Médico prestigiado, corajoso oposicionista ao regime de Salazar, pagou a sua contestação com a prisão e o degredo no Tarrafal, onde permaneceu de 1942 a 1944. Depois de libertado, denunciou publicamente as condições atrozes em que viviam os prisioneiros naquela prisão política.
António Ferreira da Costa, filho de José Ferreira da Costa e Maria Rosa Oliveira, nasceu em Sangalhos, concelho de Anadia, em 23 de dezembro de 1904. Formou-se em Medicina na especialidade de Otorrinolaringologia. Exerceu clínica privada em Coimbra. Foi casado com Armanda Ferreira da Costa, também ela uma antifascista, que teve atividade no núcleo de Coimbra da «Associação Feminina Portuguesa para a Paz», e foi pai de Germano Ferreira da Costa, também ele militante antifascista (já falecido).
Foi preso em Coimbra pela polícia política (PVDE), em Fevereiro de 1942, acusado de ligações ao S.O.E. britânico e enviado para o Aljube, de onde transitou para Caxias, em maio do mesmo ano. Sem ter sido julgado, e apenas por determinação da diretoria da PVDE, foi enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em 5 de agosto de 1942. Em 15 de maio de 1944, foi embarcado para a metrópole, mas para voltar à prisão do Aljube.
Depois de libertado, escreveu (em outubro de 1944) uma exposição ao Ministro do Interior, ousando denunciar, com a maior coragem, a desumanidade do Campo de Concentração do Tarrafal, as condições atrozes em que os prisioneiros viviam e morriam, e a atuação criminosa do médico e do diretor dessa prisão - ver documento anexo.
Em julho de 1952 voltou a ser preso em Coimbra para averiguações, sendo enviado para o Aljube e, dali, para o Forte de Caxias, de onde seria libertado três meses mais tarde.
Impedido de exercer clínica nas instituições públicas, o Dr. Ferreira da Costa dedicou-se à clínica privada, sendo reconhecido o papel importante que sempre teve na prestação de cuidado médicos, em apoio solidário a antifascistas e familiares.
Mantendo até ao fim as suas convicções políticas, participou e apoiou as atividades da oposição democrática, nomeadamente nos Congressos Republicanos e da Oposição Democrática de Aveiro.
Durante a ditadura, António Ferreira da Costa, pelo seu passado e coragem, era uma figura mítica na região de Aveiro (sobretudo na Costa Nova, a praia onde tinha casa e onde se dedicou também à criação de patos ), exemplo para os jovens que o conheciam.
Depois do 25 de Abril de 1974, foi o mandatário, por Coimbra, da candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais de 1976. Morreu em 20 de Julho de 2000.