As tropas coloniais lançaram, em 15 janeiro de 1964, a "Operação Tridente", com o objetivo de pôr termo à ocupação pelo PAIGC das ilhas de Como, Caiar e Catungo e criar uma plataforma estratégica indispensável à reconquista e controlo do Sul já libertado
Essa operação de grande envergadura envolveu mais de 2 000 efetivos e meios militares substanciais, designadamente:
- Bombardeamentos a partir de uma base em Catió;
- Bombardeamentos aéreos;
- Bombardeamentos navais, designadamente com a fragata NRP Nuno Tristão;
- Desembarque de forças diversas:
- Companhia de Cavalaria Nº 487
- Companhia de Cavalaria Nº 488
- Companhia de Cavalaria Nº 489
- Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 1
- Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 2
- Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 8
- 1 Pelotão de Caçadores Páraquedistas
- 1 Grupo de Comandos
- 1 Pelotão de Morteiros do Batalhão de Caçadores Nº 600
- 1 Pelotão de artilharia de 88 mm
- A intervenção da Marinha, por seu lado, envolveu ainda Lanchas de Fiscalização e de Desembarque da Esquadrilha de Lanchas da Guiné;
- No que respeita à Força Aérea, foram utilizados, em especial:
- Aviões F-86 Sabre, caça-bombardeiros da Base Aérea de Bissau
- Aviões T-6 Harvard, em apoio táctico permanente
- 1 Dornier DO-27
- Vários P2V5 Neptune de luta anti-submarina, da base do Montijo (para bombardeamento nocturno)
- 1 Avião de transporte de carga Douglas C-47
- Diversos helicópteros Alouette II
- E, como é evidente, toda esta operação recorreu também a "carregadores" e "guias indígenas".
Dois factos principais caracterizam e sintetizam pelos seus conteúdos e consequências, o desenvolvimento da nossa luta de libertação nacional — da actividade da nossa organização combatente — em 1964: a batalha de Como e o Primeiro Congresso do Partido realizado no mês de Fevereiro numa das regiões libertadas no sul do país.
A coincidência no tempo e a proximidade geográfica destes dois factos, (realizámos o congresso do Partido de 13 a 17 de Fevereiro de 1964, no momento preciso em que a batalha de Como atingia o seu ponto culminante a cerca de quinze quilómetros desta ilha costeira), constituem a prova incontestada da interdependência dinâmica dos dois aspectos fundamentais da nossa luta: a acção armada e a acção política. Isso demonstra igualmente os sucessos e progressos já realizados pelo nosso combate libertador no começo do ano de 1964, quer dizer um ano após o desencadear da luta armada.
Nestes termos gerais caracterizou a situação Amílcar Cabral no Relatório sobre o desenvolvimento da Luta de Libertação Nacional na Guiné e Ilhas de Cabo Verde em 1964.
A Batalha de Como (ou Komo) prolongou-se até 24 de março de 1964, ou seja, durou 71 dias - sem dúvida, o mais longo combate de toda a guerra colonial.
Apesar do imenso dispositivo militar usado pelo governo colonial e das enormes baixas causadas na população civil, designadamente com os bombardeamentos permanentes (aéreos e navais), o certo é que os guerrilheiros resistiram e nunca abandonaram definitivamente aquelas ilhas, conhecendo embora recuos táticos necessários.
E, quando a tropa colonial dali saíu, lá estavam os combatentes, com o apoio das populações.
Por outro lado, a batalha levou o PAIGC a reorientar também o estabelecimentos de algumas das suas bases fundamentais, deslocando-as para outras regiões do Sul.
Muito mais do que para os colonialistas portugueses, a batalha de Como foi um teste para nós mesmos. De facto, permitiu-nos tomar consciência da nossa própria força, da capacidade de resistência dos nossos combatentes e do nosso povo face às condições de luta mais difíceis, da fraqueza moral — portanto militar — do inimigo, da consciência política e da firme determinação da população civil (homens, mulheres e crianças) das regiões libertadas — a partir de agora definitivamente libertadas — de não mais caírem sob o domínio português.
Amílcar Cabral, Relatório citado