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Os mortos

A violência prisional, as condições de vida no campo de concentração, o isolamento, a deficiente alimentação, a deliberada ausência de tratamento das enfermidades que atacaram os presos, os castigos sucessivos - assim foram reunidas pelos carcereiros as circunstâncias que permitiam cumprir o objetivo de eliminação de muitos dos adversários do regime ditatorial.

Na Fase I do Campo, o regime fascista conduziu à morte no Tarrafal de alguns dos principais dirigentes operários, sobretudo comunistas e anarcosindicalistas, eliminando também homens que se tinham batido na greve geral revolucionária de 18 de janeiro de 1934 e na Revolta dos Marinheiros de 8 de setembro de 1936.

Na Fase II do Campo, o objetivo principal consistia em afastar do seu meio e dos seus companheiros nacionalistas que o regime colonial considerava indesejáveis, deportando-os para onde, na sua maioria, nem as próprias famílias teriam qualquer notícia.

Ao longo dos anos de funcionamento do Campo de Concentração, morreu, em média, um preso por ano, com evidente maior incidência na primeira fase. 

Sem nunca terem sido apurados e condenados os responsáveis, julgamos nosso dever prestar sentida homenagem aos companheiros caídos, para que nunca mais surjam novos Tarrafais.

Apresentamos seguidamente os nomes de quantos ali caíram, por ordem cronológica da sua morte:

Exibindo 1 - 25 de 36

Francisco José Pereira

Profissão:
1.º Artilheiro do «Bartolomeu Dias»
Data da morte:
1.º Artilheiro do «Bartolomeu Dias» e militante da ORA-Organização Revolucionária da Armada, foi condenado pelo TME, na sequência da "Revolta dos Marinheiros", na pena de 5 anos de prisão maior celular seguidos de 10 anos de degredo. Enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, será o primeiro deportado a morrer de "febre biliosa", a 20 de setembro de 1937, menos de um ano após a sua chegada.  

Pedro de Matos Filipe

Profissão:
Descarregador
Data da morte:
Militante libertário, foi preso na sequência da greve revolucionária do 18 de janeiro de 1934 e condenado em TME a 12 anos de degredo nas colónias. Seguiu para Angra do Heroísmo e, depois, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde faleceu com 31 anos, em 20 de setembro de 1937.

Francisco Domingues Quintas

Profissão:
Industrial talhante
Data da morte:
O industrial Francisco Quintas foi entregue, com os seus dois filhos, à PVDE pelas autoridades fascistas, no início da Guerra Civil de Espanha, sendo enviados para o Tarrafal. Padecendo de febre palustre e sem tratamento médico e medicamentoso, viria a falecer no Tarrafal, aos 47 anos de idade, a 22 de setembro de 1937. Os filhos permaneceram no Tarrafal, só sendo finalmente libertados em outubro de 1945.    

Augusto Costa

Profissão:
Vidreiro
Data da morte:
Vidreiro, participa na revolta da Marinha Grande. Preso e foi condenado em TME a 5 anos de degredo, seguindo para Angra do Heroísmo nos Açores e, mais tarde, para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde morreu em 22 de setembro de 1937, sem assistência médica e medicamentosa, com 36 anos de idade.

Rafael Tobias Pinto da Silva

Data da morte:
Relojoeiro e, enquanto estudante, militante dos Grupos de Defesa Académica desde 1932, assegurava a sua ligação com o Comité Local de Lisboa do PCP. Preso por duas vezes em 1934, foi absolvido pelo TME e ... enviado para o Tarrafal. Menos de um ano depois, em grande sofrimento, faleceu com 26 anos de idade, no dia 22 de setembro de 1937.

Cândido Alves Barja

Profissão:
1.º Artilheiro do «Bartolomeu Dias»
Data da morte:
1.º Artilheiro do «Bartolomeu Dias», Entregue pelo respetivo comando, deu entrada na PVDE em 8 de setembro de 1936, "por insubordinação" (Revolta dos Marinheiros). Condenado pelo Tribunal Militar Especial "na pena de 5 anos de prisão maior celular, seguidos de 10 anos de degredo ou na alternativa de 17 anos e meio de degredo em possessão de 2.ª classe", é enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde virá a falecer a 26 de setembro de 1937, com 27 anos.

