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Escola-Piloto

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Criada em 1964 pelo PAIGC, na sequência das decisões do Congresso de Cassacá, para apoiar os filhos dos combatentes e os órfãos de guerra, a Escola-Piloto, instalada em Conacri, viria a ser dirigida, a partir de 1969, por Lilica Boal, que fugira de Portugal com seu marido, Manuel Boal, integrados no grande êxodo de estudantes africanos, em junho de 1961. Funcionando em regime de internato, a Escola-Piloto permitiu assegurar a educação de crianças e jovens, garantindo o seu futuro. Como dizia Cabral,

"Se eu pudesse, fazia uma luta só com livros, sem armas"

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Na Escola-Piloto - que funcionava até à sexta classe - ensinava-se o português, mais tarde o francês e o inglês, geografia e a história da Guiné e de Cabo Verde. Muitos desses estudantes puderam prosseguir as suas aprendizagens em Cuba, em França, na ex-União Soviética, na Suécia, na ex-RDA ou na Checoslováquia, mediante a atribuição de bolsas de estudo.

Em apenas dez anos, o PAIGC formou mais quadros que o regime colonial em 500 anos.

Mas a verdade também é que "na Escola-Piloto precisávamos de estar preparados para tudo, por isso, tínhamos aulas para aprender a manejar armas."

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O projeto educativo desenvolvido pelo PAIGC combatia a educação colonialista, “que perpetuava uma estrutura social hierarquizada, assente no privilégio de ser branco e europeu, da qual se excluíam as camadas mais desfavorecidas da sociedade, neste caso, os africanos” e pretendia “resgatar traços identitários da cultura guineense e caboverdiana, oferecendo aos seus alunos materiais que os [validassem] como cidadãos.” (Escolas-Piloto do PAIGC, de Ana Lúcia da Silva Reis)

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O PAIGC formou ainda numerosas outras escolas, quer nas regiões libertadas, quer, por exemplo, em Teranga, no Senegal, essencialmente destinada a acolher crianças guineenses que se tinham refugiado naquele país.

O modelo da Escola-Piloto guiou todas essas iniciativas, assegurando uma formação equilibrada a todos os estudantes. Foi também criado, mais tarde, um jardim infantil.

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Lilica Boal (de seu nome Maria da Luz Freire de Andrade), nasceu no Tarrafal de Santiago, em Cabo Verde, dedicando a sua vida à luta contra o colonialismo e pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Participou ativamente na elaboração dos livros de leitura que vieram a ser impressos na Suécia e distribuídos a milhares de jovens na Escola-Piloto e nas regiões libertadas da Guiné. Após a independências da Guiné de Cabo Verde, foi a primeira mulher deputada cabo-verdiana e uma das fundadoras da Organização das Mulheres de Cabo Verde.

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Como Lilica Boal declarou numa entrevista, o maior drama da luta e da nossa vida "foi a morte de Cabral, assassinado em Conacri, a 20 de janeiro de 1973. Tínhamos uma receção nesse dia na Escola-Piloto de uma delegação de Moçambique e estávamos a preparar os alunos, a organizar a Escola e a ensaiar as canções." Lilica tinha-se dirigido ao Secretariado do PAIGC pedir sugestões a Amílcar Cabral mas ele não tinha podido ir à receção. Foi já durante a noite que a avisaram.