anos, de Sernancelhe e o escritor Aquilino Ribeiro, de 40 anos, de Carregal, junto do túnel de Mesquitela, de pistola em punho, obrigaram os operários que se encontravam a destruir a linha a repô-la no seu lugar. De seguida foram presos pelo oficial de serviço e enviados para a Casa de Reclusão de Viseu”. (AHM, Relatório do Administrador do Concelho de Mangualde)

Os dois presos conseguiram evadir-se do presídio do Fontelo, em Viseu, em 15 de agosto de 1928, dia de festa da Nª Sra. da Lapa, recorrendo a um serrote introduzido num cesto de bolos e a uma chave moldada por mestre forjador, enquanto vários amigos utilizaram uma grafonola para abafar os ruídos.

Como disse Aquilino Ribeiro: Perdoo tudo! Até mesmo que me roubem, só não perdoo a um homem preso que não se esforce por fugir.

 

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