António Augusto Ferreira de Macedo nasceu em Mesão Frio a 28 de março de 1887, filho de pais modestos.
Com cinco anos de idade veio para Lisboa, onde fez a instrução primária, matriculando-se no Instituto Industrial e concluindo o 7.º ano do liceu.
Em 1909 matriculou-se no curso da Escola Médico-Cirúrgica, de que acabou por desistir por dificuldades financeiras (aos 17 anos de idade dava já explicações para viver). Em 1911 vai para Faro como professor do liceu. Logo no ano seguinte regressa a Lisboa, sendo contratado como professor no Liceu Pedro Nunes, onde permanecerá até 1917. Ao longo da vida, lecionou em diversas outras instituições de ensino: na Escola Industrial Marquês de Pombal (1919-1923), na Escola Rodrigues Sampaio (1922-1924) e na Escola Afonso Domingues (1924-1942).
Iria mais tarde, em 1920, concluir a sua formatura em Ciências Matemáticas, na Universidade de Lisboa. Em 12 de outubro de 1927 foi nomeado assistente e professor interino do IST, onde lecionou os cursos teóricos de Matemáticas Gerais e de Geometria Descritiva. Por proposta do Conselho Escolar do IST foi nomeado, em 5 de julho de 1943, professor catedrático das cadeiras de Matemáticas Gerais e de Geometria Descritiva.
Ferreira de Macedo desempenhou ainda o cargo de chefe dos serviços administrativos da Biblioteca Nacional de Lisboa, quando era seu diretor Jaime Cortesão (1919-1927).
Sempre empenhado nas questões da educação popular, fundou a Universidade Popular Portuguesa, que dirigiu, e colaborou na Universidade Livre. A UPP, inaugurada em 27 de abril de 1929, tinha como objetivo estatutário contribuir para a educação geral do povo português, designadamente através da realização de conferências e sessões cinematográficas e da constituição de bibliotecas, dirigindo a sua atividade especialmente à classe operária, tendo alcançado grande prestígio em Portugal e reconhecimento internacional – ver, em especial, o
artigo que publicou sob o título "Educação Popular" na Seara Nova n.º 8, de 15 de fevereiro de 1922, em que, precisamente, aborda os termos em que "temos aplicado [os pontos de vista sobre educação popular], vai para três anos, na direcção da Universidade Popular Portuguesa". Aí contou, designadamente, com a colaboração ativa de Bento de Jesus Caraça, que assumiu a presidência da UPP em dezembro de 1928.
Ferreira de Macedo é também um dos fundadores (muitas vezes ignorado) da revista Seara Nova, em 1921.
Ao longo da sua vida preocupou-se com as questões da educação do povo e da pedagogia, pugnando pelo acesso à instrução e cultura por todas as camadas sociais, tendo publicado diversos trabalhos e proferido conferências sobre estes temas.
Pedagogo e divulgador, é um entusiasta do movimento cultural de massas, em especial na luta pela modernização dos métodos de ensino e de formação de professores. Democrata, defensor do ensino livre, adere ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) contra o regime, em 1945/46. O tema da “Educação do Povo” era precisamente o título da conferência que Ferreira de Macedo deveria ter proferido na Voz do Operário a 5 de novembro de 1945 e que foi proibida – ver em anexo título do jornal República sobre essa proibição e, também, o anúncio e a capa da edição dessa conferência pela Seara Nova.
Com data de 14 de junho de 1947, Salazar decide mandar aplicar a onze militares e a vinte e um investigadores e docentes universitários o famigerado Decreto-Lei n.º 25317, de 13 de Maio de 1935, que mandava “aposentar, reformar ou demitir os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”, ou seja, quem não apoiasse a “situação”.
Desse modo, o Conselho de Ministros manda, entre outros visados, considerar abrangido no artigo 1.º do decreto-lei n.º 25 317, de 13 de maio de 1935, devendo consequentemente ser aposentado (ou demitido, se não tiver direito a aposentação) o o Bacharel António Augusto Ferreira de Macedo, professor catedrático do Instituto Superior Técnico.
Mais uma vez, Salazar recorre à repressão para afastar da universidade alguns dos seus melhores investigadores e docentes, tentando assim silenciar quantos estavam ativamente empenhados no processo de promoção da educação e da investigação científica.
"Afastado da cátedra, passou a leccionar particularmente, num gabinete estreito e pobre da sua casa, com mesa e cadeiras toscas, gráficos e esquemas nas paredes, a par de duas ou três figuras dos seus grandes guias espirituais." (Câmara Reys, Seara Nova, n.º 1368, de outubro de 1959), regressando assim ao labor da sua juventude, dava explicações de Cálculo, Mecânica Racional, Matemáticas Gerais e de Geometria Descritiva em grupos de 10 alunos, morando no prédio, na Rua Almeida e Sousa, em Campo de Ourique, em que Bento Caraça fora seu vizinho no primeiro andar.
Em 1948, é um dos signatários da “Representação” ao governo contra a ilegalização do MUD (ver anexo).
Citando Câmara Reys, “Fundador da Universidade Popular Portuguesa e um dos fundadores da “Seara Nova”, Ferreira de Macedo muito contribuiu para o contacto dos intelectuais portugueses com o operariado.”
Em 17 de julho de 1951, a Direção da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico dirige ao Ministro da Presidência um carta a pedir a reintegração do Professor Ferreira de Macedo, “merecedor do respeito e amizade de todos os seus alunos”.
Faleceu em 19 de setembro de 1959.
REFERÊNCIAS
A morte do Prof. Ferreira de Macedo - Desaparece um paladino da educação popular portuguesa, por Alexandre Vieira, publicado na Seara Nova, n.º 1368, de outubro de 1959
Camara Reys, na morte do prof. Ferreira de Macedo, publicado na Seara Nova, n.º 1368, de outubro de 1959
Esboço biográfico de Ferreira de Macedo por Alberto Pedroso.