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Nicolau dos Reis Lobato

Nicolau dos Reis Lobato

Nicolau dos Reis Lobato nasceu em Soibada a 24 de maio de 1946, filho primogénito de Narciso Manuel Lobato, professor-catequista, e de Felismina Alves Lobato, que tiveram 13 filhos. Batizado na paróquia da Imaculada Conceição, de Soibada, a infância e a mocidade de Nicolau Lobato decorreran num meio profundamente religioso e católico. Fez os seus estudos primários no Colégio Nuno Alvares Pereira, seguindo depois para o Seminário Menor de Nossa Senhora de Fátima, de obediência jesuíta, em Dare, onde concluiu o 5.º Ano de Humanidades.
Em 1965, abandona o Seminário, prosseguindo os estudos no Liceu Dr. Francisco Machado, em Díli, com a intenção de vir a formar-se em Direito em Portugal – a doença do pai, a educação dos irmãos mais novos e a falta de apoio financeiro do governo português impediram-no de realizar este sonho.
Em 1966 foi incorporado no Exército Português, completando o CSM (Curso de Sargentos Milicianos) com distinção como 1.º classificado do curso, seguido de João Viegas Carrascalão.
Foi colocado na Diligência Militar de Bazartete e, após a promoção ao posto de Furriel Miliciano, foi transferido para a Companhia de Caçadores n.º 15 em Caicoli, onde seria nomeado vagomestre, responsável pela alimentação de todo o quartel. Aí trava conhecimento com o Primeiro-Sargento Timane, natural de Nampula, que, secretamente, lhe fala da luta de libertação nacional em Moçambique.
Tendo cumprido o seu serviço militar obrigatório, regressou à vida civil em 1968, obtendo emprego na Missão Agronómica de Timor. A+i conheceu o regente agrícola Marcelino, natural de Cabo Verde, que lhe falou do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e da luta de libertação nacional da Guiné e de Cabo Verde. Terá então lido os primeiros livros sobre a luta da libertação das colónias portuguesas de África.
Colaborou em diversos jornais timorenses, designadamente no "Seara", órgão da diocese de Dili. Praticante de diversas modalidades desportivas, frequentou também o Clube Desportivo da União e o Clube Desportivo Académica, onde jogou futebol.
Da Missão Agronómica de Timor transitou para a Repartição das Finanças, ganhando o concurso para a categoria de 3.º Oficial, recebendo a tarefa de supervisionar a feitura dos títulos de pagamento de todo o funcionalismo público.
Entretanto, conheceu Isabel Barreto, com quem casa em 1972 na Capela de Bazartete
Em meados de 1974, no seguimento do golpe militar do 25 de abril em Portugal, Nicolau dos Reis Lobato abandonou voluntariamente o funcionalismo público português para se dedicar a tempo inteiro à criação da Associação Social Democrática Timorense (ASDT), que era pelo "direito à independência (autonomia progressiva com vista a uma independência)", formalizada em 20 de maio de 1974, com uma comissão organizadora constituída por Francisco Xavier do Amaral, Maria do Céu Pereira, Nicolau dos Reis Lobato, Aleixo Corte Real, Octávio Jordão de Araújo, Afonso Araújo, Rui Fernandes, Floriano Chaves e Sebastião Montalvão.
Xavier do Amaral e Nicolau Lobato constituem os principais rostos da ASDT e da mobilização popular levada a cabo em todo o território.
Impulsiona a transformação da ASDT em FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente), a 11 de setembro de 1974, assumindo a vice-presidência do novo partido - "cedo se revelou como um organizador, dirigente revolucionário incontestável e ardente defensor dos interesses das massas mauberes oprimidas"
Nicolau dos Reis Lobato, na sua qualidade de vice-presidente e na ausência do então Presidente da Fretilin, Francisco Xavier do Amaral, liderou toda a ação de resposta à investida armada da UDT contra a Fretilin iniciada a 11 de agosto de 1975, com o apoio de alguns setores reacionários portugueses. Após retirada para as montanhas, os dirigentes da FRETILIN conseguiram o apoio de soldados e sargentos timorenses das forças militares portuguesas, designadamente de Aileu, liderando Nicolau Lobato todo o processo operacional político e militar de contraofensiva e fundando, a 20 de agosto de 1975, o primeiro destacamento das FALINTIL (Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste).
