Segundo Antónia Maria Gato Pinto, na sua tese de Doutoramento em Sociologia intitulada "TARRAFAL: RESISTIR COMO PROMESSA, O poder de transformar uma experiência de opressão numa história de grandeza", 2019, o grupo de presos internado no Tarrafal sob acusação de ligações ao SOE - Special Operations Executive, que ficaria conhecido em Portugal como a "Rede Shell", era o seguinte:
- Seis militantes comunistas (António Teodoro da Silva Salvador, com a profissão de polícia de pesca; Francisco António Rato, sapateiro; João Manuel Gil, sapateiro; Júlio Monteiro de Macedo, oficial das alfândegas; Sebastião da Encarnação Júnior, ex-sargento-ajudante; Sebastião de Jesus Palma, ex-comissário de polícia)
- Sete republicanos (o piloto aviador António Correia; o médico António Ferreira da Costa; o jornalista Cândido de Oliveira; o comerciante Élio Correia Amorim; o comerciante Francisco Batista da Silva; o ex-tenente de artilharia Gil Cornélio Gonçalves; o funcionário público Pedro da Cunha e Foios Teixeira)
"O seu estatuto social contrastava com o dos encarcerados dentro do campo. Para além do filtro de classe, as penas tinham sido ditadas por via administrativa, decisão do governo para evitar publicidade e escândalos sobre a atuação da SOE. Tudo somado, favoreceu que este grupo de presos tivesse uma sorte diferente, como afirmam: «Durante a nossa estadia no Tarrafal, a barraca em que passamos a viver, fora do arame farpado em regime especial estabelecido talvez para atenuar a ilegalidade da nossa deportação» (Oliveira 1974, 59). São os encarcerados dentro do recinto que esclarecem o que esse “especial” queria dizer: para além de só ficarem trancados durante o período das 8 horas da noite às 5 da madrugada, «tinham ordem para passear dentro de uma determinada área sem serem acompanhados pelos guardas, podiam deslocar-se até à
praia ou ir até à horta, comiam da messe dos guardas, não trabalhavam e tinham o dinheiro e as malas em seu poder» (Diário de António Gato Pinto, Tarrafal, 1942)".
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O Special Operations Executive (SOE) era uma organização secreta britânica criada em 22-07-1940 pelo ministro (Trabalhista) da Guerra Económica, no governo de coligação chefiado por Winston Churchill.
Os principais objetivos do SOE consistiam na organização de ações de reconhecimento, espionagem e sabotagem em países ocupados pelos exércitos nazis e, no sudoeste asiático, pelos militaristas japoneses - tendo também em vista estabelecer articulação com movimentos de resistência locais.
Face à eminência da entrada das tropas alemãs no território espanhol, com vista à captura de Gibraltar (“Operação Félix”), e tendo sido igualmente desenhada a “Operação Isabella”, que planeava o avanço de tropas alemãs e espanholas sobre Portugal, os serviços britânicos desenvolveram planos para a instalação em Portugal de uma rede secreta de resistência à eventual invasão do país pelas tropas franquistas e nazis.
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Consultar:
- In the service of order, Douglas L. Wheeler, 1983
- A Lusitânia dos espiões, José António Barreiros, 1995
- https://www.24land.pt/about/ de José António Barreiros
- ver ainda o Decreto-lei n.º 32832, que abaixo se publica (crimes contra a segurança exterior do Estado)