banner

 

Ismael Fernandes

Fotografia desconhecida
9238
Data da primeira prisão

No dia 8 de setembro de 1936, eclodiu a Revolta dos Marinheiros a bordo dos navios da marinha de guerra Dão, Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, surtos no Tejo. A decisão partiu da ORA-Organização Revolucionária da Armada, integrante do PCP, e seguiu-se à enorme repressão que se vinha sentido sobre os marinheiros (mais de 30 presos nos meses anteriores), o exercício sistemático da violência sobre os setores mais baixos da hierarquia da Marinha, as condições insuportáveis de vida a bordo e, também, enquanto afirmação destemida de recusa da ascensão fascista, quer em Portugal, quer em muitos outros países, e de reivindicação de libertação dos presos políticos.
A revolta dos marinheiros foi violentamente reprimida pelo regime fascista que tivera conhecimento antecipado dos preparativos do movimento. Para o efeito, o governo mandou bombardear, a partir dos Fortes de Almada e do Alto do Duque, os navios revoltados (que tinham sido anteriormente sabotados por alguns oficiais) – destacando-se em toda a repressão Américo Tomás, chefe de gabinete do ministro da Marinha, e Henrique Tenreiro. Mesmo após a rendição dos revoltosos, “recomeçou o fogo de metralhadora sobre os [marinheiros] fugitivos”, embora alguns tenham “logrado atingir terra firme.”
Não por acaso, foi mandado publicar de imediato o Decreto-Lei n.º 27003, de 14 de setembro de 1936, que estabelecia a obrigatoriedade da chamada “declaração anticomunista” (ver anexo):  Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as idéas [sic] subversivas.
Durante a revolta foram mortos 12 marinheiros e registou-se um número indeterminado de feridos. Sob as ordens diretas de Salazar (ver nota oficiosa anexa), foram presos e demitidos 208 marinheiros e condenados em Tribunal Militar Especial 82 revoltosos, dos quais seguiram 4 para a Fortaleza de Peniche, 44 para a Fortaleza de S. João Batista, em Angra do Heroísmo, nos Açores, e 34 integraram a primeira leva dos deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.

Ismael Fernandes, de 22 anos, foi levado para o Hospital de S. José, “com uma perna esfacelada” por estilhaços de granada e faleceu “pouco depois do meio dia”, com 22 anos.

Registe-se que o seu grande amigo Adelino Mendes (ver fotografia anexa), outro dos marinheiros que militava na ORA, seria preso pela Armada e entregue à PVDE só regressaria definitivamente à liberdade em 18 de outubro de 1939. 
Filho de camponeses da Serra da Lousã, o marinheiro Adelino Mendes exilou-se em 1941 em Cuba e participou nas atividades do Partido Socialista Popular, tendo sido condecorado, a título póstumo, por Fidel Castro, com a Medalha de Combatente da Luta Clandestina.