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Os mortos

A violência prisional, as condições de vida no campo de concentração, o isolamento, a deficiente alimentação, a deliberada ausência de tratamento das enfermidades que atacaram os presos, os castigos sucessivos - assim foram reunidas pelos carcereiros as circunstâncias que permitiam cumprir o objetivo de eliminação de muitos dos adversários do regime ditatorial.

Na Fase I do Campo, o regime fascista conduziu à morte no Tarrafal de alguns dos principais dirigentes operários, sobretudo comunistas e anarcosindicalistas, eliminando também homens que se tinham batido na greve geral revolucionária de 18 de janeiro de 1934 e na Revolta dos Marinheiros de 8 de setembro de 1936.

Na Fase II do Campo, o objetivo principal consistia em afastar do seu meio e dos seus companheiros nacionalistas que o regime colonial considerava indesejáveis, deportando-os para onde, na sua maioria, nem as próprias famílias teriam qualquer notícia.

Ao longo dos anos de funcionamento do Campo de Concentração, morreu, em média, um preso por ano, com evidente maior incidência na primeira fase. 

Sem nunca terem sido apurados e condenados os responsáveis, julgamos nosso dever prestar sentida homenagem aos companheiros caídos, para que nunca mais surjam novos Tarrafais.

Apresentamos seguidamente os nomes de quantos ali caíram, por ordem cronológica da sua morte:

Exibindo 26 - 36 de 36

Joaquim Montes

Profissão:
Corticeiro
Data da morte:
Militante anarquista, participou na greve revolucionária de 18 de janeiro de 1934. Acusado de bombista e de ter provocado a paralização do trabalho em Almada, foi condenado pelo TME a 14 anos de degredo nas colónias, estando preso dois anos na Fortaleza de S, João Batista, em Angra do Heroísmo e quase 7 anos no Tarrafal, onde morreu em 14 de fevereiro de 1943, com 31 anos de idade.

José Manuel Alves dos Reis

Profissão:
Marceneiro
Data da morte:
Marceneiro e libertário, foi entregue à PVDE pelo Administrador do Concelho do Barreiro. Sem nunca sequer ser "julgado", segue para o Tarrafal a 5 de junho de 1927, vindo a morrer, no dia 11 de junho de 1943, com a idade de 49 anos, quando já  "dependia da ajuda dos companheiros, para se recostar nos travesseiros, para comer, para lhe lavarem a roupa, os pratos, as colheres".

Francisco do Nascimento Gomes

Profissão:
Condutor de carros elétricos
Data da morte:
Enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, o seu estado de saúde deteriora-se, com as deficientes condições de higiene e salubridade, a ausência de assistência médica e medicamentosa e diversos castigos na "frigideira" (entre maio e julho de 1943, aí passou dois meses de castigo).Apesar de condenado em 3 anos pelo TME, a PVDE o manteve durante quatro anos e oito meses, até à sua morte, em 15 de novembro de 1943, com 34 anos de idade. 

Edmundo Gonçalves

Profissão:
2.º sargento
Data da morte:
Preso pela PVDE em 09-05-1935 e,de novo, a 06-12-1936, será demitido e condenado em Tribunal Militar Especial, a 23-04-1937, na pena de 4 anos de desterro. No dia 5 de junho de 1937, é enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde virá a falecer no dia 13 de junho de 1944, com 44 anos de idade.

Manuel Augusto da Costa

Profissão:
Servente de pedreiro
Data da morte:
Militante anarquista, foi preso a 30 de janeiro de 1934 pela sua participação na greve revolucionária do 18 de janeiro e condenado pelo TME a 14 anos de degredo nas colónias. Embarcado em 8 de setembro de 1934 para a Fortaleza de S. João Batista, em Angra do Heroísmo, nos Açores, é transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, dois anos depois, em 23-10-1936. Faleceu aos 58 anos, a 3 de junho de 1945, poucos dias depois de ter cumprido 30 dias de castigo na “frigideira”.

Joaquim Marreiros

Profissão:
Grumete de manobras do «Bartolomeu Dias»
Data da morte:
Grumete de manobras do "Bartolomeu Dias", acusado de "insubordinação" (Revolta dos Marinheiros), foi entregue à PVDE pelas autoridades de Marinha e condenado pelo TME na pena de 4 anos de prisão maior celular seguidos de 8 anos de degredo. Em 18 de setembro de 1936, embarcou para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde irá falecer em 3 de novembro de 1948, com 38 anos.

António Guerra

Profissão:
Empregado de escritório
Data da morte:
Um dos dirigentes da greve revolucionária de 18 de janeiro de 1934 na Marinha Grande, morre no Campo de Concentração do Tarrafal, a 28 de dezembro de 1948, para onde fora mandado pela segunda vez, após 14 anos de prisão. 

António Pedro Benge

Data da morte:
Natural de Cabinda, pertenceu aos primeiros movimentos nacionalistas angolanos. António Pedro Benge é preso pela PIDE a 29 de março de 1959 e vai integrar o primeiro processo do que ficou conhecido como “processo dos 50”. Condenado pelo Tribunal Militar a 10 anos de prisão, foi enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal/Chão Bom em 26 de fevereiro de 1962, aos 60 anos de idade. Morreu em Setembro de 1962 em Lisboa, para onde fora transferido para internamento hospitalar. 

Cutubo Cassamá

Data da morte:
Cotubo Cassamá chegou ao Tarrafal a 4 de setembro de 1962. Amontoado com outros presos numa sala de tamanho insuficiente, sem recreio, sem possibilidade de tomar banho, morreu escassos escassos dois meses depois da chegada ao campo, a 12 de novembro de 1962, com 54 anos de idade, de alegada "pneumopatia aguda" 

Biaba Nabué

Data da morte:
Biaba Nabué chegou ao Tarrafal em 4 de setembro de 1962. Amontoado com outros presos numa sala de tamanho insuficiente, sem recreio, sem possibilidade de tomar banho, morreu a 24 de novembro de 1962. Tinha 45 anos.

Chipóia Magita

Data da morte:
Natural do Luso, Moxico, de etnia Quioca (Tshokwe), foi preso na companhia de um sobrinho. Acusado de ligações à UNITA, foi condenado pelo Tribunal Militar a uma pena de prisão de 3,5 anos. Enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal/Chão Bom, deu ali entrada a 8 de agosto de 1969, com 54 anos de idade. Morreu a 13 de maio de 1970. Levado para o Hospital da Praia, em Cabo Verde, foi ali sepultado, em vala comum.