Capitão de Artilharia e Aviador.
Filho de Maria Lucinda Lemos e de Henrique Martins Correia, António Correia nasceu a 21 de julho de 1895 em S. Pedro de France, perto de Viseu, e faleceu na Quinta das Mestras, Vila da Feira, em 1961, vítima de uma hemorragia cerebral.
Casado com Florinda Cerqueira de Mesquita (n. 28-04-1886), teve duas filhas. A mais nova, Maria Amélia Cerqueira Martins Correia, casou com o advogado e antifascista Fernando Mouga.
Ainda estudante do liceu, alistou-se "como voluntário na unidade de artilharia de Viseu", "fez a guerra em França" e obteve, em Inglaterra, "o diploma de piloto-aviador de combate que dele fez um dos pioneiros da aviação militar portuguesa". Um acidente de aviação em Torres Novas, quando voava com Ribeiro da Fonseca, fizeram-no regressar à Arma de Artilharia, sendo "o capitão mais novo, ao tempo, do Exército português e na Arma permaneceu até que, já na situação de reserva, o ministro fascista da Guerra, Fernando dos Santos Costa, o demitiu".
Embora tenha cursado Direito em Coimbra, "ficando-se pela frequência do primeiro ano", seguiu a carreira militar.
Radicado em Viseu, depois de "desligado da aviação e de servir na Artilharia, em Amarante", este "republicano de consequente acção democrática" fomentou a "criação de uma Universidade Livre", onde também leccionou, e fundou o jornal local República, que dirigia e onde escrevia. Conviveu, entretanto, com os seareiros Raul Proença e Câmara Reys e Almeida Moreira, fundador do Museu Grão Vasco.
Durante a Guerra de 1939-1945, o capitão António Correia foi preso e conheceu, durante quase quatro anos, as principais prisões fascistas, em virtude de uma carta enviada ao embaixador de Inglaterra em Portugal onde "se afirmava o apoio dos republicanos de Viseu à causa dos Aliados e se censurava a posição de Salazar".
Por denúncia, a polícia política teve conhecimento da missiva e António Correia foi preso a 11 de janeiro de 1942, enviado para o Aljube e, como era militar, seguiu para a Casa de Reclusão da Trafaria a 19 do mesmo mês. Demitido do Exército por despacho de Santos Costa, foi transferido, a 8 de julho do mesmo ano, para o Aljube, por si considerado muito pior do que o inferno em missiva ao capitão Arruda, detido na Trafaria. Dali passou para Caxias (28 de julho) e, a 5 de agosto, embarcou para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde permaneceu até 27 de janeiro de 1944. - ver informação sobre o S.O.E. britânico a que terá estado ligado.
De regresso ao continente, "tendo recolhido ao Hospital Júlio de Matos", segue, um mês depois, para Caxias e, a 23 de maio do mesmo ano, é transferido para a fortaleza de Peniche. Só sairá em liberdade, amnistiado, em 1 de novembro de 1945
Poucos dias depois, foi um dos oradores do imponente comício realizado no Teatro Avenida: "pela primeira vez depois do advento do fascismo salazarista era possível à oposição democrática de Viseu manifestar-se maciçamente num acto público".
Libertado, "tratou de viver com honra na situação a que fora reduzido de homem sem haveres nem rendimentos que lhe permitissem subsistir: trabalhou no comércio em Lisboa e Viseu como empregado, na Seara Nova com Câmara Reys ao lado de Manuel Ricardo; fixado por fim, nos arredores de Vila da Feira em casa de Maria Isabel, sua filha mais velha, leccionou num colégio da vila com o simples nome de António Correia até que a pide o localizou e impôs ao director que o despedisse".
Publicou dois livros, Poucos Conhecem os Açores, com prefácio de Câmara Reys (1942) e Palavras Sem Eco (1960), tendo esta recolha de escritos de opinião sido apreendido pela PIDE.
Na sequência do 25 de Abril, foi restituído, postumamente, no posto e na Arma de onde tinha sido demitido. A nova gestão da Câmara Municipal de Viseu atribuiu o nome de António Correia a uma rua, "embora secundária, da cidade". Por pouco tempo, pois a vereação eleita tratou de riscar aquele nome da toponímia.
(Citações de Fernando Mouga, Janela da Memória, 1996)
Ver desenho de António Correia da autoria de Atayde e Melo.