Abílio Augusto Belchior

Profissão:
Marmorista
Data da morte:
Marmorista, Abílio Augusto Belchior foi preso por fazer parte da Confederação Geral do Trabalho e acusado de participar em atentados. Condenado a degredo, com prisão, foi enviado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, e integrou a primeira leva de presos que seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde faleceu a 23 de outubro de 1937, com 39 anos de idade.

Francisco do Nascimento Esteves

Profissão:
Torneiro de metais
Data da morte:
Torneiro de metais e militante comunista, preso e condenado em TME na pena de 20 meses de prisão correccional. Restituído à liberdade em 22 de fevereiro de 1936, foi novamente preso pela polícia política em 2 de maio de 1937 e enviado para o Tarrafal, em Cabo Verde, a 5 de junho de 1937. Morrerá, vítima do paludismo e das condições prisionais, no dia 21 de janeiro de 1938.

Arnaldo Simões Januário

Profissão:
Barbeiro
Data da morte:
Barbeiro, 41 anos, militante da União Anarquista Portuguesa, conheceu a repressão no Governo Civil de Coimbra, no Aljube, na Trafaria e sofreu deportações para as colónias de Angola, Açores, Cabo verde e Timor. Regressado a Portugal em 1933, foi de novo preso após a greve insurreccional do 18 de janeiro e encarcerado no Aljube. Condenado a 20 anos de degredo, segue para a Fortaleza de S. João Baptista, na Ilha Terceira e, a 23 de outubro de 1936, para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Destruído fisicamente e sem cuidados médicos, sucumbe a uma biliosa, a 27 de março de 1938.

Alfredo Caldeira

Profissão:
Pintor-decorador
Data da morte:
Pintor decorador e dirigente do PCP, 30 anos, morreu no Campo de Concentração do Tarrafal de uma biliosa, após longo sofrimento por falta de assistência médica, recusa de entrega de medicamentos e quando já terminara, há quase três anos, a pena a que fora condenado.

Fernando Alcobia

Profissão:
Vendedor de jornais
Data da morte:
Vendedor de jornais e militante da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e do PCP, foi violentamente torturado pela polícia política e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde onde, em grande sofrimento e sem assistência, morreu a 19 de dezembro de 1939, com 24 anos de idade.

Jaime da Fonseca e Sousa

Profissão:
Impressor da Casa da Moeda
Data da morte:
Funcionário Público (impressor da Casa da Moeda) e militante do Partido Comunista Português foi preso a 25 de abril de 1932. Enviado para a Fortaleza de S. João Batista, em Angra do Heroísmo, nos Açores, a 22-11-1933. Julgado em Tribunal Militar Especial, foi condenado em 12 anos de degredo. Requereu a sua transferência para um hospital de Lisboa a fim de ser operado, o que foi autorizado pelo ministro do Interior, mas foi operado em Angra. Seguiu para o Tarrafal, onde vem a falecer a 7 de julho de 1940.

Albino Coelho Júnior

Profissão:
Motorista
Data da morte:
Motorista, preso pela primeira vez em 09-12-1936, conhece várias outras prisões e a violência do "segredo" da Cadeia do Aljube, sendo depois deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde virá a morrer em 11 de agosto de 1940, com a idade de 43 anos.

Mário dos Santos Castelhano

Profissão:
Empregado de comércio
Data da morte:

Jacinto de Melo Faria Vilaça

Profissão:
Aluno de manobras do "Bartolomeu Dias"
Data da morte:
Aluno de manobras do "Bartolomeu Dias", nascido a 04-05-1914 em Lisboa, acusado de "insubordinação", foi entregue à PVDE pelas autoridades de Marinha em 8 de setembro de 1936, "recolhendo ao 3.º Posto da 14.ª Esquadra - «Mitra»". Dez dias depois, dá entrada na Penitenciária. Ccondenado pelo Tribunal Militar Especial na pena de 4 anos de prisão maior celular seguidos de 8 anos de degredo - apresentado recurso. Em 17 de outubro de 1036, embarca para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde vai falecer em 3 de janeiro de 1941, com 27 anos.