Nicolau Lobato sempre defendeu a responsabilidade de Portugal na descolonização de Timor-Leste, ao mesmo tempo que entendia urgente o reforço de uma frente ampla que reunisse todos os nacionalistas anti-colonialistas e anti-imperialistas, unificando o Povo timorense.
Partiu para as montanhas a fim de organizar os camponeses da área de Bazartete em agricultura cooperativa. Percorreu Timor-Leste no período anterior à luta armada e organizou as primeiras escolas de alfabetização num enorme esforço para combater o analfabetismo e o obscurantismo do Povo. Tomou ainda nas suas próprias mãos a grande tarefa da reorganização político-administrativa de Timor-Leste nos meses de setembro, outubro e novembro de 1975.
Perante a ameaça crescente da Indonésia, apoiada diretamente pelos Estados Unidos da América, Nicolau Lobato e a FRETILIN proclamam a insurreição popular generalizada e armada como único caminho para a libertação do Povo Maubere e, face à iminência da invasão indonésia, proclamam unilateralmente, em Dili, a 28 de novembro de 1975, a independência da República Democrática de Timor-Leste. Xavier do Amaral toma posse como Presidente da República e Nicolau Lobato como Primeiro-Ministro, sendo nomeados, designadamente, Mari Alkatiri como Ministro de Estado para os Assuntos Políticos, Abílio Araújo como Ministro de Estado para os Assuntos Económicos e Sociais, José Ramos Horta como Ministro das Relações Externas e Informação e Rogério Lobato como Ministro da Defesa.
Logo a 7 de dezembro de 1975, e após numerosas operações secretas, as forças militares indonésias invadiram o território de Timor-Leste com um gigantesco dispositivo militar (em finais do ano, as forças ocupantes totalizavam mais de 35.000 homens, além de outros 10.000 estacionados em Timor Ocidental). 
As populações refugiaram-se nas montanhas, onde, sob a direção da FRETILIN, organizaram as estruturas políticas, económicas e sociais que permitiram assegurar uma longa resistência ao invasor – que demorou quase 4 anos a conquistar integralmente o território!
Nicolau Lobato assumiu a direção da luta e, após divergências no seio do partido, substituiu, em 14 de setembro de 1977, Xavier do Amaral nos cargos de Presidente da República e de Comandante-em-Chefe das FALINTIL, afirmando “A nossa Vitória é apenas questão de tempo”.
Em dezembro de 1978, a traição de um dirigente da FRETILIN faz cair a Rádio Maubere nas mãos dos invasores indonésios, eliminando assim o mais importante meio de comunicação com o exterior. Os bombardeamentos, as prisões e execuções sumárias, a fome e a doença criaram uma situação cada vez mais difícil para as populações timorenses nas montanhas, ao mesmo tempo que as FALINTIL careciam de armamento e de munições. Quase toda a família de Nicolau Lobato foi morta pelos invasores, sendo a sua esposa, Isabel Barreto Lobato, brutalmente assassinada no cais de Díli, no próprio dia da invasão.
A 31 de dezembro de 1978, Nicolau Lobato morreu em combate no vale de Mindelo, entre Maubisse, Turiscai e Manufahi, desconhecendo-se até hoje onde estará enterrado. As forças militares ocupantes indonésias distribuíram de avião milhares de fotos do seu cadáver para desmobilizar, em vão, a resistência do povo timorense.

Fotografia de Nicolau Lobato discursando na cerimónia de proclamação unilateral da independência da República Democrática de Timor-Leste, Dili, 28 de Novembro de 1975. Ver excerto da conferência de imprensa de Nicolau Lobato, vice-presidente da FRETILIN na Casa de Timor, em Lisboa, 21-05-1975, em https://arquivos.rtp.pt/conteudos/conferencia-de-imprensa-de-nicolau-dos-reis-lobato/ Ver entrevista de Nicolau Lobato, a 09-11-1975, em https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-nicolau-dos-reis-lobato/