Henrique Vale Domingues Fernandes

Profissão:
Grumete de manobras do NRP «Bartolomeu Dias»
Data da morte:
Grumete de manobras do "Bartolomeu Dias foi entregue à PVDE pelas autoridades de Marinha na sequência da Revolta dos Marinheiros. É enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, em 17 de outubro de 1936. Morre a 7 de janeiro de 1942, com 28 anos.

Casimiro Júlio Ferreira

Profissão:
Funileiro
Data da morte:
Funileiro, participou na greve revolucionária de 18 de janeiro de 1934, sendo deportado para os Açores e, mais tarde para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde vem a falecer em 23 de setembro de 1941, com a idade de 32 anos.

Albino António de Oliveira de Carvalho

Profissão:
Comerciante
Data da morte:
Albino António de Oliveira de Carvalho, comerciante, passou mais de 40 anos a caminho da cadeia, sendo várias vezes preso durante a Monarquia, I República, Ditadura Militar e Estado Novo. Conheceu diversas esquadras, a Penitenciária de Lisboa, o Aljube, Peniche e Caxias. Esteve deportado em Angola e faleceu, em 22 de outubro de 1941, com 56 anos de idade, no Campo de Concentração do Tarrafal, para onde fora enviado em 1939.

António Guedes Oliveira Silva

Profissão:
Motorista
Data da morte:
Motorista, 40 anos, preso em 7-11-1937, é sucessivamente transferido entre a 1.ª Esquadra, as Cadeias do Aljube e de Caxias e a enfermaria do Aljube, até ser condenado a 11 anos de degredo pelo Tribunal Militar Especial e embarcar a 1 de abril de 1939 para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde virá a morrer em 3 de novembro de 1941.

João Lopes Diniz

Profissão:
Canteiro
Data da morte:
Com a profissão de canteiro, militante do Partido Comunista Português, foi condenado a dez anos de degredo com "prisão numa das Colónias à escolha do Govêrno". Percorreu as cadeias do Aljube, de Peniche e de S. João Batista, até ser enviado para o Tarrafal, onde faleceu em 12 de novembro de 1941, com 37 anos de idade.

Ernesto José Ribeiro

Profissão:
Servente de pedreiro
Data da morte:
Servente de pedreiro e militante comunista, participa nos preparativos da greve revolucionária de 18 de janeiro de 1934, sendo preso a 29 de janeiro. Deportado para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, nos Açores, integrou a primeira leva de presos políticos que foi enviada para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde faleceu a 8 de dezembro de 1941, aos 30 anos de idade.

Bento António Gonçalves

Profissão:
Torneiro mecânico
Data da morte:
Bento António Gonçalves, torneiro mecânico e Secretário-Geral do Partido Comunista Português faleceu, no Campo de Concentração do Tarrafal, vítima de uma biliose, sem a devida assistência médica, quando já tinha cumprido a pena a que fora condenado pelo Tribunal Militar, em 11 de setembro de 1942, com 40 anos de idade.

Damásio Martins Pereira

Profissão:
Servente
Data da morte:
Servente. Da sua ficha prisional, não consta a deportação anterior para Timor, que teria sido provocada por ter fome e pedir pão.  Em 5 de junho de 1937, embarcou para o Tarrafal, em Cabo Verde, onde conteraíu paludismo e biliosa. Sem assistência médica nem medicamentosa, só baixou à enfermaria nos últimos três dias de vida, onde permaneceu até falecer no dia 11 de novembro de 1942, aos 37 anos de idade.

António de Jesus Branco

Profissão:
Descarregador
Data da morte:
Descarregador no Porto de Lisboa e militante comunista, foi preso pela PVDE em 12-07-1936 e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde permanecerá 6 anos, acamado e dependente da dedicação dos companheiros durante os últimos dois anos, doente com paludismo e tuberculose e crescentemente debilitado pela doença e falta de assistência médica.. Faleceu no Tarrafal em 28 de dezembro de 1942. com 36 anos de idade.

Paulo José Dias

Profissão:
Fogueiro marítimo
Data da morte:
Fogueiro marítimo, libertário, foi preso em 7 de julho de 1939, acusado de relações com a União Geral dos Trabalhadores de Barcelona. Nunca foi julgado, sendo remetido, em 21 de junho de 1940, para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde faleceu, com 39 anos de idade, a 13 de janeiro de 1943.